Autismo: Como Conseguir Diagnóstico e Tratamento Gratuito pelo SUS
Saiba como o SUS oferece diagnóstico, tratamento e acompanhamento para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Guia completo com passo a passo.
6/1/202515 min read


Transtorno do Espectro Autista: Diagnóstico e Acompanhamento pelo SUS
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) afeta milhões de brasileiros e suas famílias. Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2021, o Brasil realizou 9,6 milhões de atendimentos em ambulatórios a pessoas com autismo, sendo 4,1 milhões ao público infantil com até 9 anos de idade.
A boa notícia é que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece diagnóstico, tratamento e acompanhamento gratuitos para pessoas com TEA. Em 2023, o Ministério da Saúde deu um passo importante ao incluir, pela primeira vez, o tratamento do Transtorno do Espectro Autista na Política Nacional da Pessoa com Deficiência.
Neste artigo, você vai descobrir o que é o TEA, como identificar os sinais, como conseguir diagnóstico e tratamento pelo SUS, quais serviços estão disponíveis e como acessá-los. Também vamos abordar os direitos das pessoas com TEA e dicas para familiares e cuidadores.
Importante: A Lei Berenice Piana (Lei nº 12.764/2012) determina que pessoas com TEA têm os mesmos direitos que as pessoas com deficiência no SUS, garantindo acesso a diagnóstico precoce, tratamentos, terapias e medicamentos pelo sistema público de saúde.
O que é o Transtorno do Espectro Autista (TEA)?
O Transtorno do Espectro Autista é uma condição de saúde caracterizada pela alteração das funções do neurodesenvolvimento do indivíduo. Segundo o Ministério da Saúde, o TEA pode interferir na capacidade de comunicação, linguagem, interação social e comportamento da pessoa.
O termo "espectro" é usado porque o autismo se manifesta de diferentes formas e intensidades. Cada pessoa com TEA apresenta características únicas, podendo variar de casos leves, com total independência e discretas dificuldades de adaptação, até níveis que requerem suporte constante para atividades cotidianas.
Principais Características do TEA
O TEA pode englobar alterações qualitativas e quantitativas em diversas áreas:
Comunicação: Dificuldades na linguagem verbal e não verbal, que podem variar desde atraso na fala até ausência total de comunicação verbal
Interação social: Desafios para estabelecer e manter relacionamentos, compreender regras sociais e expressões faciais
Comportamento: Padrões repetitivos de comportamento, interesses restritos, hiperfoco em objetos específicos, sensibilidade sensorial (a sons, luzes, texturas)
É importante ressaltar que o TEA não é uma doença, mas uma condição de neurodesenvolvimento que acompanha a pessoa por toda a vida. Não existe cura, mas com diagnóstico precoce e intervenções adequadas, é possível promover desenvolvimento, autonomia e qualidade de vida.
Sinais de Alerta para o TEA
Os sinais do TEA podem ser percebidos nos primeiros meses de vida, embora o diagnóstico geralmente seja estabelecido por volta dos 2 a 3 anos. Alguns sinais de alerta incluem:
Pouco ou nenhum contato visual
Não responder quando chamado pelo nome
Atraso ou regressão na fala
Dificuldade para apontar ou mostrar objetos de interesse
Movimentos repetitivos (balançar o corpo, girar, abanar as mãos)
Interesse intenso por partes específicas de objetos
Dificuldade com mudanças na rotina
Reações incomuns a estímulos sensoriais (sons, luzes, texturas)
A presença de um ou mais desses sinais não significa necessariamente que a pessoa tem TEA, mas indica a necessidade de uma avaliação profissional.
Diagnóstico do TEA pelo SUS
O diagnóstico precoce do TEA é fundamental para iniciar as intervenções o quanto antes, potencializando o desenvolvimento da pessoa. No SUS, o processo diagnóstico segue um fluxo que começa na Atenção Primária à Saúde.
Onde Buscar o Diagnóstico
A porta de entrada para o diagnóstico do TEA no SUS é a Unidade Básica de Saúde (UBS) ou Estratégia de Saúde da Família (ESF) mais próxima da sua residência. Lá, profissionais de saúde realizam a avaliação inicial e, se necessário, encaminham para serviços especializados.
O diagnóstico do TEA é essencialmente clínico, ou seja, não existe um exame laboratorial ou de imagem que confirme a condição. Ele é realizado por uma equipe multiprofissional que observa o comportamento da pessoa, realiza entrevistas com familiares e aplica instrumentos específicos de avaliação.
Ferramentas de Rastreio e Diagnóstico
O SUS utiliza diversas ferramentas para identificar sinais de TEA, entre elas:
Caderneta de Saúde da Criança: Traz orientações sobre os marcos do desenvolvimento esperados para cada idade e, desde 2022, incorpora um instrumento de rastreio para TEA
M-CHAT-R (Modified Checklist for Autism in Toddlers): Questionário de rastreio aplicado a partir dos 16 meses para identificar sinais de alerta para TEA. Está disponível no aplicativo Meu SUS Digital
Avaliação multidisciplinar: Realizada por equipe composta por médico (psiquiatra ou neurologista) e profissionais da área de reabilitação (psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional)
É importante ressaltar que o rastreio não é o mesmo que diagnóstico. O rastreio identifica sinais de alerta que indicam a necessidade de uma avaliação mais completa.
Passo a Passo para Buscar o Diagnóstico no SUS
Procure a UBS mais próxima: Leve documentos pessoais, cartão do SUS e, se for criança, a Caderneta de Saúde da Criança
Consulta inicial: Um profissional de saúde (médico ou enfermeiro) fará uma avaliação inicial e, se houver suspeita de TEA, encaminhará para avaliação especializada
Encaminhamento: Dependendo da organização da rede local, você poderá ser encaminhado para:
Centro Especializado em Reabilitação (CER)
Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi)
Ambulatório especializado em neurodesenvolvimento
Avaliação multidisciplinar: Uma equipe de profissionais realizará avaliações específicas para confirmar ou descartar o diagnóstico de TEA
Devolutiva: Após a conclusão das avaliações, a equipe compartilhará os resultados e, se confirmado o diagnóstico, iniciará a elaboração do plano terapêutico
Dica: Anote todos os comportamentos que chamam sua atenção e leve para a consulta. Isso ajudará os profissionais na avaliação. Se possível, leve também vídeos que mostrem os comportamentos que preocupam.
Desafios no Processo Diagnóstico
Embora o SUS ofereça o diagnóstico de TEA gratuitamente, existem desafios que podem dificultar o acesso:
Filas de espera para atendimento especializado
Distribuição desigual de serviços especializados pelo território nacional
Falta de capacitação de alguns profissionais para identificar sinais precoces
Dificuldade de acesso em áreas rurais ou remotas
Para enfrentar esses desafios, o Ministério da Saúde tem investido na capacitação de profissionais e na ampliação da rede de atenção. Em 2023, foram destinados mais de R$ 540 milhões para a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência, com aporte de 20% no custeio mensal dos Centros Especializados em Reabilitação que atendem pessoas com TEA.
Rede de Atenção à Pessoa com TEA no SUS
O SUS oferece uma rede integrada de serviços para atender pessoas com TEA em diferentes níveis de complexidade. Conheça os principais componentes dessa rede:
Atenção Primária à Saúde (APS)
As Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Estratégias de Saúde da Família (ESF) são responsáveis por:
Vigilância do desenvolvimento infantil
Identificação precoce de sinais de alerta para TEA
Encaminhamento para serviços especializados
Acompanhamento contínuo da saúde geral
Apoio às famílias
Centros Especializados em Reabilitação (CER)
Os CERs são pontos de atenção ambulatorial especializada em reabilitação. Atualmente, o Brasil conta com mais de 300 CERs, que oferecem:
Diagnóstico e avaliação das necessidades de cada pessoa
Estimulação precoce para crianças
Atendimento especializado em reabilitação
Concessão de órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção
Acompanhamento e orientação às famílias
Os CERs são classificados de acordo com o número de modalidades de reabilitação oferecidas:
CER II: Duas modalidades de reabilitação
CER III: Três modalidades de reabilitação
CER IV: Quatro modalidades de reabilitação (auditiva, física, intelectual e visual)
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)
Os CAPS são serviços de saúde mental que atendem pessoas com sofrimento psíquico grave e persistente. Para pessoas com TEA, destacam-se os CAPS infantojuvenis (CAPSi), que oferecem:
Atendimento individual e em grupo
Atividades terapêuticas e de socialização
Atendimento familiar
Visitas domiciliares
Articulação com outros serviços da rede
O Brasil conta com mais de 280 CAPSi e 2.795 CAPS no total, que realizaram 10,8 mil atendimentos a pessoas com autismo em 2021.
Outros Serviços da Rede
Além dos serviços mencionados, a rede de atenção à pessoa com TEA no SUS inclui:
Ambulatórios especializados: Para avaliação, diagnóstico e acompanhamento
Serviços hospitalares: Para situações que necessitam de internação
Consultórios na Rua: Para atendimento à população em situação de rua
Oficinas Ortopédicas: Para confecção e adaptação de órteses e próteses
Tratamento e Acompanhamento do TEA pelo SUS
Após o diagnóstico, a pessoa com TEA tem direito a um plano terapêutico individualizado, elaborado de acordo com suas necessidades específicas. O tratamento no SUS é multidisciplinar e pode incluir diversas abordagens.
Projeto Terapêutico Singular (PTS)
O PTS é um conjunto de propostas e condutas terapêuticas articuladas para promover o bem-estar e o desenvolvimento da pessoa com TEA. Ele é elaborado pela equipe multiprofissional em conjunto com a pessoa e sua família, considerando:
Características individuais e necessidades específicas
Potencialidades e habilidades
Contexto familiar e social
Recursos disponíveis na rede local
O PTS é dinâmico e deve ser reavaliado periodicamente para ajustes conforme a evolução da pessoa.
Abordagens Terapêuticas Disponíveis no SUS
O SUS oferece diversas abordagens terapêuticas para pessoas com TEA:
Fonoaudiologia: Para desenvolvimento da comunicação e linguagem
Terapia Ocupacional: Para desenvolvimento de habilidades para atividades diárias, adaptação de ambientes e materiais
Psicologia: Para desenvolvimento de habilidades sociais, emocionais e comportamentais
Fisioterapia: Para desenvolvimento motor e sensorial
Psiquiatria: Para avaliação e, quando necessário, prescrição de medicamentos para sintomas específicos
Neurologia: Para acompanhamento do neurodesenvolvimento e manejo de comorbidades
Além dessas abordagens, o SUS também oferece Práticas Integrativas e Complementares (PICs), como musicoterapia, equoterapia e arteterapia, em alguns serviços.
Medicamentos Disponíveis
Não existem medicamentos específicos para "curar" o TEA, mas alguns podem ser prescritos para manejo de sintomas associados, como:
Irritabilidade e agressividade
Hiperatividade e déficit de atenção
Ansiedade
Comportamentos repetitivos
Distúrbios do sono
Os medicamentos mais comumente utilizados incluem antipsicóticos atípicos, estabilizadores de humor, estimulantes e antidepressivos. Todos são fornecidos gratuitamente pelo SUS mediante prescrição médica e podem ser retirados nas farmácias das unidades de saúde ou nas Farmácias Populares.
Atenção: Medicamentos só devem ser utilizados sob prescrição e acompanhamento médico. Nunca interrompa ou modifique o tratamento sem orientação profissional.
Frequência e Duração do Tratamento
A frequência e duração do tratamento variam de acordo com as necessidades de cada pessoa. Em geral, o acompanhamento é contínuo, com ajustes ao longo do tempo:
Crianças pequenas podem necessitar de intervenção mais intensiva (várias vezes por semana)
Com o desenvolvimento de habilidades, a frequência pode ser reduzida
Momentos de transição (início da escola, adolescência, vida adulta) podem requerer intensificação do suporte
O acompanhamento pelo SUS é garantido por toda a vida, com foco nas necessidades de cada fase do desenvolvimento.
Acesso aos Serviços: Passo a Passo
Para acessar os serviços de diagnóstico, tratamento e acompanhamento para TEA no SUS, siga estes passos:
1. Documentos Necessários
Antes de buscar atendimento, reúna os seguintes documentos:
Documento de identidade (RG, certidão de nascimento para crianças)
CPF
Cartão do SUS (pode ser feito na própria UBS)
Comprovante de residência
Caderneta de Saúde da Criança (para crianças)
Relatórios médicos anteriores (se houver)
2. Primeira Consulta na UBS
Procure a Unidade Básica de Saúde mais próxima da sua residência:
Explique suas preocupações ou os sinais que observou
Seja detalhado ao descrever os comportamentos
Leve anotações ou vídeos que possam ajudar na avaliação
Pergunte sobre a aplicação do M-CHAT (para crianças entre 16 e 30 meses)
3. Encaminhamento para Serviço Especializado
Se houver suspeita de TEA, você receberá um encaminhamento para um serviço especializado:
Guarde o encaminhamento com cuidado
Verifique se há necessidade de agendamento prévio
Pergunte sobre o tempo estimado de espera
Solicite orientações sobre o que fazer enquanto aguarda a consulta especializada
4. Avaliação Especializada
No serviço especializado (CER, CAPSi ou ambulatório):
A avaliação pode envolver vários profissionais e mais de uma consulta
Seja paciente e colaborativo durante o processo
Responda às perguntas com sinceridade
Compartilhe todas as informações relevantes sobre o desenvolvimento e comportamento
5. Elaboração do Projeto Terapêutico Singular
Após o diagnóstico, a equipe elaborará o PTS:
Participe ativamente das discussões
Compartilhe suas expectativas e preocupações
Tire todas as dúvidas sobre as terapias propostas
Solicite orientações sobre como apoiar o tratamento em casa
6. Início do Tratamento
Com o PTS definido, o tratamento será iniciado:
Mantenha a regularidade nas terapias
Comunique à equipe qualquer dificuldade em seguir o plano
Informe sobre mudanças significativas no comportamento ou desenvolvimento
Aplique em casa as orientações recebidas dos profissionais
7. Acompanhamento Contínuo
O acompanhamento será contínuo, com reavaliações periódicas:
Compareça às consultas de reavaliação
Mantenha a equipe informada sobre progressos e desafios
Solicite ajustes no plano terapêutico quando necessário
Participe de grupos de apoio e orientação para familiares, se disponíveis
Dica: Mantenha um diário ou registro dos comportamentos, progressos e desafios. Isso ajudará tanto você quanto a equipe de saúde a acompanhar a evolução e ajustar o tratamento quando necessário.
Direitos da Pessoa com TEA
As pessoas com TEA têm direitos garantidos por lei, que vão além do acesso à saúde. Conheça os principais:
Direitos na Área da Saúde
Diagnóstico precoce: Direito a avaliação por equipe multidisciplinar
Tratamento integral: Acesso a todas as terapias necessárias
Medicamentos gratuitos: Fornecidos pelo SUS mediante prescrição médica
Tecnologia assistiva: Acesso a recursos que promovam funcionalidade e autonomia
Acompanhante: Direito a acompanhante durante internações hospitalares
Direitos na Educação
Educação inclusiva: Acesso à escola regular com suporte adequado
Adaptações curriculares: Ajustes no currículo e nas avaliações
Profissional de apoio: Acompanhante especializado quando necessário
Atendimento Educacional Especializado (AEE): Suporte complementar no contraturno
Direitos Sociais e Benefícios
Benefício de Prestação Continuada (BPC): Benefício de um salário mínimo para pessoas com TEA de baixa renda
Passe livre: Gratuidade no transporte público interestadual
Prioridade de atendimento: Em serviços públicos e privados
Isenção de impostos: Para aquisição de veículos adaptados (IPI, ICMS, IPVA)
Jornada de trabalho reduzida: Para servidores públicos que sejam responsáveis por pessoas com TEA
Como Garantir seus Direitos
Para garantir o acesso aos direitos, é importante:
Obter o laudo médico com CID (Classificação Internacional de Doenças)
Solicitar a Carteira da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista
Buscar orientação no CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) sobre benefícios sociais
Em caso de negativa de direitos, procurar a Defensoria Pública ou o Ministério Público
O Papel da Família no Tratamento
A família desempenha um papel fundamental no tratamento e desenvolvimento da pessoa com TEA. O envolvimento familiar potencializa os resultados das intervenções terapêuticas.
Como a Família Pode Ajudar
Participação ativa: Envolver-se nas terapias e aprender técnicas para aplicar em casa
Ambiente estruturado: Criar rotinas previsíveis e ambientes organizados
Comunicação adaptada: Utilizar estratégias de comunicação adequadas às necessidades da pessoa
Estimulação constante: Proporcionar oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento no dia a dia
Inclusão social: Promover a participação em atividades comunitárias e sociais
Suporte para Familiares no SUS
O SUS também oferece suporte para familiares de pessoas com TEA:
Grupos de orientação: Para aprender sobre o TEA e estratégias de manejo
Grupos de apoio: Para compartilhar experiências e desafios com outras famílias
Atendimento psicológico: Para lidar com o impacto emocional do diagnóstico e os desafios do cuidado
Visitas domiciliares: Para orientações no ambiente familiar
Pergunte na UBS, CER ou CAPS sobre os grupos e serviços disponíveis para familiares na sua região.
Autocuidado para Cuidadores
Cuidar de uma pessoa com TEA pode ser desafiador e exigir muito dos cuidadores. Por isso, o autocuidado é essencial:
Busque momentos de descanso e lazer
Divida as responsabilidades com outros familiares quando possível
Participe de grupos de apoio para cuidadores
Busque ajuda profissional se sentir sinais de esgotamento físico ou emocional
Mantenha sua própria saúde em dia
Lembre-se: Cuidar de si mesmo não é egoísmo, mas uma necessidade para poder cuidar bem do outro. Um cuidador saudável e equilibrado consegue oferecer um suporte melhor.
Histórias de Sucesso: Superando Desafios
Para ilustrar como o tratamento no SUS pode transformar vidas, compartilhamos algumas histórias reais (com nomes fictícios para preservar a identidade):
A História de Pedro
Pedro foi diagnosticado com TEA aos 3 anos, após seus pais notarem atraso na fala e dificuldades de interação. Através da UBS local, foi encaminhado para um CER, onde iniciou terapias com fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e psicólogo.
Aos 7 anos, Pedro já conseguia se comunicar verbalmente, frequentava a escola regular com apoio e desenvolveu interesse especial por matemática. Hoje, aos 12 anos, continua em acompanhamento no CER, mas com menor frequência, e participa de um grupo de robótica na escola.
Sua mãe, Maria, destaca a importância do diagnóstico precoce: "Quanto mais cedo começar o tratamento, melhores são os resultados. O SUS nos deu todo o suporte necessário desde o início, e isso fez toda a diferença."
A História de Ana
Ana foi diagnosticada com TEA já na vida adulta, aos 25 anos. Sempre teve dificuldades sociais e sensibilidade sensorial, mas cresceu numa época em que o autismo era pouco conhecido, especialmente em mulheres.
Após o diagnóstico, realizado em um ambulatório especializado do SUS, Ana iniciou acompanhamento no CAPS, onde participa de terapia individual e de um grupo de habilidades sociais. Também recebeu orientações sobre adaptações no ambiente de trabalho.
"O diagnóstico foi um alívio, porque finalmente entendi por que sempre me senti diferente. O tratamento no SUS me ajudou a desenvolver estratégias para lidar com minhas dificuldades e a valorizar minhas habilidades especiais", conta Ana, que hoje trabalha como programadora.
A História de Lucas
Lucas tem TEA com necessidade de suporte substancial. Diagnosticado aos 2 anos, apresentava ausência de fala, comportamentos repetitivos intensos e dificuldades sensoriais significativas.
Através do CAPSi, Lucas teve acesso a um tratamento intensivo, com terapias diárias e suporte para a família. Aos poucos, desenvolveu formas alternativas de comunicação, como o uso de cartões e, posteriormente, comunicação facilitada por tablet.
Seu pai, Carlos, ressalta a importância do apoio contínuo: "O caminho não é linear, tem altos e baixos. Mas com o suporte do SUS, tanto para o Lucas quanto para nós, família, conseguimos celebrar cada pequena conquista e lidar melhor com os desafios."
Hoje, aos 15 anos, Lucas frequenta escola regular com acompanhante especializado, comunica-se por meio de um aplicativo no tablet e participa de atividades comunitárias adaptadas às suas necessidades.
Avanços Recentes no Atendimento ao TEA no SUS
Nos últimos anos, o SUS tem avançado significativamente no atendimento às pessoas com TEA:
Inclusão na Política Nacional da Pessoa com Deficiência
Em 2023, o Ministério da Saúde incluiu, pela primeira vez, o tratamento do Transtorno do Espectro Autista na Política Nacional da Pessoa com Deficiência. Com isso, foram destinados mais de R$ 540 milhões para a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência, com aporte de 20% no custeio mensal dos CERs que atendem pessoas com TEA.
Linha de Cuidado para Pessoas com TEA
O Ministério da Saúde lançou a Linha de Cuidado para Pessoas com Transtornos do Espectro Autista e suas Famílias na Rede de Atenção Psicossocial do SUS, um documento que orienta os serviços sobre como organizar o cuidado, desde a detecção precoce até o acompanhamento contínuo.
Incorporação do M-CHAT no Meu SUS Digital
O teste M-CHAT, ferramenta de rastreio para TEA, foi incorporado ao aplicativo Meu SUS Digital, facilitando o acesso de famílias e profissionais a este importante instrumento de detecção precoce.
Capacitação de Profissionais
O Ministério da Saúde tem oferecido cursos de capacitação sobre TEA para profissionais de saúde, disponíveis no Ambiente Virtual de Aprendizagem do SUS (AVA-SUS) e na plataforma da Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS).
Perguntas Frequentes sobre TEA e SUS
1. Qual a idade ideal para o diagnóstico de TEA?
Os sinais do TEA podem ser percebidos nos primeiros meses de vida, e o diagnóstico pode ser estabelecido a partir dos 18 meses. O ideal é que seja feito o mais cedo possível, pois a intervenção precoce potencializa o desenvolvimento. No entanto, muitas pessoas são diagnosticadas mais tarde, inclusive na adolescência ou vida adulta, especialmente em casos mais leves ou atípicos.
2. O SUS oferece tratamento para adultos com TEA?
Sim, o SUS oferece tratamento para pessoas com TEA de todas as idades. Adultos com TEA podem ser atendidos nos CAPS, CERs e ambulatórios especializados. O tratamento é adaptado às necessidades específicas de cada fase da vida.
3. Como lidar com a demora para conseguir atendimento especializado?
Enquanto aguarda o atendimento especializado, você pode:
Buscar orientações na UBS sobre como estimular o desenvolvimento em casa
Participar de grupos de apoio para familiares
Buscar informações confiáveis sobre TEA em sites oficiais
Verificar se há ONGs ou projetos de universidades na sua região que ofereçam suporte
Se a espera for muito longa, você pode procurar a Ouvidoria do SUS (telefone 136) ou a Defensoria Pública para orientações sobre como garantir o atendimento.
4. O SUS fornece todos os medicamentos para pessoas com TEA?
Sim, o SUS fornece gratuitamente todos os medicamentos prescritos para pessoas com TEA, desde que estejam na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) ou nas listas estaduais e municipais. Em caso de medicamentos não padronizados, é possível solicitar via processo administrativo ou judicial.
5. Como conseguir a Carteira da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista?
A Carteira da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (CPTEA) pode ser solicitada nas secretarias estaduais ou municipais responsáveis pelos direitos das pessoas com deficiência. Os documentos necessários geralmente incluem:
Documento de identidade com foto
CPF
Comprovante de residência
Laudo médico com CID
Foto 3x4
Algumas localidades já oferecem a solicitação online. Verifique como funciona na sua região.
Conclusão
O Transtorno do Espectro Autista é uma condição que acompanha a pessoa por toda a vida, mas com diagnóstico precoce, tratamento adequado e suporte contínuo, é possível promover desenvolvimento, autonomia e qualidade de vida.
O SUS oferece uma rede de serviços para diagnóstico, tratamento e acompanhamento de pessoas com TEA, desde a Atenção Primária até serviços especializados. Embora existam desafios, como filas de espera e distribuição desigual de serviços, avanços significativos têm sido feitos nos últimos anos.
Se você suspeita que você ou alguém próximo possa ter TEA, busque ajuda na Unidade Básica de Saúde mais próxima. O diagnóstico precoce e o início do tratamento o quanto antes são fundamentais para potencializar o desenvolvimento e melhorar a qualidade de vida.
Lembre-se: cada pessoa com TEA é única, com suas próprias características, desafios e potencialidades. O respeito à neurodiversidade e o acesso a suporte adequado são direitos fundamentais que devem ser garantidos a todos.
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