DPOC no SUS: Diagnóstico, Tratamento Completo e Como Acessar
Entenda a DPOC (enfisema/bronquite crônica) e como o SUS oferece diagnóstico (espirometria), tratamento medicamentoso (bombinhas), reabilitação pulmonar e oxigenoterapia. Saiba como acessar passo a passo.
5/6/20259 min read


DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica): Como Tratar pelo SUS - Passo a Passo Completo
O que é DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica)?
A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, mais conhecida pela sigla DPOC, é uma condição respiratória comum, prevenível e tratável, que causa dificuldade para respirar. Ela não é uma única doença, mas sim um termo guarda-chuva que engloba principalmente duas condições que frequentemente coexistem:
Enfisema Pulmonar: Caracterizado pela destruição dos alvéolos (pequenos sacos de ar nos pulmões onde ocorrem as trocas gasosas), o que dificulta a saída do ar dos pulmões.
Bronquite Crônica: Definida pela presença de tosse produtiva (com catarro) na maioria dos dias, por pelo menos três meses ao ano, durante dois anos consecutivos. Ocorre devido à inflamação e produção excessiva de muco nos brônquios (tubos que levam o ar aos pulmões).
A principal característica da DPOC é a limitação persistente do fluxo de ar, ou seja, o ar tem dificuldade para entrar e, principalmente, para sair dos pulmões. Essa obstrução geralmente é progressiva e está associada a uma resposta inflamatória crônica anormal dos pulmões a partículas ou gases nocivos.
A DPOC é uma causa importante de morbidade e mortalidade em todo o mundo, impactando significativamente a qualidade de vida dos pacientes. No Brasil, é uma das principais causas de internação hospitalar e óbito, representando um grande desafio para a saúde pública.
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece diagnóstico, tratamento e acompanhamento para pacientes com DPOC, visando controlar os sintomas, reduzir as exacerbações (pioras agudas) e melhorar a capacidade funcional e a qualidade de vida.
Causas e Fatores de Risco para DPOC
A causa mais comum da DPOC, responsável por cerca de 80-90% dos casos, é a exposição prolongada à fumaça do cigarro (tabagismo). Quanto maior a carga tabágica (número de cigarros fumados por dia e anos de tabagismo), maior o risco.
Outros fatores de risco importantes incluem:
Exposição à Fumaça de Lenha ou Carvão: Principalmente em ambientes fechados e mal ventilados, comum em fogões a lenha;
Poluição Ambiental: Exposição a altos níveis de poluição do ar;
Exposição Ocupacional: Inalação de poeiras, produtos químicos e vapores no ambiente de trabalho (ex: mineração, construção civil, indústria têxtil);
Fatores Genéticos: A deficiência de alfa-1 antitripsina é uma causa genética rara de enfisema precoce;
Infecções Respiratórias na Infância: Infecções graves ou recorrentes podem predispor ao desenvolvimento de DPOC na vida adulta;
Asma Crônica Mal Controlada;
Idade Avançada: O risco aumenta com a idade, embora a doença se desenvolva ao longo de muitos anos.
Parar de fumar é a medida mais eficaz para prevenir a DPOC ou retardar sua progressão.
Sinais e Sintomas da DPOC
Os sintomas da DPOC geralmente se desenvolvem lentamente ao longo dos anos e podem variar de intensidade. Os mais comuns são:
Falta de Ar (Dispneia): Inicialmente aos esforços (subir escadas, caminhar rápido), mas pode progredir para ocorrer mesmo em repouso nas fases mais avançadas. É o sintoma mais incapacitante;
Tosse Crônica: Pode ser seca ou produtiva (com catarro), geralmente pior pela manhã;
Produção de Catarro (Expectoração): Muco claro, amarelado ou esverdeado, especialmente pela manhã;
Chiado no Peito (Sibilância): Som agudo ao respirar, semelhante a um assobio;
Sensação de Aperto no Peito;
Cansaço ou Fadiga.
Muitas pessoas, especialmente fumantes, podem considerar a tosse matinal como "normal" ("tosse de fumante"), atrasando a busca por diagnóstico. É fundamental procurar um médico se você apresenta esses sintomas, principalmente se for fumante ou ex-fumante acima de 40 anos.
A DPOC também pode causar exacerbações, que são episódios de piora aguda dos sintomas (aumento da falta de ar, tosse e/ou catarro), muitas vezes desencadeados por infecções respiratórias ou exposição a irritantes. Exacerbações frequentes aceleram a perda da função pulmonar e aumentam o risco de hospitalização e morte.
Diagnóstico da DPOC no SUS
O diagnóstico da DPOC é baseado na combinação de:
História Clínica: Presença de sintomas característicos (falta de ar, tosse crônica, expectoração) e exposição a fatores de risco (principalmente tabagismo);
Exame Físico: Pode revelar alterações na ausculta pulmonar, mas muitas vezes é normal nas fases iniciais;
Espirometria (Prova de Função Pulmonar): É o exame essencial para confirmar o diagnóstico.
Espirometria
A espirometria mede a quantidade de ar que uma pessoa consegue inspirar e expirar e a velocidade com que o faz. O exame é realizado em clínicas ou hospitais, geralmente solicitado pelo médico da Unidade Básica de Saúde (UBS) ou pelo pneumologista.
Durante o exame, o paciente sopra com força máxima em um aparelho chamado espirômetro. O principal parâmetro para o diagnóstico da DPOC é a relação entre o Volume Expiratório Forçado no primeiro segundo (VEF1) e a Capacidade Vital Forçada (CVF). Uma relação VEF1/CVF inferior a 0,7 (ou 70%) após o uso de um broncodilatador confirma a presença de limitação persistente do fluxo aéreo, característica da DPOC.
A espirometria também ajuda a classificar a gravidade da obstrução com base no valor do VEF1:
Leve (GOLD 1): VEF1 ≥ 80% do previsto
Moderada (GOLD 2): VEF1 entre 50% e 79% do previsto
Grave (GOLD 3): VEF1 entre 30% e 49% do previsto
Muito Grave (GOLD 4): VEF1 < 30% do previsto
Outros Exames
Outros exames podem ser solicitados pelo SUS para complementar a avaliação, dependendo do caso:
Radiografia de Tórax: Pode mostrar alterações sugestivas de enfisema ou excluir outras doenças;
Tomografia Computadorizada de Tórax: Fornece imagens mais detalhadas do pulmão, útil em casos selecionados;
Gasometria Arterial: Mede os níveis de oxigênio e gás carbônico no sangue arterial, importante em casos mais graves para avaliar a necessidade de oxigenoterapia;
Oximetria de Pulso: Mede a saturação de oxigênio no sangue de forma não invasiva;
Dosagem de Alfa-1 Antitripsina: Em casos selecionados (DPOC em jovens ou não fumantes).
Tratamento da DPOC pelo SUS
O tratamento da DPOC é multifacetado e visa aliviar os sintomas, melhorar a tolerância ao exercício, melhorar a qualidade de vida e reduzir a frequência e a gravidade das exacerbações. O SUS oferece tratamento medicamentoso e não medicamentoso.
1. Cessação do Tabagismo
É a medida mais importante e eficaz. Parar de fumar é a única intervenção que comprovadamente reduz a progressão da DPOC. O SUS oferece apoio gratuito para parar de fumar nas UBS, com aconselhamento e, se necessário, medicamentos (como adesivos de nicotina, bupropiona).
2. Tratamento Medicamentoso
Baseia-se principalmente no uso de broncodilatadores inalatórios ("bombinhas"), que relaxam a musculatura das vias aéreas, facilitando a passagem do ar. O SUS fornece gratuitamente diversos desses medicamentos através do Programa Farmácia Popular e/ou das farmácias das UBS e Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (CEAF).
Os principais tipos são:
Broncodilatadores de Curta Ação (SABA e SAMA): Ex: Salbutamol, Fenoterol, Ipratrópio. Usados para alívio rápido dos sintomas ("resgate").
Broncodilatadores de Longa Ação (LABA e LAMA): Ex: Formoterol, Salmeterol, Tiotrópio, Glicopirrônio, Umeclidínio. Usados regularmente (1 ou 2 vezes ao dia) para controle contínuo dos sintomas e prevenção de exacerbações. São a base do tratamento para a maioria dos pacientes.
Corticosteroides Inalatórios (CI): Ex: Budesonida, Fluticasona, Beclometasona. São anti-inflamatórios usados em combinação com LABA para pacientes com exacerbações frequentes ou sintomas persistentes apesar do uso de broncodilatadores de longa ação.
Combinações Fixas: Muitos medicamentos estão disponíveis em dispositivos únicos que combinam LABA+LAMA ou LABA+CI, facilitando o uso.
A escolha do(s) medicamento(s) e do(s) dispositivo(s) inalatório(s) depende da gravidade dos sintomas, do risco de exacerbações e da capacidade do paciente de usar o dispositivo corretamente. É essencial aprender a técnica inalatória correta com o médico ou farmacêutico.
Outros medicamentos podem ser usados em casos específicos, como antibióticos e corticoides orais durante exacerbações.
3. Reabilitação Pulmonar
É um programa multidisciplinar que inclui exercícios físicos supervisionados, educação sobre a doença, suporte nutricional e psicológico. A reabilitação pulmonar comprovadamente melhora a falta de ar, a capacidade de exercício e a qualidade de vida. O SUS oferece programas de reabilitação em alguns centros especializados e hospitais.
4. Oxigenoterapia Domiciliar Prolongada (ODP)
Indicada para pacientes com DPOC muito grave que apresentam baixos níveis de oxigênio no sangue (hipoxemia crônica), confirmada por gasometria arterial. O uso contínuo de oxigênio suplementar (geralmente por mais de 15 horas por dia) melhora a sobrevida e a qualidade de vida nesses pacientes. O SUS fornece o equipamento (concentrador de oxigênio ou cilindros) e o acompanhamento necessário.
5. Vacinação
Pacientes com DPOC devem receber anualmente a vacina contra a gripe (Influenza) e a vacina pneumocócica (contra pneumonia), ambas disponíveis gratuitamente no SUS, para reduzir o risco de infecções respiratórias e exacerbações.
6. Tratamento das Exacerbações
As exacerbações devem ser tratadas prontamente com intensificação dos broncodilatadores, uso de corticoides orais e, se houver sinais de infecção bacteriana, antibióticos. Casos graves podem necessitar de hospitalização.
Passo a Passo para Acessar o Tratamento da DPOC pelo SUS
1. Suspeita e Diagnóstico (UBS)
Consulta na UBS: Se você tem sintomas (tosse, falta de ar, catarro) e/ou fatores de risco (tabagismo > 40 anos), procure a UBS mais próxima. Leve seu Cartão Nacional de Saúde (CNS);
Avaliação Médica: O médico avaliará seus sintomas, histórico e fará o exame físico;
Solicitação de Espirometria: Se houver suspeita de DPOC, o médico solicitará a espirometria. A UBS informará onde o exame pode ser realizado na rede SUS;
Confirmação Diagnóstica: Com o resultado da espirometria, o médico confirmará (ou não) o diagnóstico e classificará a gravidade.
2. Início do Tratamento (UBS)
Plano Terapêutico: O médico definirá o tratamento inicial, que pode incluir cessação do tabagismo e medicamentos inalatórios;
Retirada de Medicamentos: Os medicamentos prescritos (como Salbutamol, Ipratrópio, Beclometasona) podem ser retirados gratuitamente na farmácia da UBS ou através do Programa Farmácia Popular (com receita válida);
Orientação sobre Uso: O médico, enfermeiro ou farmacêutico orientará sobre a técnica correta de uso dos dispositivos inalatórios ("bombinhas");
Vacinação: Verifique a necessidade e disponibilidade das vacinas contra gripe e pneumonia na UBS.
3. Encaminhamento para Especialista (Pneumologista)
Critérios: O médico da UBS pode encaminhar para consulta com pneumologista em casos de dúvida diagnóstica, DPOC grave/muito grave, exacerbações frequentes, necessidade de oxigenoterapia ou avaliação para reabilitação pulmonar;
Regulação: O encaminhamento é feito via sistema de regulação do SUS.
4. Acesso a Medicamentos Específicos (CEAF)
Medicamentos do Componente Especializado: Alguns medicamentos de longa ação (LABA, LAMA, combinações) são fornecidos pelo Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (CEAF). O acesso requer preenchimento de formulários específicos (LME), laudos médicos e exames, geralmente com auxílio do médico especialista;
Farmácias de Alto Custo: A retirada desses medicamentos ocorre nas farmácias estaduais (conhecidas como farmácias de alto custo).
5. Acesso à Reabilitação Pulmonar e Oxigenoterapia
Indicação: Se indicado pelo médico (geralmente especialista), o acesso à reabilitação pulmonar ou oxigenoterapia domiciliar é solicitado via regulação para os serviços especializados disponíveis na rede SUS.
6. Acompanhamento Contínuo
O acompanhamento regular na UBS e/ou com o especialista é fundamental para monitorar a doença, ajustar o tratamento, verificar a técnica inalatória e prevenir exacerbações.
Direitos dos Pacientes com DPOC
Pacientes com DPOC grave podem ter direitos semelhantes aos de outras doenças crônicas, como:
Acesso gratuito a medicamentos e tratamentos pelo SUS;
Auxílio-doença ou Aposentadoria por Invalidez (se a doença incapacitar para o trabalho);
Benefício de Prestação Continuada (BPC/LOAS) para idosos ou pessoas com deficiência de baixa renda;
Isenção de Imposto de Renda sobre aposentadoria (em casos específicos);
Passe livre em transporte público (conforme legislação local).
Informe-se com o serviço social da UBS ou procure a Defensoria Pública.
A DPOC é uma doença respiratória crônica grave, mas que pode ser prevenida e tratada. Parar de fumar é fundamental. O SUS oferece uma gama de tratamentos, desde medicamentos inalatórios gratuitos até reabilitação pulmonar e oxigenoterapia. O diagnóstico precoce através da espirometria e o tratamento adequado podem controlar os sintomas, reduzir as crises e melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes. Se você tem sintomas ou fatores de risco, procure a UBS para avaliação.
Referências
Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas: Doença pulmonar obstrutiva crônica. Brasília: CONITEC, 2021. Disponível em: [https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/protocolos/20220912_PCDT_Resumido_DPOC_final.pdf](https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/protocolos/20220912_PCDT_Resumido_DPOC_final.pdf)
Ministério da Saúde. Linhas de Cuidado: Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). Disponível em: [https://linhasdecuidado.saude.gov.br/portal/doenca-pulmonar-obstrutiva-cronica/](https://linhasdecuidado.saude.gov.br/portal/doenca-pulmonar-obstrutiva-cronica/)
Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD). Global Strategy for the Diagnosis, Management, and Prevention of Chronic Obstructive Pulmonary Disease (2024 Report). Disponível em: [https://goldcopd.org/](https://goldcopd.org/)
Ministério da Saúde. O tratamento da Doença Obstrutiva Crônica (DPOC) no SUS. Disponível em: [https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-brasil/eu-quero-parar-de-fumar/noticias/2022/o-tratamento-da-doenca-obstrutiva-cronica-dpoc-no-sus](https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-brasil/eu-quero-parar-de-fumar/noticias/2022/o-tratamento-da-doenca-obstrutiva-cronica-dpoc-no-sus)
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