Câncer de Colo de Útero: Como Prevenir com Exames Gratuitos do SUS (Papanicolau e DNA-HPV)
Guia completo sobre a prevenção do câncer cervical no SUS. Entenda o Papanicolau, o novo teste DNA-HPV, a vacina contra HPV e como acessar esses serviços gratuitamente.
5/8/202511 min read


Prevenção do Câncer de Colo de Útero: Papanicolau e Teste DNA-HPV no SUS
O câncer de colo do útero, também chamado de câncer cervical, é uma doença grave, mas que pode ser prevenida e tem altas chances de cura quando detectada precocemente. No Brasil, ele ainda representa um importante problema de saúde pública, sendo um dos tipos de câncer mais comuns entre as mulheres. Felizmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece gratuitamente as principais ferramentas para a prevenção e detecção precoce: a vacinação contra o HPV e os exames de rastreamento, como o conhecido Papanicolau e, mais recentemente, o moderno teste de DNA-HPV.
Entender como essa prevenção funciona, quais exames estão disponíveis, quem deve fazê-los e como acessá-los pelo SUS é fundamental para proteger sua saúde. Neste guia completo, vamos abordar tudo o que você precisa saber sobre a prevenção do câncer de colo do útero, desde a importância da vacina contra o HPV até os detalhes sobre os exames Papanicolau e o novo teste DNA-HPV, incluindo o passo a passo para realizar esses procedimentos gratuitamente na rede pública de saúde.
O Que é o Câncer de Colo do Útero e Qual a sua Causa?
O câncer de colo do útero é um tumor que se desenvolve na parte inferior do útero, que se conecta à vagina. Ele geralmente cresce lentamente, começando com alterações pré-cancerosas nas células do colo do útero, chamadas de lesões precursoras. Se essas lesões não forem detectadas e tratadas, podem evoluir para câncer ao longo de vários anos (geralmente 10 a 20 anos).
A principal causa do câncer de colo do útero é a infecção persistente por alguns tipos do Papilomavírus Humano (HPV). O HPV é um vírus muito comum, transmitido principalmente por via sexual (contato pele com pele ou mucosas). Estima-se que a maioria das pessoas sexualmente ativas entrará em contato com o HPV em algum momento da vida, mas na maioria dos casos, o próprio sistema imunológico elimina o vírus sem causar problemas.
No entanto, em alguns casos, a infecção por tipos de HPV de alto risco (oncogênicos), especialmente os tipos 16 e 18 (responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer cervical), pode persistir e levar ao desenvolvimento das lesões precursoras e, posteriormente, ao câncer. Outros fatores podem aumentar o risco de desenvolvimento da doença em mulheres com infecção persistente por HPV, como:
Início precoce da atividade sexual
Múltiplos parceiros sexuais (ou parceiros com múltiplas parceiras)
Tabagismo (fumar aumenta o risco)
Uso prolongado de pílulas anticoncepcionais (o risco diminui após a parada)
Sistema imunológico enfraquecido (por HIV/AIDS, uso de medicamentos imunossupressores, etc.)
Histórico de outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs)
A boa notícia é que, por ter uma causa bem definida (infecção por HPV) e uma evolução lenta, o câncer de colo do útero é altamente prevenível através da vacinação contra o HPV e do rastreamento regular com exames específicos.
Prevenção Primária: A Vacina Contra o HPV
A forma mais eficaz de prevenção primária contra o câncer de colo do útero (e outros cânceres relacionados ao HPV, como de vulva, vagina, ânus, pênis e orofaringe) é a vacinação contra o HPV. O SUS oferece gratuitamente a vacina quadrivalente, que protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18 do HPV.
Tipos 16 e 18: Principais causadores do câncer de colo do útero.
Tipos 6 e 11: Principais causadores de verrugas genitais (condilomas).
Quem pode receber a vacina gratuitamente no SUS?
Meninas e Meninos de 9 a 14 anos: O esquema padrão é de duas doses, com intervalo de 6 meses entre elas. A vacinação nessa faixa etária, antes do início da vida sexual, oferece maior proteção.
Pessoas imunossuprimidas (vivendo com HIV/AIDS, transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea, pacientes oncológicos) de 9 a 45 anos (homens e mulheres): O esquema é de três doses (0, 2 e 6 meses).
Vítimas de violência sexual de 9 a 45 anos (homens e mulheres): Esquema de três doses (0, 2 e 6 meses).
A vacina é segura e eficaz. Mesmo quem já iniciou a vida sexual pode se beneficiar da vacinação, pois pode não ter tido contato com todos os tipos de HPV incluídos na vacina. É importante completar o esquema vacinal para garantir a proteção adequada.
Importante: A vacina previne contra os tipos mais comuns de HPV, mas não contra todos. Por isso, mesmo as mulheres vacinadas devem continuar realizando os exames preventivos (Papanicolau ou teste DNA-HPV) conforme a recomendação para sua faixa etária.
Prevenção Secundária: Rastreamento com Exames (Papanicolau e Teste DNA-HPV)
A prevenção secundária visa detectar as lesões precursoras do câncer ou o câncer em estágio inicial, quando as chances de cura são muito altas. O SUS oferece exames de rastreamento gratuitos:
1. Exame Citopatológico (Papanicolau)
O Papanicolau, também conhecido como exame preventivo ou citologia oncótica, é o método tradicional de rastreamento utilizado no Brasil há décadas. Ele busca por alterações nas células do colo do útero que podem indicar a presença de lesões precursoras ou câncer.
Como é feito: Durante o exame ginecológico, o profissional de saúde (médico ou enfermeiro treinado) utiliza um espéculo ("bico de pato") para visualizar o colo do útero e coleta uma amostra de células com uma espátula e uma escovinha. A amostra é colocada em uma lâmina de vidro, fixada e enviada para análise em laboratório.
Quem deve fazer (Recomendação atual): Mulheres de 25 a 64 anos que já tiveram atividade sexual.
Periodicidade (Recomendação atual): Deve ser feito anualmente. Após dois exames anuais consecutivos com resultados normais, pode passar a ser feito a cada 3 anos.
Preparo: Para garantir um resultado confiável, a mulher não deve ter relações sexuais (mesmo com camisinha) nos 2 dias anteriores; não usar duchas vaginais, cremes ou óvulos vaginais nos 2 dias anteriores; e não estar menstruada (idealmente, fazer o exame 5 dias após o término da menstruação).
O que detecta: Alterações celulares sugestivas de lesões pré-cancerosas (NIC - Neoplasia Intraepitelial Cervical) ou câncer. Também pode indicar algumas infecções vaginais.
ATUALIZAÇÃO IMPORTANTE: Transição para o Teste de DNA-HPV no SUS
O Ministério da Saúde anunciou recentemente (em 2024/2025) a incorporação e o início da implementação do teste molecular para detecção do DNA do HPV (Teste DNA-HPV) como método primário de rastreamento do câncer de colo do útero no SUS, substituindo gradualmente o Papanicolau para essa finalidade.
Por que a mudança? O teste DNA-HPV é considerado mais sensível que o Papanicolau, ou seja, ele consegue detectar a presença do vírus HPV de alto risco (a causa principal do câncer) antes mesmo que ele cause alterações visíveis nas células. Isso permite identificar mulheres com maior risco de desenvolver lesões precursoras ou câncer com maior antecedência (até 10 anos antes).
A implementação será progressiva em todo o país. Consulte a sua UBS para saber se o teste DNA-HPV já está disponível na sua região.
2. Teste Molecular de DNA-HPV
Este exame detecta diretamente a presença do material genético (DNA) dos tipos de HPV de alto risco no colo do útero.
Como é feito: A coleta é semelhante à do Papanicolau, com a introdução do espéculo e a coleta de material do colo do útero com uma escovinha. A amostra é colocada em um meio líquido e enviada ao laboratório para análise molecular.
Quem deve fazer (Nova recomendação com o teste DNA-HPV): Mulheres de 25 a 64 anos.
Periodicidade (Nova recomendação com o teste DNA-HPV): A cada 5 anos. Se o resultado for negativo para HPV de alto risco, o risco de desenvolver câncer nos próximos 5 anos é muito baixo.
Preparo: Semelhante ao do Papanicolau (sem relações sexuais, duchas ou cremes vaginais nos 2 dias anteriores, e não estar menstruada).
O que detecta: A presença de infecção por tipos de HPV de alto risco oncogênico.
O que acontece se o resultado for positivo? Se o teste DNA-HPV for positivo, a mulher será encaminhada para realizar um exame de Papanicolau (citologia em meio líquido) com a mesma amostra coletada ou em uma nova coleta. Se o Papanicolau mostrar alterações, ela será encaminhada para colposcopia (exame que visualiza o colo do útero com aumento) e biópsia, se necessário. Se o Papanicolau for normal mesmo com HPV positivo, o acompanhamento será mais frequente (geralmente anual).
A introdução do teste DNA-HPV representa um avanço significativo na prevenção, permitindo um rastreamento mais eficaz e com intervalo maior entre os exames, otimizando os recursos do SUS e facilitando a adesão das mulheres ao programa de prevenção.
Como Acessar a Prevenção e os Exames pelo SUS: Passo a Passo
Acessar a vacina contra o HPV e os exames de rastreamento do câncer de colo do útero pelo SUS é simples. O caminho principal é a Unidade Básica de Saúde (UBS) ou a Estratégia Saúde da Família (ESF) mais próxima da sua casa.
Passo a Passo para Vacinação contra HPV:
Verifique a faixa etária e os grupos prioritários: Confirme se você ou seus filhos se enquadram nos grupos que têm direito à vacina gratuita (meninas e meninos de 9 a 14 anos; pessoas imunossuprimidas ou vítimas de violência sexual de 9 a 45 anos).
Procure a UBS: Leve a caderneta de vacinação (se tiver) e um documento de identidade à UBS mais próxima.
Receba a vacina: A vacina é aplicada na sala de vacinação da UBS. Não é necessário agendamento prévio na maioria dos locais.
Complete o esquema: É fundamental retornar para tomar as doses seguintes nos intervalos corretos (2ª dose 6 meses após a 1ª para o esquema padrão; 2ª dose 2 meses após a 1ª e 3ª dose 6 meses após a 1ª para o esquema de 3 doses) para garantir a proteção completa. As datas das próximas doses serão anotadas na caderneta.
Passo a Passo para Exames de Rastreamento (Papanicolau / Teste DNA-HPV):
Verifique se você está na faixa etária recomendada: Mulheres de 25 a 64 anos que já iniciaram a vida sexual.
Procure a UBS: Vá até a UBS mais próxima. Se ainda não for cadastrada, leve seus documentos (RG, CPF, comprovante de residência) e, se tiver, o Cartão Nacional de Saúde (CNS).
Agende a consulta: Agende uma consulta ginecológica com o médico ou enfermeiro da equipe. Informe que deseja realizar o exame preventivo.
Prepare-se para o exame: Siga as orientações de preparo (não ter relações sexuais, não usar cremes vaginais ou duchas nos 2 dias anteriores, não estar menstruada).
Realize a consulta e a coleta: Durante a consulta, o profissional fará perguntas sobre sua saúde e realizará o exame ginecológico com a coleta do material para o Papanicolau ou para o teste DNA-HPV (dependendo do que estiver implementado na sua região). O procedimento é rápido (geralmente dura poucos minutos) e pode causar um leve desconforto, mas não costuma ser doloroso.
Aguarde o resultado: O profissional informará o prazo para o resultado ficar pronto e como você será comunicada (retorno à UBS, contato telefônico, etc.).
Busque o resultado e siga as orientações: É muito importante retornar à UBS para buscar o resultado do exame e receber as orientações do profissional de saúde, mesmo que o resultado seja normal.
O Que Acontece se o Resultado do Exame Estiver Alterado?
Receber um resultado alterado no Papanicolau ou um teste DNA-HPV positivo pode gerar ansiedade, mas é importante entender que isso não significa que você tem câncer. Na maioria das vezes, indica a presença de lesões precursoras causadas pelo HPV, que são tratáveis.
Os próximos passos geralmente são:
Retorno à UBS: O profissional de saúde explicará o resultado e os próximos passos.
Encaminhamento para Colposcopia: Você será encaminhada para um serviço especializado para realizar a colposcopia. Este exame permite visualizar o colo do útero com um aparelho que aumenta a imagem (colposcópio), identificando as áreas com alterações.
Biópsia (se necessário): Durante a colposcopia, se o médico identificar áreas suspeitas, ele retirará pequenos fragmentos de tecido (biópsia) para análise em laboratório. A biópsia confirma o tipo e o grau da lesão.
Tratamento das Lesões Precursoras: Se a biópsia confirmar uma lesão precursora (NIC), existem tratamentos simples e eficazes, geralmente realizados no próprio ambulatório, para remover ou destruir a área afetada, impedindo que ela evolua para câncer. Os métodos mais comuns incluem a Eletrocirurgia (ou Cirurgia de Alta Frequância - CAF) e a Conização.
Acompanhamento: Após o tratamento, é necessário um acompanhamento mais frequente com exames (Papanicolau, teste DNA-HPV, colposcopia) para garantir que a lesão foi completamente eliminada e não retornou.
Se o exame já detectar um câncer invasor, você será encaminhada para um centro de tratamento oncológico do SUS (UNACON ou CACON) para avaliação e tratamento especializado (cirurgia, radioterapia, quimioterapia), conforme o estágio da doença.
Perguntas Frequentes
1. O exame Papanicolau dói?
O exame pode causar um leve desconforto devido à introdução do espéculo e à coleta do material, mas geralmente não é doloroso. Relaxar durante o procedimento pode ajudar. Se sentir dor, avise o profissional.
2. Mulheres grávidas podem fazer o Papanicolau?
Sim, a gravidez não impede a realização do exame. Inclusive, ele faz parte dos exames de rotina do pré-natal no SUS, se a mulher estiver na faixa etária e com o exame atrasado.
3. Mulheres que não tiveram filhos ou que fizeram laqueadura precisam fazer o exame?
Sim. O exame está relacionado à prevenção do câncer de colo do útero causado pelo HPV, e não à capacidade de ter filhos. Mulheres na faixa etária recomendada (25-64 anos) que já tiveram atividade sexual devem fazer o exame regularmente, independentemente de terem tido filhos ou feito laqueadura.
4. Mulheres que fizeram histerectomia (retirada do útero) precisam fazer o exame?
Depende. Se a histerectomia foi total (retirada do corpo e do colo do útero) e realizada por motivos benignos (ex: miomas), geralmente não é mais necessário fazer o rastreamento. No entanto, se a histerectomia foi subtotal (preservou o colo do útero) ou se foi realizada devido a câncer ou lesões precursoras, o acompanhamento pode ser necessário. Converse com seu médico.
5. O teste DNA-HPV substitui completamente o Papanicolau?
Na nova estratégia do SUS, o teste DNA-HPV será o exame primário de rastreamento (feito a cada 5 anos). O Papanicolau ainda será utilizado como exame complementar para mulheres com teste DNA-HPV positivo e para o acompanhamento após tratamento de lesões. A transição será gradual.
6. A vacina contra HPV trata infecções existentes ou câncer?
Não. A vacina é preventiva, ou seja, ela protege contra futuras infecções pelos tipos de HPV incluídos na vacina. Ela não tem efeito terapêutico sobre infecções já existentes ou lesões/câncer já desenvolvidos.
Conclusão: A Prevenção Está ao Seu Alcance no SUS
O câncer de colo do útero é uma doença séria, mas com as ferramentas disponíveis gratuitamente no SUS, ele pode ser amplamente prevenido e curado. A combinação da vacinação contra o HPV para jovens e o rastreamento regular com exames (Papanicolau e/ou teste DNA-HPV) para mulheres na faixa etária recomendada é a estratégia mais eficaz para reduzir drasticamente a incidência e a mortalidade por essa doença.
Não deixe de procurar a UBS mais próxima para se informar sobre a vacina e agendar seu exame preventivo. Cuidar da sua saúde é um direito seu, e o SUS está presente para garantir o acesso à prevenção. Lembre-se: a detecção precoce salva vidas!
Referências
1. Ministério da Saúde. Câncer do colo do útero: exame para detecção é oferecido no SUS. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/setembro/cancer-do-colo-do-utero-exame-para-deteccao-e-oferecido-no-sus
2. Instituto Nacional de Câncer (INCA). Câncer do colo do útero. Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/tipos/colo-do-utero
3. Biblioteca Virtual em Saúde (BVS MS). Papanicolau (exame preventivo de colo de útero). Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/papanicolau-exame-preventivo-de-colo-de-utero/
4. Portal Drauzio Varella. Papanicolau será substituído no SUS pelo teste de DNA-HPV. Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/mulher/ginecologia/papanicolau-sera-substituido-no-sus-pelo-teste-de-dna-hpv/
5. Ministério da Saúde. Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do Útero. 2ª ed. rev. atual. – Rio de Janeiro: Inca, 2016.
6. Ministério da Saúde. Informe Técnico: Incorporação do teste de DNA para detecção do papilomavírus humano (HPV) para rastreamento do câncer do colo do útero no SUS. 2024.
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