Mamografia Gratuita no SUS: Tudo Sobre o Exame que Salva Vidas

Saiba como funciona a mamografia pelo SUS, quem tem direito ao exame gratuito, como agendar na UBS e a importância da detecção precoce do câncer de mama.

5/7/202511 min read

Mamografia pelo SUS: Guia Completo para Rastreamento do Câncer de Mama

O câncer de mama é o tipo de câncer que mais acomete mulheres no Brasil e no mundo (excetuando-se o câncer de pele não melanoma). A boa notícia é que, quando detectado em fases iniciais, as chances de cura são altíssimas. A principal ferramenta para essa detecção precoce é a mamografia, um exame de imagem que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece gratuitamente para a população feminina dentro das faixas etárias recomendadas.

Entender a importância da mamografia, saber quem deve fazer o exame, com qual frequência e, principalmente, como agendá-lo pelo SUS são passos fundamentais para cuidar da sua saúde e prevenir complicações relacionadas ao câncer de mama. Neste guia completo, vamos detalhar todo o processo, desde a solicitação na Unidade Básica de Saúde (UBS) até a realização do exame e o que fazer com o resultado, garantindo que você tenha todas as informações necessárias para acessar esse direito.

O Que é o Câncer de Mama?

O câncer de mama é uma doença causada pela multiplicação desordenada de células da mama, que formam um tumor. Existem vários tipos de câncer de mama, alguns com desenvolvimento rápido e outros mais lento. A grande maioria dos casos, quando diagnosticada e tratada precocemente, apresenta bom prognóstico e altas chances de cura.

Embora seja mais comum em mulheres, homens também podem ter câncer de mama, mas a incidência é rara (cerca de 1% do total de casos). Fatores de risco incluem idade avançada, histórico familiar da doença, fatores hormonais (menstruação precoce, menopausa tardia, não ter tido filhos ou ter o primeiro filho após os 30 anos, uso de contraceptivos hormonais ou terapia de reposição hormonal), obesidade, sedentarismo e consumo de álcool.

O Que é a Mamografia e Como Funciona?

A mamografia é um exame de imagem, especificamente um raio-X das mamas, capaz de detectar alterações suspeitas, como nódulos ou microcalcificações, muitas vezes antes mesmo que sejam palpáveis ou causem sintomas. É considerado o método mais eficaz para o rastreamento do câncer de mama na população feminina.

Durante o exame, a mama é posicionada em um aparelho chamado mamógrafo e comprimida por alguns segundos entre duas placas. Essa compressão é necessária para espalhar o tecido mamário, reduzir a dose de radiação utilizada e obter imagens de melhor qualidade. São feitas imagens em diferentes posições (geralmente de cima para baixo e oblíqua/lateral) de cada mama.

Por Que a Detecção Precoce do Câncer de Mama é Tão Importante?

Detectar o câncer de mama em seus estágios iniciais traz inúmeros benefícios:

  • Maiores Chances de Cura: Tumores menores e que ainda não se espalharam para outros órgãos (metástases) têm taxas de cura que podem ultrapassar 95%.

  • Tratamentos Menos Agressivos: O diagnóstico precoce frequentemente permite tratamentos menos invasivos, como cirurgias conservadoras (que preservam parte da mama) em vez de mastectomias (retirada total da mama), e pode reduzir a necessidade de quimioterapia.

  • Melhor Qualidade de Vida: Tratamentos menos agressivos geralmente resultam em menos efeitos colaterais e uma recuperação mais rápida, impactando positivamente a qualidade de vida da paciente.

  • Redução da Mortalidade: O rastreamento organizado com mamografia comprovadamente reduz a mortalidade por câncer de mama na população-alvo.

Por isso, a realização regular da mamografia de rastreamento na faixa etária recomendada é uma estratégia de saúde pública fundamental.

Quem Deve Fazer a Mamografia pelo SUS e Com Qual Frequência?

As recomendações do Ministério da Saúde e do Instituto Nacional de Câncer (INCA) para a mamografia no SUS se baseiam em evidências científicas sobre os benefícios e riscos do rastreamento em diferentes faixas etárias. Existem duas situações principais:

1. Mamografia de Rastreamento

É a mamografia realizada em mulheres sem sinais ou sintomas de câncer de mama, com o objetivo de detectar a doença em sua fase inicial. A recomendação oficial do Ministério da Saúde no Brasil é:

  • População-alvo: Mulheres de 50 a 69 anos de idade.

  • Periodicidade: A cada dois anos.

Por que essa faixa etária e periodicidade? Estudos demonstram que o rastreamento bienal (a cada dois anos) com mamografia em mulheres de 50 a 69 anos é a estratégia que apresenta o melhor equilíbrio entre benefícios (redução da mortalidade por câncer de mama) e riscos (como resultados falso-positivos, que geram ansiedade e necessidade de exames adicionais, e sobrediagnóstico/sobretratamento de tumores que talvez nunca causassem problemas).

O SUS foca seus esforços de rastreamento organizado (com busca ativa das mulheres na faixa etária) nesse grupo. No entanto, o rastreamento oportunístico (quando a mulher aproveita uma consulta por outro motivo para solicitar o exame) também ocorre.

Debate sobre a idade de início e frequência: Existe um debate na comunidade médica sobre a idade ideal para iniciar o rastreamento e a frequência. Algumas sociedades médicas recomendam iniciar aos 40 anos e realizar anualmente. No entanto, a recomendação oficial do SUS, baseada em análises de custo-efetividade e impacto na saúde pública brasileira, mantém o início aos 50 anos e a frequência bienal para o rastreamento populacional. Projetos de lei que propõem a redução da idade para 40 anos no SUS estão em discussão no Congresso Nacional, mas ainda não foram aprovados como lei vigente.

2. Mamografia Diagnóstica

É a mamografia realizada quando há sinais ou sintomas suspeitos de câncer de mama, independentemente da idade, ou para investigar alterações encontradas em um exame de rastreamento anterior. Os sinais e sintomas que indicam a necessidade de uma mamografia diagnóstica incluem:

  • Nódulo (caroço) palpável na mama ou axila

  • Alterações na pele da mama (vermelhidão, retração, aspecto de casca de laranja)

  • Alterações no mamilo (retração, secreção sanguinolenta ou transparente)

  • Dor persistente em uma parte da mama

  • Aumento de tamanho de uma das mamas

A mamografia diagnóstica pode ser solicitada por um médico em qualquer idade, tanto para mulheres quanto para homens (embora raro), sempre que houver suspeita clínica. Ela geralmente envolve mais imagens e incidências específicas do que a mamografia de rastreamento.

3. Mulheres com Risco Elevado para Câncer de Mama

Mulheres consideradas de alto risco para desenvolver câncer de mama podem necessitar de um acompanhamento diferenciado, que pode incluir o início mais cedo da mamografia (antes dos 50 anos) e/ou a complementação com outros exames, como a ressonância magnética das mamas. O risco elevado está associado a fatores como:

  • Histórico familiar forte (parentes de primeiro grau, como mãe, irmã ou filha, diagnosticadas com câncer de mama antes dos 50 anos ou câncer de ovário em qualquer idade)

  • Histórico familiar de câncer de mama masculino

  • Diagnóstico confirmado de mutações genéticas associadas ao câncer de mama (ex: BRCA1, BRCA2)

  • Histórico pessoal de radioterapia no tórax antes dos 30 anos

Nesses casos, a conduta (idade de início, frequência e tipo de exame) deve ser individualizada e definida pelo médico, após avaliação detalhada do risco. O acompanhamento geralmente começa 10 anos antes da idade em que o parente mais jovem foi diagnosticado, mas não antes dos 30 anos.

Como Agendar e Realizar a Mamografia pelo SUS: Passo a Passo

O processo para realizar a mamografia pelo SUS pode variar um pouco dependendo da organização do sistema de saúde em cada município, mas geralmente segue os seguintes passos:

  1. Procure a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima: O primeiro passo é buscar atendimento na UBS ou Estratégia Saúde da Família (ESF) da sua região. Se você não souber qual é a sua unidade de referência, consulte o site da Secretaria Municipal de Saúde ou ligue para o Disque Saúde (136).

  2. Cadastre-se na UBS: Se ainda não for cadastrada, leve seus documentos pessoais (RG, CPF, comprovante de residência) e, se tiver, o Cartão Nacional de Saúde (CNS).

  3. Consulta com profissional de saúde: Agende uma consulta com médico(a) ou enfermeiro(a) da equipe. Durante a consulta:

    • Se você estiver na faixa etária de rastreamento (50 a 69 anos) e sem sintomas, o profissional poderá solicitar a mamografia de rastreamento.

    • Se você apresentar sintomas ou alterações nas mamas, o profissional realizará o exame clínico das mamas e poderá solicitar a mamografia diagnóstica, independentemente da sua idade.

    • Se você tiver histórico familiar de câncer de mama, o profissional avaliará seu risco e poderá encaminhá-la para um especialista ou solicitar a mamografia conforme a avaliação individualizada.

  4. Receba a solicitação do exame: Após a avaliação, você receberá a solicitação da mamografia. Guarde esse documento com cuidado, pois ele será necessário para o agendamento.

  5. Agendamento do exame: Com a solicitação em mãos, o agendamento pode ocorrer de diferentes formas, dependendo da organização do município:

    • Na própria UBS: Em alguns locais, o agendamento é feito diretamente na UBS, que encaminha a solicitação para a central de regulação e depois informa a data e local do exame.

    • Central de Agendamento: Em outros municípios, você pode ser orientada a ir pessoalmente a uma central de agendamento ou ligar para um número específico.

    • Agendamento online: Algumas cidades já oferecem sistemas de agendamento online ou aplicativos.

    • Programas especiais: Alguns estados têm programas específicos para facilitar o acesso à mamografia, como o "Mulheres de Peito" em São Paulo, que permite que mulheres na faixa etária de rastreamento agendem o exame diretamente por telefone, sem necessidade de pedido médico.

  6. Prepare-se para o exame: No dia do exame, leve:

    • Documento de identidade com foto

    • Cartão do SUS (se tiver)

    • Pedido médico da mamografia

    • Mamografias anteriores (se tiver)

    Recomendações para o dia do exame:

    • Não use desodorante, talco, creme ou perfume nas axilas ou mamas, pois podem aparecer como manchas na imagem.

    • Use roupas confortáveis e de fácil remoção na parte superior.

    • Se suas mamas são sensíveis, evite fazer o exame na semana anterior à menstruação.

  7. Realização do exame: No dia e horário marcados, compareça ao serviço de saúde indicado. O exame é realizado por um técnico em radiologia e dura cerca de 15 a 30 minutos. Durante o procedimento:

    • Você ficará em pé em frente ao mamógrafo.

    • Será solicitado que você remova a parte superior da roupa e qualquer acessório (como colares).

    • Cada mama será posicionada sobre uma plataforma e comprimida por alguns segundos entre duas placas para obter as imagens.

    • A compressão pode causar desconforto momentâneo, mas é essencial para obter imagens de qualidade com menor dose de radiação.

    • Serão feitas geralmente duas imagens de cada mama, em diferentes posições.

  8. Recebimento do resultado: O prazo para receber o resultado varia conforme a região, mas geralmente leva de 7 a 30 dias. Você pode ser orientada a:

    • Retornar ao local onde realizou o exame para buscar o resultado.

    • Buscar o resultado na UBS.

    • Acessar o resultado online, em sistemas que disponibilizam essa opção.

  9. Consulta de retorno: É fundamental levar o resultado para avaliação do profissional de saúde, mesmo que o laudo indique normalidade. O médico ou enfermeiro irá:

    • Explicar o resultado.

    • Realizar o exame clínico das mamas.

    • Orientar sobre a periodicidade do próximo exame.

    • Encaminhar para especialista, se necessário.

O Que Acontece se o Resultado da Mamografia Estiver Alterado?

Se a mamografia apresentar alguma alteração suspeita, não entre em pânico. A maioria das alterações não é câncer, mas precisa ser investigada. Os próximos passos geralmente são:

  1. Exames complementares: Dependendo do tipo de alteração encontrada, podem ser solicitados:

    • Ultrassonografia das mamas: Ajuda a diferenciar lesões sólidas de císticas e a caracterizar melhor as alterações.

    • Mamografia com magnificação ou compressão localizada: Imagens adicionais focadas na área suspeita.

    • Ressonância magnética das mamas: Em casos específicos, para melhor avaliação.

  2. Encaminhamento para serviço especializado: Você será encaminhada para um serviço de mastologia ou para um UNACON/CACON (Unidade/Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia) para avaliação por especialista.

  3. Biópsia (se necessário): Se após os exames de imagem ainda houver suspeita, será realizada uma biópsia para retirar uma pequena amostra de tecido e analisá-la em laboratório. Existem diferentes tipos de biópsia (por agulha fina, por agulha grossa, cirúrgica), e o médico indicará a mais adequada para o seu caso.

  4. Diagnóstico definitivo e plano de tratamento: Com base no resultado da biópsia, será definido se a alteração é benigna ou maligna. Em caso de câncer, será elaborado um plano de tratamento individualizado.

Todo esse processo de investigação é coberto pelo SUS, desde os exames complementares até o tratamento, se necessário.

Perguntas Frequentes sobre Mamografia no SUS

1. A mamografia dói?

A compressão da mama durante o exame pode causar desconforto ou dor momentânea, mas é rápida (dura apenas alguns segundos para cada imagem) e essencial para obter imagens de qualidade. A intensidade do desconforto varia de pessoa para pessoa. Agendar o exame fora do período pré-menstrual, quando as mamas estão menos sensíveis, pode ajudar a reduzir o desconforto.

2. Mulheres com próteses mamárias podem fazer mamografia?

Sim, mulheres com próteses mamárias podem e devem fazer mamografia. É importante informar ao técnico sobre a presença das próteses antes do exame. Serão realizadas imagens adicionais com técnicas específicas para visualizar o máximo possível do tecido mamário ao redor das próteses.

3. Mulheres que já fizeram mastectomia (retirada da mama) precisam fazer mamografia?

Mulheres que fizeram mastectomia unilateral (de uma mama) devem continuar fazendo mamografia na mama remanescente. Mulheres com mastectomia bilateral (das duas mamas) geralmente não precisam fazer mamografia de rotina, mas devem manter o acompanhamento médico regular.

4. Homens podem fazer mamografia pelo SUS?

Sim, homens com sintomas ou alterações suspeitas nas mamas podem realizar mamografia diagnóstica pelo SUS, mediante solicitação médica. Embora o câncer de mama masculino seja raro (cerca de 1% dos casos), ele existe e o diagnóstico precoce também é importante.

5. Qual a diferença entre mamografia analógica e digital?

A mamografia analógica utiliza filme radiográfico para capturar as imagens, enquanto a digital utiliza detectores eletrônicos e armazena as imagens em computador. A digital permite melhor visualização, especialmente em mamas densas, possibilita ajustes na imagem após a aquisição e utiliza doses menores de radiação. O SUS oferece ambos os tipos, dependendo da disponibilidade em cada região, mas tem investido na ampliação do acesso à mamografia digital.

6. A radiação da mamografia é perigosa?

A dose de radiação utilizada na mamografia é muito baixa e considerada segura. Os benefícios da detecção precoce do câncer de mama superam em muito os riscos teóricos da exposição à radiação durante o exame, especialmente na faixa etária recomendada (50-69 anos).

Conclusão: A Importância da Mamografia Regular

A mamografia é uma ferramenta fundamental na detecção precoce do câncer de mama, aumentando significativamente as chances de cura e permitindo tratamentos menos agressivos. O SUS oferece esse exame gratuitamente, garantindo o acesso a toda população brasileira.

Se você está na faixa etária de rastreamento (50 a 69 anos), não deixe de realizar sua mamografia a cada dois anos, mesmo que não tenha sintomas. Se você tem menos de 50 anos, mas apresenta fatores de risco ou sintomas, converse com seu médico sobre a necessidade e frequência do exame.

Lembre-se: o autocuidado e a atenção aos sinais do seu corpo são essenciais, mas a mamografia pode detectar alterações muito pequenas, antes mesmo que sejam palpáveis. Aproveite esse direito oferecido pelo SUS e cuide da sua saúde!

Referências

1. Ministério da Saúde. Rastreamento - APS - Câncer de mama. Disponível em: https://linhasdecuidado.saude.gov.br/portal/cancer-de-mama/unidade-de-atencao-primaria/rastreamento-diagnostico/

2. Instituto Nacional de Câncer (INCA). Mamografias no SUS. Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/gestor-e-profissional-de-saude/controle-do-cancer-de-mama/dados-e-numeros/mamografias-no-sus

3. Instituto Nacional de Câncer (INCA). Detecção precoce do câncer de mama. Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/gestor-e-profissional-de-saude/controle-do-cancer-de-mama/acoes/deteccao-precoce

4. Ministério da Saúde. Diretrizes para a Detecção Precoce do Câncer de Mama no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2015.

5. Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Saúde da Mulher. Disponível em: https://www.saude.mg.gov.br/termos-de-uso/page/1956-saude-da-mulher-2023