Enfisema Pulmonar no SUS: Diagnóstico, Tratamento Gratuito e Reabilitação

Entenda o que é enfisema pulmonar, uma forma de DPOC. Descubra como o SUS oferece diagnóstico, medicamentos (incluindo os da Farmácia Popular) e reabilitação pulmonar para melhorar sua qualidade de vida.

5/13/20259 min read

Enfisema Pulmonar: Tratamento e Reabilitação pelo SUS

O enfisema pulmonar é uma doença crônica e progressiva que afeta os pulmões, caracterizada pela destruição dos alvéolos – pequenas bolsas de ar onde ocorrem as trocas gasosas. Essa destruição dificulta a expiração do ar, levando à sensação de falta de ar, tosse crônica e limitação nas atividades diárias. O enfisema é uma das principais condições que compõem a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), sendo o tabagismo a sua causa mais comum.

Embora não haja cura para o enfisema, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece uma gama completa de serviços para o diagnóstico, tratamento e reabilitação dos pacientes, visando aliviar os sintomas, retardar a progressão da doença, prevenir complicações e melhorar significativamente a qualidade de vida. O acesso a medicamentos gratuitos, programas de cessação do tabagismo e reabilitação pulmonar são pilares fundamentais do cuidado oferecido pelo SUS.

Neste artigo, vamos detalhar o que é o enfisema pulmonar, seus principais sintomas e causas, como o SUS realiza o diagnóstico, quais são as opções de tratamento medicamentoso (incluindo os disponíveis gratuitamente pelo programa Farmácia Popular) e não medicamentoso, com destaque para a importância da reabilitação pulmonar, e como você pode acessar esses cuidados através da rede pública de saúde.

O que é Enfisema Pulmonar?

O enfisema pulmonar é uma doença que danifica permanentemente os alvéolos pulmonares. Os alvéolos são minúsculos sacos de ar agrupados como cachos de uva no final das vias aéreas (bronquíolos). Em um pulmão saudável, os alvéolos são elásticos e se expandem e contraem facilmente durante a respiração. No enfisema, as paredes internas dos alvéolos enfraquecem e se rompem, criando espaços de ar maiores em vez de muitos pequenos. Isso reduz a área de superfície dos pulmões disponível para a troca de oxigênio e dióxido de carbono.

Com a destruição alveolar, o ar fica aprisionado nesses espaços maiores, tornando a expiração (soltar o ar) mais difícil. Os pulmões perdem sua elasticidade natural, e as vias aéreas menores podem colapsar durante a expiração, dificultando ainda mais a saída do ar. Esse processo leva à hiperinsuflação pulmonar (pulmões excessivamente cheios de ar) e à sensação progressiva de falta de ar.

O enfisema é uma das duas principais condições que formam a DPOC, sendo a outra a bronquite crônica (inflamação e estreitamento dos brônquios com produção excessiva de muco). Muitos pacientes com DPOC apresentam características de ambas as condições.

Principais Causas do Enfisema

  • Tabagismo: É a causa predominante, responsável por cerca de 80-90% dos casos de DPOC/enfisema. A fumaça do cigarro contém milhares de substâncias tóxicas que inflamam e danificam progressivamente o tecido pulmonar.

  • Exposição a Poluentes e Irritantes: A exposição prolongada à poluição do ar, fumaça de lenha ou carvão (principalmente em ambientes fechados), poeiras industriais e produtos químicos também pode causar ou agravar o enfisema.

  • Deficiência de Alfa-1 Antitripsina (AAT): É uma causa genética rara de enfisema. A AAT é uma proteína que protege os pulmões contra danos causados por enzimas inflamatórias. Pessoas com deficiência dessa proteína podem desenvolver enfisema precocemente, mesmo sem histórico de tabagismo. O SUS possui protocolos para o diagnóstico e tratamento dessa condição específica.

  • Idade: O risco de desenvolver enfisema aumenta com a idade, embora a doença não seja uma consequência normal do envelhecimento.

Sintomas Comuns do Enfisema Pulmonar

Os sintomas do enfisema geralmente se desenvolvem lentamente ao longo de anos e podem não ser perceptíveis até que um dano pulmonar significativo já tenha ocorrido. Os mais comuns incluem:

  • Falta de Ar (Dispneia): É o sintoma mais característico. Inicialmente, pode ocorrer apenas durante atividades físicas intensas, mas com a progressão da doença, pode surgir mesmo em repouso ou com esforços mínimos, como vestir-se ou tomar banho.

  • Tosse Crônica: Pode ser seca ou com produção de pequena quantidade de muco claro (diferente da bronquite crônica, onde a tosse com catarro é mais proeminente).

  • Chiado no Peito (Sibilância): Um som agudo ao respirar, especialmente durante a expiração.

  • Aperto ou Desconforto no Peito.

  • Cansaço ou Fadiga Excessiva.

  • Perda de Peso Involuntária: Em estágios mais avançados, devido ao esforço respiratório aumentado e à dificuldade de alimentação.

  • Lábios ou Unhas Azuladas (Cianose): Indica baixos níveis de oxigênio no sangue, um sinal de gravidade.

  • Tórax em Barril: Com o tempo, o tórax pode adquirir um formato arredondado devido ao aprisionamento de ar nos pulmões.

  • Infecções Respiratórias Frequentes: Como gripes, resfriados ou pneumonias, que podem ser mais graves e demorar mais para curar.

Diagnóstico do Enfisema Pulmonar pelo SUS

O diagnóstico do enfisema pulmonar no SUS é realizado com base na história clínica do paciente, exame físico e exames complementares, principalmente a espirometria. O processo geralmente ocorre da seguinte forma:

  1. Consulta na UBS: O primeiro passo é procurar a Unidade Básica de Saúde (UBS). O médico da equipe de saúde da família irá coletar informações sobre os sintomas, histórico de tabagismo, exposição a outros irritantes e histórico familiar de doenças pulmonares.

  2. Exame Físico: O médico realizará a ausculta pulmonar para verificar a presença de ruídos anormais e avaliará outros sinais.

  3. Espirometria (Prova de Função Pulmonar): Este é o exame padrão-ouro para o diagnóstico de DPOC/enfisema. Ele mede a quantidade de ar que os pulmões conseguem inspirar e expirar, e a velocidade com que o ar é movimentado. A presença de uma relação VEF1/CVF (Volume Expiratório Forçado no primeiro segundo dividido pela Capacidade Vital Forçada) abaixo de 0,7 após o uso de broncodilatador confirma a obstrução do fluxo aéreo, característica da DPOC. A UBS pode encaminhar o paciente para realizar a espirometria em um serviço especializado ou centro de diagnóstico conveniado ao SUS.

  4. Radiografia de Tórax: Pode ajudar a identificar alterações sugestivas de enfisema (como hiperinsuflação pulmonar, achatamento do diafragma) e a excluir outras condições, como câncer de pulmão ou insuficiência cardíaca.

  5. Tomografia Computadorizada (TC) de Tórax: Pode ser solicitada em casos específicos para avaliar a extensão e o tipo de enfisema com mais detalhes, especialmente se houver dúvida diagnóstica ou suspeita de outras complicações.

  6. Oximetria de Pulso e Gasometria Arterial: Medem os níveis de oxigênio no sangue. A gasometria arterial, um exame de sangue mais preciso, também avalia os níveis de dióxido de carbono e o pH sanguíneo, sendo importante em casos mais graves ou durante exacerbações.

  7. Teste de Deficiência de Alfa-1 Antitripsina: Pode ser considerado em pacientes com enfisema de início precoce (antes dos 45 anos) ou com histórico familiar da deficiência.

Tratamento do Enfisema Pulmonar no SUS

O tratamento do enfisema pulmonar no SUS é multifacetado e visa aliviar os sintomas, retardar a progressão da doença, reduzir a frequência e a gravidade das exacerbações (crises), melhorar a tolerância ao exercício e a qualidade de vida. As principais abordagens incluem:

1. Cessação do Tabagismo

Esta é a intervenção mais crucial e eficaz. Parar de fumar é a única medida que pode realmente diminuir a velocidade de progressão do enfisema. O SUS oferece programas gratuitos de apoio à cessação do tabagismo, que incluem aconselhamento individual ou em grupo e, quando indicado, medicamentos como adesivos de nicotina, goma de mascar de nicotina, bupropiona ou vareniclina. Procure a sua UBS para mais informações.

2. Tratamento Medicamentoso

O SUS disponibiliza gratuitamente diversos medicamentos para o controle do enfisema/DPOC, que podem ser retirados nas farmácias das UBS ou através do programa Farmácia Popular em farmácias conveniadas. A escolha dos medicamentos depende da gravidade dos sintomas e do risco de exacerbações.

  • Broncodilatadores: São a base do tratamento. Eles relaxam os músculos ao redor das vias aéreas, ajudando a abri-las e facilitando a respiração. Podem ser de curta ação (para alívio rápido dos sintomas, como Salbutamol) ou de longa ação (para controle contínuo, como Formoterol, Salmeterol, Tiotrópio, Umeclidínio). Muitos são administrados por meio de dispositivos inalatórios ("bombinhas").

  • Corticoides Inalatórios: Reduzem a inflamação nas vias aéreas. São frequentemente combinados com broncodilatadores de longa ação em um único inalador (ex: Formoterol + Budesonida, Salmeterol + Fluticasona). São indicados para pacientes com sintomas persistentes ou exacerbações frequentes.

  • Combinações Triplas: Recentemente, o SUS incorporou terapias combinadas com três medicamentos em um único dispositivo (corticoide inalatório + dois tipos de broncodilatadores de longa ação) para casos mais graves e com histórico de exacerbações.

  • Antibióticos: Usados apenas durante exacerbações (crises) se houver sinais de infecção bacteriana.

  • Vacinas: A vacinação anual contra a gripe (influenza) e a vacina contra a pneumonia (pneumocócica) são essenciais e gratuitas para pacientes com DPOC/enfisema, pois ajudam a prevenir infecções respiratórias graves.

Farmácia Popular: Muitos dos medicamentos inalatórios essenciais para DPOC/enfisema (broncodilatadores e corticoides) estão disponíveis gratuitamente no programa Farmácia Popular. Para retirá-los, é necessário apresentar receita médica válida, documento de identidade com foto e CPF em uma farmácia credenciada.

3. Reabilitação Pulmonar

A reabilitação pulmonar é um programa multidisciplinar e individualizado que inclui:

  • Exercícios Físicos Supervisionados: Treinamento de força e resistência para membros superiores e inferiores, além de exercícios respiratórios.

  • Educação sobre a Doença: Informações sobre o enfisema, como usar os medicamentos corretamente, técnicas para economizar energia e lidar com a falta de ar.

  • Aconselhamento Nutricional: Manter um peso saudável é importante.

  • Apoio Psicossocial: Para lidar com a ansiedade e a depressão, comuns em pacientes com doenças crônicas.

A reabilitação pulmonar comprovadamente melhora a capacidade de exercício, reduz a sensação de falta de ar, diminui o número de hospitalizações e melhora a qualidade de vida. O SUS oferece programas de reabilitação pulmonar em alguns hospitais e centros especializados. Converse com seu médico na UBS sobre o encaminhamento.

4. Oxigenoterapia Domiciliar

Para pacientes com níveis persistentemente baixos de oxigênio no sangue (hipoxemia crônica grave), o SUS fornece oxigênio suplementar para uso em casa. A oxigenoterapia de longa duração melhora a sobrevida e a qualidade de vida nesses casos. É indicada após avaliação especializada e exames como a gasometria arterial.

5. Tratamento Cirúrgico (em casos selecionados)

Em situações muito específicas, podem ser consideradas opções cirúrgicas, como a cirurgia redutora de volume pulmonar (remove partes do pulmão doente para permitir que as partes mais saudáveis funcionem melhor) ou o transplante de pulmão. São procedimentos complexos, realizados em centros de alta especialização do SUS, para pacientes criteriosamente selecionados.

Como Acessar o Tratamento para Enfisema no SUS

O acesso ao cuidado para enfisema pulmonar no SUS segue um fluxo organizado:

  1. Unidade Básica de Saúde (UBS): É a porta de entrada. Procure o médico da sua equipe de saúde da família para avaliação inicial, diagnóstico e início do tratamento. A UBS também é responsável pelo acompanhamento, fornecimento de receitas, encaminhamento para programas de cessação do tabagismo e vacinação.

  2. Retirada de Medicamentos: Com a receita, os medicamentos podem ser retirados na farmácia da UBS ou em farmácias da rede Farmácia Popular.

  3. Encaminhamento para Especialistas: Se necessário, o médico da UBS encaminhará para um pneumologista em um ambulatório de especialidades ou hospital para exames mais complexos (como espirometria, se não disponível na rede básica), ajuste fino do tratamento ou avaliação para reabilitação pulmonar e oxigenoterapia.

  4. Reabilitação Pulmonar: Solicite informações na UBS ou ao pneumologista sobre os programas disponíveis na sua região.

  5. Atendimento de Urgência (UPAs e Hospitais): Em caso de exacerbações graves (piora súbita e intensa da falta de ar), procure uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) ou o pronto-socorro de um hospital.

Vivendo Melhor com Enfisema Através do SUS

O enfisema pulmonar é uma condição séria, mas com o diagnóstico precoce, a cessação do tabagismo e o tratamento adequado oferecido pelo SUS, é possível controlar os sintomas, retardar a progressão da doença e manter uma boa qualidade de vida. O Sistema Único de Saúde garante acesso a consultas, exames diagnósticos, medicamentos essenciais gratuitos (incluindo os modernos inaladores), programas de reabilitação pulmonar e oxigenoterapia quando indicada.

Se você tem sintomas sugestivos de enfisema, especialmente se é ou foi fumante, não hesite em procurar a UBS. O engajamento no tratamento, a adesão aos medicamentos, a participação em programas de reabilitação e, fundamentalmente, o abandono do cigarro são passos decisivos para respirar melhor e viver mais plenamente. O SUS está ao seu lado nessa jornada.

Referências

1. Ministério da Saúde. Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-brasil/eu-quero-parar-de-fumar/noticias/2022/o-tratamento-da-doenca-obstrutiva-cronica-dpoc-no-sus

2. Ministério da Saúde. Linhas de Cuidado - Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica. Planejamento Terapêutico. Disponível em: https://linhasdecuidado.saude.gov.br/portal/doenca-pulmonar-obstrutiva-cronica/unidade-de-atencao-primaria/planejamento-terapeutico/

3. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT). Diretrizes para Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica.

4. Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD). Global Strategy for the Diagnosis, Management, and Prevention of Chronic Obstructive Pulmonary Disease (2024 Report).

5. Varella, Drauzio. Enfisema Pulmonar. Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/enfisema-pulmonar/