Câncer de Próstata no SUS: Diagnóstico, Tratamento e Como Acessar

O câncer de próstata é o mais comum entre homens. Saiba como o SUS oferece diagnóstico precoce (PSA, toque retal, biópsia) e tratamento completo (cirurgia, radioterapia, hormônios). Entenda o passo a passo para buscar ajuda e seus direitos.

5/7/202511 min read

Câncer de Próstata: Como Tratar pelo SUS - Passo a Passo Completo

O que é Câncer de Próstata?

O câncer de próstata é um tumor maligno que se desenvolve na próstata, uma glândula do tamanho de uma ameixa localizada logo abaixo da bexiga e à frente do reto, presente apenas no corpo masculino. A próstata envolve a parte inicial da uretra (o canal que transporta a urina da bexiga para fora do corpo) e sua principal função é produzir parte do líquido que forma o sêmen (esperma), nutrindo e protegendo os espermatozoides.

Este é o tipo de câncer mais frequente entre os homens no Brasil, excluindo o câncer de pele não melanoma. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), estima-se mais de 65 mil novos casos por ano. Apesar de ser uma doença comum, muitos homens ainda evitam falar sobre o assunto por medo, vergonha ou falta de informação.

Na maioria dos casos, o câncer de próstata cresce lentamente e pode não apresentar sintomas por muitos anos, sem ameaçar a saúde do homem. No entanto, em alguns casos, ele pode crescer rapidamente, espalhar-se para outros órgãos (metástase), como ossos, linfonodos, pulmões e fígado, e levar à morte. Por isso, a detecção precoce e o tratamento adequado são fundamentais.

O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece investigação diagnóstica e tratamento integral e gratuito para o câncer de próstata. Neste guia, vamos detalhar os sintomas, como é feito o diagnóstico, quais tratamentos estão disponíveis no SUS e o passo a passo para acessá-los.

Sinais e Sintomas do Câncer de Próstata

Na fase inicial, o câncer de próstata geralmente não apresenta sintomas. Quando os sintomas começam a aparecer, a doença já pode estar em uma fase mais avançada. Os sintomas mais comuns incluem:

  • Dificuldade para urinar: Demora para começar e terminar de urinar, jato urinário fraco ou interrompido;

  • Necessidade de urinar mais vezes: Principalmente durante a noite (noctúria);

  • Dor ou ardor ao urinar;

  • Presença de sangue na urina (hematúria) ou no sêmen;

  • Dor ao ejacular.

Em fases mais avançadas, quando o câncer se espalhou para outros órgãos (metástase), podem surgir outros sintomas, como:

  • Dor óssea: Principalmente na região lombar, bacia ou costelas;

  • Inchaço nas pernas;

  • Fraqueza ou dormência nos membros inferiores;

  • Perda de peso inexplicada;

  • Anemia e cansaço.

Importante: Muitos desses sintomas urinários também podem ser causados por condições benignas (não cancerosas) da próstata, como a Hiperplasia Prostática Benigna (HPB), que é o aumento natural da próstata com a idade, ou a prostatite (inflamação da próstata). Por isso, ao apresentar qualquer um desses sinais, é fundamental procurar um médico na Unidade Básica de Saúde (UBS) ou um urologista para investigar a causa corretamente.

Fatores de Risco para o Câncer de Próstata

Embora a causa exata do câncer de próstata não seja totalmente conhecida, alguns fatores aumentam o risco de um homem desenvolver a doença:

  • Idade: O risco aumenta significativamente com o avançar da idade. A maioria dos casos ocorre em homens com mais de 65 anos, sendo raro antes dos 40;

  • Histórico Familiar: Homens cujo pai, irmão ou outro parente próximo teve câncer de próstata antes dos 60 anos têm um risco maior de desenvolver a doença;

  • Raça/Etnia: Homens negros têm um risco maior de desenvolver câncer de próstata e de serem diagnosticados em estágio mais avançado;

  • Obesidade e Sobrepeso: Estudos recentes sugerem que homens com excesso de peso podem ter um risco maior de desenvolver câncer de próstata mais agressivo;

  • Dieta: Uma dieta rica em gorduras (principalmente de origem animal) e pobre em frutas, verduras e legumes pode estar associada a um maior risco.

Ter um ou mais fatores de risco não significa que o homem terá câncer de próstata, mas indica uma maior probabilidade. Converse com seu médico sobre seus fatores de risco individuais.

Diagnóstico do Câncer de Próstata no SUS

O diagnóstico do câncer de próstata envolve uma combinação de exames clínicos e laboratoriais. A confirmação definitiva só é feita através da biópsia.

Rastreamento vs. Diagnóstico Precoce

É importante diferenciar rastreamento de diagnóstico precoce. O rastreamento é a realização de exames em homens sem sinais ou sintomas, com o objetivo de encontrar o câncer em fase inicial. O Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomendam o rastreamento organizado para o câncer de próstata, ou seja, não indicam que homens sem sintomas façam os exames de rotina (PSA e toque retal) apenas pela idade.

Isso ocorre porque os exames podem apresentar resultados falso-positivos (indicando câncer quando não há) ou detectar tumores de crescimento muito lento que nunca causariam problemas (sobrediagnóstico), levando a tratamentos desnecessários com potenciais efeitos colaterais (impotência sexual, incontinência urinária).

O que o SUS preconiza é o diagnóstico precoce: a investigação em homens que apresentam sinais ou sintomas sugestivos da doença, ou naqueles que, após discutirem os riscos e benefícios com seu médico, optam por realizar os exames.

Exames para Investigação

Quando há suspeita de câncer de próstata (devido a sintomas ou decisão conjunta médico-paciente), os principais exames realizados no SUS são:

1. Exame de Toque Retal

O médico, usando luva lubrificada, insere o dedo indicador no reto do paciente para palpar a parte posterior e lateral da próstata. Este exame permite avaliar o tamanho, a forma e a textura da glândula, verificando a presença de nódulos (caroços) ou áreas endurecidas suspeitas. É um exame rápido (menos de 1 minuto) e indolor, embora possa causar desconforto.

2. Exame de Sangue PSA (Antígeno Prostático Específico)

O PSA é uma proteína produzida pela próstata. Seus níveis no sangue podem aumentar devido ao câncer, mas também por outras condições benignas, como HPB e prostatite. Portanto, um PSA elevado não significa necessariamente câncer, e um PSA normal não exclui a possibilidade da doença. O exame de sangue para dosagem do PSA está disponível no SUS.

3. Biópsia da Próstata

É o único exame capaz de confirmar o diagnóstico de câncer de próstata. É indicada quando o toque retal está alterado, o PSA está elevado ou há uma combinação de fatores suspeitos. O procedimento é geralmente guiado por ultrassom transretal. Pequenos fragmentos da próstata são retirados com uma agulha fina e enviados para análise microscópica (exame anatomopatológico) por um patologista. A biópsia é realizada em serviços especializados, mediante encaminhamento.

Exames de Estadiamento (Após Confirmação)

Se a biópsia confirmar o câncer, outros exames podem ser necessários para determinar o estágio da doença (se está localizada apenas na próstata ou se espalhou para outros órgãos):

  • Cintilografia Óssea: Para verificar se o câncer atingiu os ossos;

  • Tomografia Computadorizada (TC) ou Ressonância Magnética (RM): Para avaliar a pelve, abdômen e tórax, verificando a extensão do tumor e a presença de metástases em linfonodos ou outros órgãos.

Esses exames de estadiamento são realizados em hospitais ou clínicas especializadas da rede SUS.

Tratamento do Câncer de Próstata pelo SUS

O tratamento do câncer de próstata depende de vários fatores, como o estágio da doença (localizada, localmente avançada ou metastática), a agressividade do tumor (classificação de Gleason na biópsia), a idade do paciente, suas condições gerais de saúde e suas preferências. O SUS oferece diversas modalidades de tratamento, de forma integral e gratuita.

1. Vigilância Ativa

Para tumores de baixo risco, localizados e de crescimento lento, especialmente em homens mais velhos ou com outras doenças graves, a vigilância ativa pode ser uma opção. Consiste em monitorar de perto a evolução do câncer com exames de PSA, toque retal e biópsias periódicas, sem iniciar um tratamento imediato. O tratamento só é iniciado se houver sinais de progressão da doença. O objetivo é evitar os efeitos colaterais de tratamentos que podem não ser necessários.

2. Cirurgia (Prostatectomia Radical)

É a remoção cirúrgica de toda a próstata, das vesículas seminais e, às vezes, dos linfonodos pélvicos. É uma opção curativa para o câncer localizado ou localmente avançado. Pode ser realizada por via aberta, laparoscópica ou robótica (esta última ainda com disponibilidade limitada no SUS). Os principais riscos da cirurgia são a incontinência urinária e a disfunção erétil (impotência sexual), que podem ser temporárias ou permanentes.

3. Radioterapia

Utiliza radiação de alta energia para destruir as células cancerígenas. Pode ser usada como tratamento principal para o câncer localizado (alternativa à cirurgia), após a cirurgia (adjuvante, para eliminar células restantes) ou para aliviar sintomas em casos de metástases (paliativa, especialmente para dor óssea).

  • Radioterapia Externa: A radiação é emitida por uma máquina fora do corpo, direcionada para a próstata.

  • Braquiterapia: Pequenas sementes radioativas são implantadas diretamente na próstata (menos comum).

Os efeitos colaterais podem incluir problemas urinários, intestinais e disfunção erétil.

4. Terapia Hormonal (Hormonioterapia)

O câncer de próstata geralmente precisa de hormônios masculinos (andrógenos, como a testosterona) para crescer. A terapia hormonal visa bloquear a produção ou a ação desses hormônios. É o principal tratamento para o câncer de próstata avançado ou metastático, mas também pode ser usada em combinação com a radioterapia em casos de alto risco.

  • Orquiectomia: Remoção cirúrgica dos testículos (principal fonte de testosterona);

  • Análogos do LHRH: Medicamentos injetáveis (ex: Goserelina, Leuprorrelina) que bloqueiam a produção de testosterona pelos testículos. Disponíveis no SUS;

  • Antiandrogênicos: Medicamentos orais (ex: Bicalutamida, Flutamida) que bloqueiam a ação da testosterona nas células cancerígenas. Disponíveis no SUS;

  • Novos Agentes Hormonais: Medicamentos como Abiraterona e Enzalutamida, para casos de câncer resistente à terapia hormonal inicial. O SUS tem incorporado esses medicamentos para indicações específicas.

Os efeitos colaterais da terapia hormonal podem incluir ondas de calor, perda de libido, disfunção erétil, fadiga, perda de massa muscular e óssea.

5. Quimioterapia

Utiliza medicamentos para destruir células cancerígenas que se dividem rapidamente. É indicada principalmente para o câncer de próstata metastático que já não responde à terapia hormonal (resistente à castração). O medicamento mais usado é o Docetaxel, disponível no SUS.

6. Tratamento de Metástases Ósseas

Além da radioterapia paliativa e da terapia hormonal, medicamentos como Bisfosfonatos (ex: Ácido Zoledrônico) ou Denosumabe podem ser usados para fortalecer os ossos, reduzir a dor e prevenir fraturas em pacientes com metástases ósseas. Alguns estão disponíveis no SUS.

Onde Tratar o Câncer de Próstata no SUS

O tratamento oncológico no SUS é realizado em hospitais habilitados como Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON) ou Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (CACON). Esses centros contam com equipes multiprofissionais (urologistas, oncologistas clínicos, radioterapeutas, enfermeiros, etc.) e oferecem todas as modalidades de tratamento necessárias.

Passo a Passo para Acessar o Tratamento de Câncer de Próstata pelo SUS

1. Atenção Primária (UBS)

  • Sintomas ou Fatores de Risco: Se você apresentar sintomas urinários ou tiver fatores de risco importantes, procure a UBS mais próxima. Leve seu Cartão SUS e documento de identidade;

  • Consulta Médica: Converse com o médico sobre seus sintomas e preocupações. Ele fará a avaliação inicial;

  • Exames Iniciais: Se houver suspeita, o médico da UBS pode solicitar o exame de PSA e realizar o toque retal;

  • Encaminhamento: Caso os exames iniciais levantem suspeita de câncer, o médico da UBS fará o encaminhamento para um urologista na Atenção Especializada.

2. Atenção Especializada (Urologista)

  • Consulta com Urologista: O urologista avaliará seu caso, revisará os exames e poderá solicitar exames adicionais;

  • Indicação de Biópsia: Se a suspeita de câncer persistir, o urologista indicará a biópsia da próstata;

  • Agendamento da Biópsia: O procedimento será agendado em um serviço de referência da rede SUS através do sistema de regulação.

3. Confirmação Diagnóstica e Estadiamento

  • Resultado da Biópsia: Após a biópsia, o resultado do exame anatomopatológico confirmará ou descartará o câncer. Se confirmado, indicará o tipo e a agressividade (Gleason);

  • Exames de Estadiamento: Com o diagnóstico confirmado, o urologista ou oncologista solicitará os exames de estadiamento (cintilografia óssea, TC/RM) para verificar a extensão da doença.

4. Definição do Tratamento (UNACON/CACON)

  • Encaminhamento para Centro Oncológico: Com o diagnóstico e estadiamento completos, você será encaminhado para um hospital habilitado em oncologia (UNACON ou CACON);

  • Avaliação Multiprofissional: No centro oncológico, seu caso será discutido por uma equipe de especialistas (urologista, oncologista, radioterapeuta) para definir a melhor estratégia de tratamento para você;

  • Plano Terapêutico: Você receberá um plano de tratamento detalhado, explicando as opções, os objetivos, os possíveis efeitos colaterais e o cronograma.

5. Início do Tratamento

  • Lei dos 60 Dias: A Lei nº 12.732/2012 garante que o paciente com câncer tem direito a iniciar o primeiro tratamento no SUS (cirurgia, radioterapia ou quimioterapia) em até 60 dias após a assinatura do laudo patológico que confirmou a doença;

  • Realização do Tratamento: Você realizará o tratamento proposto (cirurgia, radioterapia, hormonioterapia, etc.) no UNACON/CACON, com acompanhamento regular da equipe.

6. Acompanhamento Pós-Tratamento

  • Após o término do tratamento inicial, você continuará sendo acompanhado pela equipe oncológica e/ou pelo urologista, com consultas e exames periódicos (PSA, etc.) para monitorar a resposta ao tratamento e detectar precocemente qualquer sinal de retorno da doença (recidiva).

Prevenção do Câncer de Próstata

Embora não seja possível prevenir todos os casos de câncer de próstata, algumas medidas relacionadas ao estilo de vida podem ajudar a reduzir o risco:

  • Manter uma Alimentação Saudável: Dieta rica em frutas, verduras, legumes, grãos integrais e com menos gordura, principalmente de origem animal;

  • Praticar Atividade Física Regular: Pelo menos 30 minutos diários;

  • Manter o Peso Corporal Adequado: Evitar o sobrepeso e a obesidade;

  • Não Fumar;

  • Evitar o Consumo Excessivo de Bebidas Alcoólicas.

Esses hábitos saudáveis ajudam a diminuir o risco não apenas do câncer de próstata, mas de diversas outras doenças crônicas.

Direitos dos Pacientes com Câncer de Próstata

Pacientes com câncer de próstata têm diversos direitos garantidos por lei no Brasil, incluindo:

  • Direito ao tratamento completo e gratuito pelo SUS;

  • Direito ao início do tratamento em até 60 dias após o diagnóstico (Lei nº 12.732/2012);

  • Auxílio-doença, Aposentadoria por Invalidez ou BPC/LOAS (conforme o caso e a incapacidade gerada);

  • Isenção de Imposto de Renda sobre aposentadoria/pensão;

  • Saque do FGTS e PIS/PASEP;

  • Quitação de financiamento imobiliário (dependendo do contrato);

  • Isenção de impostos (IPI, ICMS, IPVA) na compra de veículos adaptados (se houver deficiência física decorrente);

  • Transporte gratuito (conforme legislação local).

Informe-se sobre seus direitos com a equipe de serviço social do hospital ou procure a Defensoria Pública.

Conclusão

O câncer de próstata é uma doença significativa para a saúde masculina, mas o diagnóstico precoce e o tratamento adequado oferecem altas chances de cura ou controle da doença. O SUS disponibiliza toda a linha de cuidado, desde a investigação inicial na UBS com exames como PSA e toque retal, passando pela confirmação com biópsia, até os tratamentos especializados em centros oncológicos (cirurgia, radioterapia, hormonioterapia, quimioterapia).

Se você tem mais de 50 anos (ou 45, se for negro ou tiver histórico familiar), converse com seu médico sobre os riscos e benefícios dos exames de investigação. Se apresentar sintomas urinários, procure atendimento médico sem demora. Adotar um estilo de vida saudável é a principal forma de prevenção. Lembre-se: cuidar da saúde também é coisa de homem.

Referências

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