CAPS: Guia Completo para Acessar Tratamento de Saúde Mental pelo SUS
Saiba como acessar os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) do SUS, quais serviços são oferecidos e como funciona o atendimento gratuito em saúde mental.
6/1/202518 min read


CAPS (Centro de Atenção Psicossocial): Como Acessar e Serviços Oferecidos
Você já ouviu falar dos CAPS, mas não sabe exatamente o que são ou como funcionam? Ou talvez esteja procurando ajuda para questões de saúde mental e não saiba por onde começar? Este guia completo vai explicar tudo sobre os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), serviços gratuitos oferecidos pelo SUS que são fundamentais no cuidado em saúde mental no Brasil.
Aqui você vai descobrir o que são os CAPS, quais tipos existem, como acessá-los, quais serviços são oferecidos e como funciona todo o processo de atendimento. Se você ou alguém próximo está enfrentando problemas de saúde mental ou relacionados ao uso de álcool e outras drogas, este artigo vai mostrar como encontrar ajuda qualificada e gratuita.
Importante: Os CAPS são serviços abertos e comunitários do SUS, destinados a acolher pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, oferecendo atendimento humanizado e focado na reinserção social.
O que são os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial)?
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são serviços de saúde abertos e comunitários do Sistema Único de Saúde (SUS). Eles funcionam como a principal estratégia do movimento de reforma psiquiátrica, que busca substituir o modelo de tratamento centrado em hospitais psiquiátricos por uma rede de serviços territoriais e comunitários.
Os CAPS são lugares onde equipes multiprofissionais trabalham em conjunto para atender às necessidades de saúde mental das pessoas, incluindo aquelas que enfrentam desafios relacionados ao uso prejudicial de álcool e outras drogas. Esses serviços estão disponíveis na região onde a pessoa vive e são especialmente focados em ajudar em situações difíceis ou no processo de reabilitação psicossocial.
A proposta dos CAPS vai muito além do simples tratamento de sintomas. Eles buscam:
Promover a autonomia e protagonismo dos usuários
Fortalecer os laços familiares e comunitários
Apoiar iniciativas de trabalho e geração de renda
Garantir o exercício da cidadania
Reduzir internações psiquiátricas desnecessárias
Combater o estigma e o preconceito relacionados aos transtornos mentais
História e Importância dos CAPS no Brasil
Os CAPS surgiram no contexto da Reforma Psiquiátrica Brasileira, um movimento que começou no final da década de 1970 e ganhou força nos anos 1980 e 1990. Esse movimento questionava o modelo manicomial de tratamento em saúde mental, caracterizado por longas internações em hospitais psiquiátricos, isolamento social e violações de direitos humanos.
O primeiro CAPS do Brasil foi inaugurado em março de 1986, na cidade de São Paulo: o Centro de Atenção Psicossocial Professor Luiz da Rocha Cerqueira, conhecido como CAPS da Rua Itapeva. Essa experiência pioneira serviu de inspiração para a criação de muitos outros serviços semelhantes pelo país.
Em 2001, com a aprovação da Lei Federal 10.216 (Lei da Reforma Psiquiátrica), o modelo de atenção em saúde mental passou a ser oficialmente reorientado para serviços comunitários, com a progressiva redução de leitos em hospitais psiquiátricos. Os CAPS foram então regulamentados e expandidos como os principais serviços dessa nova política.
Hoje, os CAPS são considerados dispositivos estratégicos para a organização da rede de atenção em saúde mental no Brasil, sendo responsáveis pelo atendimento de milhares de pessoas em todo o país.
Tipos de CAPS e Quem Pode ser Atendido
Existem diferentes modalidades de CAPS, cada uma voltada para públicos específicos e com características próprias. Conhecer essas diferenças é importante para saber qual serviço procurar de acordo com a necessidade.
CAPS I
Atende pessoas de todas as faixas etárias que apresentam prioritariamente intenso sofrimento psíquico decorrente de problemas mentais graves e persistentes, incluindo aqueles relacionados ao uso de álcool e outras drogas.
Público: Adultos, adolescentes e crianças com transtornos mentais graves
Horário de funcionamento: De segunda a sexta-feira, durante o dia
Indicado para: Municípios ou regiões de saúde com população acima de 15 mil habitantes
CAPS II
Atende prioritariamente pessoas em intenso sofrimento psíquico decorrente de problemas mentais graves e persistentes, incluindo aqueles relacionados ao uso de álcool e outras drogas.
Público: Adultos com transtornos mentais graves e persistentes
Horário de funcionamento: De segunda a sexta-feira, durante o dia
Indicado para: Municípios ou regiões de saúde com população acima de 70 mil habitantes
CAPS III
Proporciona serviços de atenção contínua, com funcionamento 24 horas, incluindo feriados e finais de semana, ofertando retaguarda clínica e acolhimento noturno a outros serviços de saúde mental.
Público: Adultos com transtornos mentais graves e persistentes
Horário de funcionamento: 24 horas, todos os dias da semana, incluindo feriados
Diferencial: Possui até 5 leitos para acolhimento noturno (internações de curta duração)
Indicado para: Municípios ou regiões de saúde com população acima de 150 mil habitantes
CAPS i
Atende crianças e adolescentes que apresentam prioritariamente intenso sofrimento psíquico decorrente de problemas mentais graves e persistentes, incluindo aqueles relacionados ao uso de álcool e outras drogas.
Público: Exclusivamente crianças e adolescentes com transtornos mentais graves
Horário de funcionamento: De segunda a sexta-feira, durante o dia
Indicado para: Municípios ou regiões de saúde com população acima de 70 mil habitantes
CAPS AD (Álcool e Drogas)
Atende pessoas de todas as faixas etárias que apresentam intenso sofrimento psíquico decorrente do uso de álcool e outras drogas, e outras situações clínicas que impossibilitem estabelecer laços sociais e realizar projetos de vida.
Público: Pessoas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas
Horário de funcionamento: De segunda a sexta-feira, durante o dia
Indicado para: Municípios ou regiões de saúde com população acima de 70 mil habitantes
CAPS AD III
Atende adultos, crianças e adolescentes, considerando as normativas do Estatuto da Criança e do Adolescente, com sofrimento psíquico intenso e necessidades de cuidados clínicos contínuos relacionados ao uso de álcool e outras drogas.
Público: Pessoas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas
Horário de funcionamento: 24 horas, todos os dias da semana, incluindo feriados
Diferencial: Possui até 12 leitos de hospitalidade para observação e monitoramento
Indicado para: Municípios ou regiões com população acima de 150 mil habitantes
Saiba mais: Mesmo que sua cidade não tenha um CAPS específico para crianças e adolescentes (CAPSi) ou para usuários de álcool e drogas (CAPS AD), os outros tipos de CAPS também podem oferecer atendimento a esses públicos.
Quais Serviços são Oferecidos nos CAPS?
Os CAPS oferecem uma ampla gama de serviços e atividades terapêuticas, adaptados às necessidades de cada pessoa. O atendimento é personalizado, considerando a história de vida, contexto social e familiar, e as particularidades de cada situação.
Atendimentos Individuais
Consultas com psiquiatra: Avaliação, diagnóstico e prescrição de medicamentos quando necessário
Atendimento psicológico: Psicoterapia individual para trabalhar questões emocionais e comportamentais
Consultas de enfermagem: Acompanhamento de saúde geral e orientações sobre medicação
Atendimento social: Orientação sobre direitos, benefícios e acesso a outros serviços públicos
Terapia ocupacional: Atividades que promovem autonomia e desenvolvimento de habilidades
Atendimentos em Grupo
Grupos terapêuticos: Espaços de fala, escuta e troca de experiências
Oficinas terapêuticas: Atividades artísticas, culturais e de geração de renda
Grupos de familiares: Suporte e orientação para familiares e cuidadores
Assembleias: Reuniões para discussão sobre o funcionamento do serviço
Grupos de medicação: Orientação sobre o uso correto dos medicamentos
Atividades Comunitárias
Ações de cultura e lazer: Passeios, visitas a museus, cinema, parques
Atividades esportivas: Práticas corporais e esportivas
Festas e comemorações: Celebração de datas importantes
Ações de economia solidária: Feiras, bazares e outras iniciativas de geração de renda
Participação em eventos comunitários: Integração com a comunidade local
Atenção à Crise
Acolhimento em situações de crise: Atendimento imediato em momentos de agravamento dos sintomas
Hospitalidade diurna: Permanência no serviço durante o dia para manejo de crises
Hospitalidade noturna: Nos CAPS III e CAPS AD III, possibilidade de pernoite para observação e cuidados intensivos
Visitas domiciliares: Atendimento na residência em situações específicas
Articulação com outros serviços: Encaminhamento para hospitais gerais quando necessário
Medicação Assistida
Os CAPS também oferecem medicação gratuita para o tratamento de transtornos mentais. O fornecimento pode ocorrer de diferentes formas:
Dispensação de medicamentos: Entrega dos medicamentos prescritos para uso domiciliar
Administração supervisionada: Para pessoas que precisam de apoio para tomar a medicação corretamente
Orientação farmacêutica: Informações sobre o uso correto, possíveis efeitos colaterais e interações medicamentosas
Os medicamentos disponíveis incluem antidepressivos, estabilizadores de humor, antipsicóticos, ansiolíticos e outros, conforme a necessidade de cada pessoa e a disponibilidade na rede pública.
Como Acessar os Serviços do CAPS
O acesso aos CAPS é gratuito e pode ocorrer de diferentes formas. Conheça os caminhos possíveis para iniciar o atendimento:
Demanda Espontânea (Procura Direta)
Qualquer pessoa pode procurar diretamente um CAPS, sem necessidade de encaminhamento. Basta comparecer ao serviço nos horários de funcionamento e solicitar atendimento. Este é um dos princípios fundamentais dos CAPS: serem serviços de "portas abertas", acessíveis a quem precisa.
Ao chegar ao CAPS, a pessoa passará por um acolhimento inicial, onde um profissional da equipe fará uma escuta qualificada para entender a situação e as necessidades. A partir desse primeiro contato, será definido o tipo de acompanhamento mais adequado.
Encaminhamento de Outros Serviços
O atendimento no CAPS também pode ser iniciado por meio de encaminhamento proveniente de outros serviços da rede de saúde ou de setores interligados, como:
Unidades Básicas de Saúde (UBS): Porta de entrada preferencial do SUS
Serviços de urgência e emergência: UPAs, pronto-socorros, SAMU
Hospitais gerais ou psiquiátricos: Após internação
Serviços de Assistência Social: CRAS, CREAS
Sistema de Justiça: Poder Judiciário, Ministério Público
Escolas e outros serviços da rede intersetorial
Mesmo com encaminhamento, é importante ressaltar que a pessoa será acolhida e avaliada pela equipe do CAPS, que definirá se esse é o serviço mais adequado para o caso ou se outro tipo de atendimento seria mais indicado.
Passo a Passo para Acessar o CAPS
Identificar o CAPS mais próximo: Procure informações na Unidade Básica de Saúde (UBS) do seu bairro, na Secretaria Municipal de Saúde ou pelo telefone 136 (Disque Saúde).
Documentos necessários: Leve seus documentos pessoais (RG, CPF), cartão do SUS (pode ser feito na hora se não tiver) e comprovante de residência.
Acolhimento inicial: Ao chegar ao CAPS, você passará por um acolhimento, onde um profissional ouvirá suas necessidades e fará uma avaliação inicial.
Elaboração do Projeto Terapêutico Singular (PTS): Após a avaliação, será elaborado um plano de cuidados personalizado, considerando suas necessidades específicas.
Início do acompanhamento: De acordo com o PTS, você começará a participar das atividades e atendimentos indicados.
Reavaliações periódicas: O PTS será reavaliado periodicamente para ajustes conforme sua evolução.
Atenção! Em situações de crise ou emergência em saúde mental, como risco de suicídio, surtos psicóticos ou intoxicação grave por substâncias, procure imediatamente o CAPS III (se houver na sua região), o SAMU (192) ou a emergência do hospital mais próximo.
Quem Pode Ser Atendido nos CAPS
Os CAPS são destinados principalmente a pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, que apresentam sofrimento psíquico intenso e dificuldades significativas de se relacionar e realizar seus projetos de vida. Isso inclui:
Pessoas com diagnósticos como esquizofrenia, transtorno bipolar, depressão grave, transtornos de ansiedade graves
Pessoas com necessidades decorrentes do uso prejudicial de álcool e outras drogas
Crianças e adolescentes com transtornos mentais graves
Pessoas em situação de crise psiquiátrica aguda
Pessoas com histórico de longas internações psiquiátricas (institucionalização)
É importante ressaltar que nem todos os casos de sofrimento psíquico precisam ser atendidos nos CAPS. Casos leves a moderados podem ser acompanhados nas Unidades Básicas de Saúde, que contam com equipes de saúde da família e, em alguns casos, com o apoio do Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF).
Como Funciona o Atendimento no CAPS
O atendimento no CAPS é baseado em um modelo de atenção psicossocial, que considera a pessoa em sua totalidade e busca promover sua autonomia e cidadania. Conheça as principais características desse atendimento:
Acolhimento
O acolhimento é o primeiro contato da pessoa com o serviço. Não se trata apenas de uma triagem ou avaliação inicial, mas de uma postura ética que permeia todo o processo de cuidado. No acolhimento:
A pessoa é ouvida com atenção e respeito
Suas necessidades são identificadas
É feita uma primeira avaliação da situação
São dadas orientações iniciais
É estabelecido um vínculo com o serviço
O acolhimento pode ser realizado por qualquer profissional da equipe e deve estar disponível durante todo o período de funcionamento do serviço, sem necessidade de agendamento prévio.
Projeto Terapêutico Singular (PTS)
O Projeto Terapêutico Singular (PTS) é um conjunto de propostas e condutas terapêuticas articuladas, resultado da discussão coletiva da equipe interdisciplinar, com a participação do usuário e, quando possível, de sua família.
O PTS é personalizado, considerando as particularidades de cada pessoa, e inclui:
Diagnóstico situacional (não apenas clínico, mas também social, familiar, cultural)
Definição de metas a serem alcançadas
Divisão de responsabilidades
Reavaliação periódica
Cada usuário do CAPS tem um profissional de referência, responsável pelo acompanhamento mais próximo do seu caso e pela articulação com a equipe e outros serviços quando necessário.
Intensidade do Cuidado
De acordo com as necessidades de cada pessoa, o atendimento no CAPS pode ter diferentes intensidades:
Atendimento intensivo: Atendimento diário, oferecido quando a pessoa se encontra em situação de crise ou dificuldades graves de convívio social e familiar, precisando de atenção contínua. Pode incluir mais de um atendimento/atividade por dia.
Atendimento semi-intensivo: Atendimento frequente, oferecido quando o sofrimento e a desestruturação psíquica da pessoa diminuíram, melhorando as possibilidades de relacionamento, mas ainda necessita de atenção direta da equipe. Pode incluir até 12 atendimentos/atividades por mês.
Atendimento não-intensivo: Atendimento menos frequente, oferecido quando a pessoa não precisa de suporte contínuo da equipe para viver em seu território e realizar suas atividades na família e/ou no trabalho. Pode incluir até 3 atendimentos/atividades por mês.
A intensidade do cuidado pode variar ao longo do tempo, de acordo com a evolução de cada caso, sendo reavaliada periodicamente pela equipe junto com o usuário.
Trabalho em Rede
Os CAPS não funcionam isoladamente, mas como parte de uma rede de cuidados em saúde mental, a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Isso significa que o CAPS articula-se com outros serviços e recursos do território, como:
Unidades Básicas de Saúde
Hospitais Gerais
Serviços de Urgência e Emergência
Serviços Residenciais Terapêuticos
Centros de Convivência e Cultura
Serviços de Assistência Social
Escolas e universidades
Associações comunitárias
Espaços de cultura, lazer e esporte
Essa articulação é fundamental para garantir a integralidade do cuidado e a inclusão social das pessoas com transtornos mentais.
Equipe Profissional dos CAPS
Os CAPS contam com equipes multiprofissionais, compostas por profissionais de diferentes áreas que trabalham de forma interdisciplinar. A composição da equipe pode variar de acordo com o tipo de CAPS, mas geralmente inclui:
Profissionais de Nível Superior
Médico Psiquiatra: Responsável pelo diagnóstico, prescrição de medicamentos e acompanhamento clínico-psiquiátrico
Psicólogo: Realiza atendimentos psicoterapêuticos individuais e em grupo
Enfermeiro: Coordena a equipe de enfermagem e realiza cuidados específicos de sua área
Assistente Social: Trabalha questões sociais, familiares e de acesso a direitos
Terapeuta Ocupacional: Desenvolve atividades que promovem autonomia e reabilitação
Outros profissionais: Dependendo do CAPS, pode haver também fonoaudiólogos, educadores físicos, nutricionistas, farmacêuticos, entre outros
Profissionais de Nível Médio
Técnicos de Enfermagem: Auxiliam nos cuidados de enfermagem e na administração de medicamentos
Artesãos: Coordenam oficinas de artesanato e atividades expressivas
Técnicos Administrativos: Responsáveis pelo funcionamento administrativo do serviço
Outros profissionais: Podem incluir técnicos de farmácia, cuidadores, entre outros
Além dos profissionais contratados, os CAPS podem contar com estagiários, residentes e voluntários que contribuem para o enriquecimento das atividades oferecidas.
Trabalho Interdisciplinar
Uma característica fundamental do trabalho nos CAPS é a interdisciplinaridade. Isso significa que os profissionais de diferentes áreas trabalham de forma integrada, compartilhando saberes e responsabilidades, e não de forma fragmentada ou isolada.
Essa abordagem permite um olhar mais amplo e completo sobre as necessidades de cada pessoa, considerando não apenas os aspectos biológicos, mas também os psicológicos, sociais e culturais envolvidos no processo de sofrimento e recuperação.
Direitos dos Usuários dos CAPS
As pessoas atendidas nos CAPS têm direitos garantidos por lei, especialmente pela Lei 10.216/2001 (Lei da Reforma Psiquiátrica). Conhecer esses direitos é fundamental para um atendimento digno e de qualidade.
Direitos Básicos
Acesso ao melhor tratamento: Direito ao melhor tratamento do sistema de saúde, de acordo com suas necessidades
Tratamento humanizado e respeitoso: Ser tratado com humanidade e respeito, visando alcançar sua recuperação e reinserção social
Proteção contra abusos: Ser protegido contra qualquer forma de abuso ou exploração
Sigilo e confidencialidade: Ter garantia de sigilo nas informações prestadas
Presença médica: Ter acesso ao médico a qualquer tempo para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária
Informação: Receber o maior número de informações a respeito de sua doença e tratamento
Ambiente terapêutico: Ser tratado em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis
Tratamento em serviços comunitários: Ser tratado, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental
Participação no Tratamento
Os usuários dos CAPS têm direito a participar ativamente de seu tratamento, o que inclui:
Participar da elaboração do seu Projeto Terapêutico Singular
Receber informações claras sobre seu diagnóstico, tratamento e medicação
Consentir ou recusar, de forma livre e esclarecida, procedimentos diagnósticos ou terapêuticos
Participar das assembleias e outros espaços coletivos de decisão do serviço
Ter acesso ao seu prontuário
Direitos Sociais e Previdenciários
Além dos direitos relacionados diretamente ao tratamento, as pessoas com transtornos mentais podem ter acesso a diversos direitos sociais e previdenciários, como:
Benefício de Prestação Continuada (BPC): Benefício assistencial no valor de um salário mínimo para pessoas com deficiência (incluindo transtornos mentais graves) que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção
Auxílio-doença: Benefício previdenciário para segurados do INSS que estejam temporariamente incapacitados para o trabalho
Aposentadoria por invalidez: Para casos de incapacidade permanente para o trabalho
Programa De Volta Para Casa: Auxílio-reabilitação para pessoas com histórico de longas internações psiquiátricas
Passe livre: Gratuidade no transporte público em alguns municípios
Os profissionais do CAPS, especialmente os assistentes sociais, podem orientar sobre como acessar esses direitos.
O Papel da Família no Tratamento
A família desempenha um papel fundamental no tratamento e na reabilitação psicossocial das pessoas com transtornos mentais. Os CAPS reconhecem essa importância e buscam incluir os familiares no processo de cuidado.
Como a Família Pode Participar
Grupos de família: Participação em grupos específicos para familiares, onde podem compartilhar experiências, dúvidas e receber orientações
Atendimentos familiares: Consultas com profissionais para discutir questões específicas do caso
Participação no PTS: Contribuir para a elaboração e acompanhamento do Projeto Terapêutico Singular
Atividades comunitárias: Participar de festas, passeios e outras atividades promovidas pelo CAPS
Assembleias: Participar das assembleias e outros espaços coletivos de decisão do serviço
Orientações para Familiares
Lidar com um familiar com transtorno mental pode ser desafiador. Algumas orientações importantes:
Busque informação: Conhecer o transtorno ajuda a compreender melhor os comportamentos e a lidar com as situações difíceis
Cuide da comunicação: Mantenha uma comunicação clara, respeitosa e sem julgamentos
Incentive a autonomia: Estimule a independência dentro das possibilidades, evitando a superproteção
Respeite o ritmo: Cada pessoa tem seu próprio tempo de recuperação
Valorize os avanços: Reconheça e celebre as pequenas conquistas
Cuide de si mesmo: O cuidador também precisa de cuidados e momentos de descanso
Busque apoio: Não hesite em pedir ajuda quando necessário
Os CAPS também oferecem suporte para os familiares, reconhecendo que eles também podem vivenciar sobrecarga e sofrimento no processo de cuidar.
Associações de Familiares e Usuários
Em muitas cidades existem associações de familiares e usuários de serviços de saúde mental, que são importantes espaços de apoio mútuo, troca de experiências e luta por direitos. Os CAPS podem fornecer informações sobre essas associações e incentivar a participação.
Histórias de Sucesso: Transformações através do CAPS
Para ilustrar o impacto positivo que o atendimento nos CAPS pode ter na vida das pessoas, compartilhamos algumas histórias reais (com nomes fictícios para preservar a identidade):
A História de Carlos
Carlos, 35 anos, foi diagnosticado com esquizofrenia aos 20 anos. Passou por diversas internações em hospitais psiquiátricos, onde permanecia por longos períodos, afastado da família e da comunidade. Após a última internação, foi encaminhado ao CAPS de sua cidade.
No CAPS, Carlos começou a participar de diversas atividades, como oficinas de música e grupos terapêuticos. Recebeu medicação adequada e acompanhamento regular com psiquiatra e psicólogo. Sua família também foi incluída no tratamento, participando de grupos de familiares.
Aos poucos, Carlos foi se estabilizando. Há cinco anos não precisa mais de internações. Hoje, frequenta o CAPS duas vezes por semana, participa de uma oficina de geração de renda onde produz artesanato, e voltou a morar com a família. Recentemente, começou um curso de informática e sonha em trabalhar na área.
A História de Mariana
Mariana, 28 anos, desenvolveu um quadro grave de depressão após o nascimento de sua filha. Pensava em suicídio e não conseguia cuidar do bebê. Foi levada pela mãe ao pronto-socorro e, após avaliação, encaminhada ao CAPS.
No CAPS, Mariana recebeu atendimento intensivo, incluindo medicação antidepressiva, psicoterapia individual e participação em um grupo de mulheres. A equipe também realizou visitas domiciliares para acompanhar sua relação com a filha e orientar a família.
Com o tempo, Mariana foi melhorando. O vínculo com a filha se fortaleceu e ela voltou a se interessar por atividades que antes lhe davam prazer. Após um ano de tratamento intensivo, passou para o regime semi-intensivo e, atualmente, vai ao CAPS apenas uma vez por mês para consulta com o psiquiatra e participação no grupo. Voltou a trabalhar e cuida da filha com autonomia.
A História de Pedro
Pedro, 42 anos, tinha problemas com o uso abusivo de álcool há mais de 15 anos. Perdeu o emprego, a família se afastou e ele chegou a viver em situação de rua. Foi abordado por uma equipe de Consultório na Rua, que o encaminhou ao CAPS AD.
No CAPS AD, Pedro foi acolhido e iniciou um tratamento que incluía desintoxicação, medicação para controle da abstinência, grupos terapêuticos e oficinas de arte. Também foi encaminhado para um abrigo temporário, onde poderia ficar enquanto se reorganizava.
O processo não foi linear, com algumas recaídas no caminho, mas a equipe do CAPS manteve o acolhimento e o vínculo. Pedro participou de um grupo de economia solidária, onde aprendeu a fazer pães artesanais. Com o tempo, conseguiu alugar um pequeno quarto, retomou contato com a família e hoje vende seus pães em feiras da cidade, mantendo-se abstinente há dois anos.
Estas histórias ilustram como o modelo de atenção dos CAPS, baseado no cuidado em liberdade, no território e com foco na reabilitação psicossocial, pode transformar vidas e promover cidadania.
Perguntas Frequentes sobre os CAPS
1. Preciso de encaminhamento médico para ser atendido no CAPS?
Não, os CAPS funcionam com "portas abertas", ou seja, qualquer pessoa pode procurar o serviço diretamente, sem necessidade de encaminhamento. Ao chegar, você passará por um acolhimento inicial, onde será avaliado se o CAPS é o serviço mais adequado para o seu caso.
2. O atendimento no CAPS é gratuito?
Sim, todos os serviços oferecidos pelos CAPS são totalmente gratuitos, pois fazem parte do Sistema Único de Saúde (SUS). Isso inclui consultas, medicamentos, atividades terapêuticas e outros procedimentos.
3. Posso ser internado no CAPS?
Os CAPS não são serviços de internação no sentido tradicional. No entanto, os CAPS III e CAPS AD III oferecem acolhimento noturno, que é uma modalidade de cuidado intensivo por um curto período (geralmente até 14 dias), para manejo de crises ou situações específicas. Este acolhimento noturno é diferente de uma internação hospitalar, pois a pessoa continua participando das atividades do serviço durante o dia e mantém contato com sua família e comunidade.
4. E se não houver CAPS na minha cidade?
Se não houver CAPS na sua cidade, procure a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima. A UBS pode oferecer atendimento em saúde mental ou encaminhar para o serviço especializado mais próximo. Em alguns casos, existem CAPS regionais que atendem a população de vários municípios pequenos.
5. Como saber qual tipo de CAPS devo procurar?
Você pode procurar qualquer CAPS da sua região, independentemente do tipo. Durante o acolhimento inicial, a equipe avaliará se aquele é o serviço mais adequado para o seu caso ou se você deve ser encaminhado para outro tipo de CAPS ou outro serviço da rede.
6. O CAPS atende emergências?
Os CAPS III e CAPS AD III, que funcionam 24 horas, podem atender situações de crise e emergências em saúde mental. Os outros tipos de CAPS atendem emergências durante seu horário de funcionamento. Fora desses horários, as emergências devem ser direcionadas para o SAMU (192), UPAs ou pronto-socorros.
7. Posso continuar trabalhando/estudando enquanto faço tratamento no CAPS?
Sim, o tratamento no CAPS é flexível e pode ser adaptado à sua rotina. Dependendo da sua condição e necessidades, você pode frequentar o serviço em diferentes intensidades (intensivo, semi-intensivo ou não-intensivo) e em horários compatíveis com suas atividades de trabalho ou estudo. Um dos objetivos do CAPS é justamente promover a inclusão social e a autonomia, o que inclui apoiar a manutenção ou retomada de atividades produtivas e educacionais.
Conclusão
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) representam uma importante conquista na área da saúde mental no Brasil, oferecendo um modelo de cuidado humanizado, territorial e focado na reabilitação psicossocial. Eles são a concretização de uma luta histórica por um tratamento digno e respeitoso para pessoas com transtornos mentais, em contraposição ao modelo manicomial.
Se você ou alguém próximo está enfrentando problemas de saúde mental, saiba que não está sozinho e que existem serviços gratuitos e de qualidade disponíveis no SUS. O primeiro passo para buscar ajuda pode ser difícil, mas é também o início de uma jornada de recuperação e reconstrução.
Os CAPS estão de portas abertas para acolher, cuidar e apoiar as pessoas em seu processo de recuperação, sempre respeitando seus direitos, sua dignidade e seu potencial para uma vida plena e cidadã.
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