Dependência Química: Como Acessar Tratamento Gratuito pelo SUS
Saiba como o SUS oferece tratamento gratuito para dependência química, desde o acolhimento inicial até a reabilitação e reinserção social.
6/6/202516 min read


Dependência Química: Tratamento e Reabilitação pelo SUS
A dependência química é uma doença que afeta milhões de brasileiros e suas famílias. Diferente do que muitos pensam, não é uma questão de "força de vontade" ou "caráter", mas sim uma condição de saúde reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que requer tratamento adequado e apoio contínuo.
A boa notícia é que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento gratuito e humanizado para pessoas que enfrentam problemas com álcool e outras drogas. Neste artigo, você vai descobrir como acessar esses serviços, quais são as opções de tratamento disponíveis e como funciona todo o processo de reabilitação e reinserção social.
Importante: A dependência química é considerada uma doença pela OMS desde a década de 1970. O SUS garante atendimento gratuito para qualquer pessoa, em qualquer idade, que enfrente problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas.
O que é Dependência Química e Como Reconhecê-la
A dependência química é uma doença crônica caracterizada pelo uso compulsivo de substâncias psicoativas, apesar das consequências negativas para a saúde física, mental e social da pessoa. É uma condição multifatorial, influenciada por aspectos biológicos, psicológicos e sociais.
De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), a dependência química é classificada entre os códigos F10 e F19, que abrangem transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de substâncias psicoativas.
Sinais e Sintomas da Dependência Química
Para que o diagnóstico de dependência química seja realizado, é preciso que três ou mais dos seguintes sintomas estejam presentes:
Forte desejo ou compulsão para consumir a substância
Dificuldade de controlar o início, término ou quantidade do uso
Síndrome de abstinência quando o uso é reduzido ou interrompido
Tolerância (necessidade de doses crescentes para obter o mesmo efeito)
Abandono progressivo de prazeres e interesses em favor do uso da substância
Persistência no uso apesar de evidências claras de consequências nocivas
Impactos na Saúde e na Vida
A dependência química pode causar diversos problemas de saúde, dependendo da substância utilizada e do padrão de uso. Entre as complicações mais comuns estão:
Problemas físicos: doenças hepáticas, cardíacas, neurológicas, respiratórias
Problemas mentais: depressão, ansiedade, psicose, risco de suicídio
Problemas sociais: conflitos familiares, isolamento, perda de emprego, problemas legais
Problemas financeiros: gastos excessivos com a substância, dívidas, perda de bens
Além disso, o uso de substâncias está associado a mais de 200 problemas de saúde e é fator de risco relevante para violência e acidentes de trânsito.
A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do SUS
O tratamento para dependência química no SUS é oferecido através da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), um conjunto integrado e articulado de serviços de saúde mental que atende pessoas com sofrimento psíquico e necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas.
A RAPS foi instituída pela Portaria GM/MS 3.088/2011 (incorporada na Portaria de Consolidação 03/2017) e representa uma importante conquista da Reforma Psiquiátrica Brasileira, que busca oferecer cuidados em liberdade, no território e com foco na reabilitação psicossocial.
Princípios e Diretrizes da RAPS
O tratamento oferecido pela RAPS é baseado em princípios humanitários e científicos, incluindo:
Respeito aos direitos humanos, garantindo a autonomia e a liberdade das pessoas
Combate ao estigma e ao preconceito relacionados à dependência química
Atenção humanizada e centrada nas necessidades individuais
Cuidado integral e assistência multiprofissional
Estratégias de redução de danos
Ênfase na reabilitação e reinserção social
Componentes da RAPS para Tratamento da Dependência Química
A RAPS é formada por diversos serviços que atuam de forma integrada. Os principais componentes para o tratamento da dependência química são:
Atenção Básica em Saúde: Unidades Básicas de Saúde (UBS), Consultórios na Rua, Centros de Convivência
Atenção Psicossocial Especializada: Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), especialmente os CAPS AD (Álcool e Drogas)
Atenção de Urgência e Emergência: SAMU 192, Salas de Estabilização, UPA 24h
Atenção Residencial de Caráter Transitório: Unidades de Acolhimento (UA), Serviços de Atenção em Regime Residencial
Atenção Hospitalar: Enfermarias especializadas em Hospitais Gerais
Estratégias de Desinstitucionalização: Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), Programa de Volta para Casa (PVC)
Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD)
Os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) são serviços especializados no atendimento de pessoas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas. Eles funcionam como a principal porta de entrada para o tratamento especializado da dependência química no SUS.
Tipos de CAPS AD
Existem dois tipos principais de CAPS AD:
CAPS AD: Atende pessoas de todas as faixas etárias com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas. Funciona de segunda a sexta-feira, durante o dia, em municípios com população acima de 70 mil habitantes.
CAPS AD III: Oferece atendimento 24 horas, todos os dias da semana, incluindo feriados. Possui até 12 leitos para observação e monitoramento. Indicado para municípios com população acima de 150 mil habitantes.
Serviços Oferecidos nos CAPS AD
Os CAPS AD oferecem uma ampla gama de serviços, adaptados às necessidades de cada pessoa:
Acolhimento inicial: Avaliação da situação e das necessidades da pessoa
Atendimento individual: Consultas com psiquiatra, psicólogo, assistente social e outros profissionais
Atendimento em grupo: Grupos terapêuticos, oficinas terapêuticas, grupos de familiares
Atendimento familiar: Orientação e suporte para familiares
Atividades comunitárias: Ações de reabilitação psicossocial
Atenção às situações de crise: Acolhimento intensivo, desintoxicação ambulatorial
Hospitalidade diurna e noturna: Nos CAPS AD III, possibilidade de permanência no serviço por curtos períodos
Matriciamento: Apoio técnico a outros serviços da rede
Como Acessar o CAPS AD
O acesso ao CAPS AD pode ocorrer de duas formas principais:
Demanda espontânea: A própria pessoa pode procurar diretamente o serviço, sem necessidade de encaminhamento. Basta comparecer ao CAPS AD mais próximo durante o horário de funcionamento.
Encaminhamento: A pessoa pode ser encaminhada por outros serviços da rede de saúde (UBS, hospitais, SAMU) ou por serviços de outros setores (assistência social, justiça, educação).
Para o primeiro atendimento, é recomendável levar documentos pessoais (RG, CPF), cartão do SUS e comprovante de residência, mas a falta desses documentos não impede o acolhimento inicial.
Dica: Para encontrar o CAPS AD mais próximo, procure informações na Unidade Básica de Saúde do seu bairro, na Secretaria Municipal de Saúde ou ligue para o Disque Saúde (136).
Outros Serviços da RAPS para Dependência Química
Além dos CAPS AD, a RAPS oferece outros serviços importantes para o tratamento da dependência química:
Unidades Básicas de Saúde (UBS)
As UBS são a porta de entrada preferencial do SUS e oferecem:
Identificação precoce de problemas relacionados ao uso de substâncias
Intervenções breves para casos leves
Acompanhamento de pessoas em tratamento nos CAPS
Ações de prevenção e promoção da saúde
Encaminhamento para serviços especializados quando necessário
Unidades de Acolhimento (UA)
As Unidades de Acolhimento são serviços residenciais transitórios que oferecem:
Acolhimento voluntário e cuidados contínuos por até 6 meses
Ambiente protegido e técnicamente preparado
Projeto terapêutico singular em articulação com o CAPS de referência
Promoção da reinserção social
Existem dois tipos de UA: para adultos (maiores de 18 anos) e para crianças e adolescentes (entre 10 e 18 anos incompletos).
Serviços de Atenção em Regime Residencial
Incluem as Comunidades Terapêuticas, que oferecem:
Acolhimento voluntário para pessoas com dependência química
Ambiente residencial com foco na convivência entre os pares
Tempo de permanência de até 9 meses
Atividades práticas de formação, capacitação e desenvolvimento pessoal
Esses serviços devem estar articulados com a rede pública de saúde e assistência social.
Leitos em Hospitais Gerais
Para casos que necessitam de internação hospitalar, o SUS oferece:
Leitos em enfermarias especializadas em hospitais gerais
Internações de curta duração (7 a 14 dias em média)
Tratamento de intoxicações graves, síndrome de abstinência e comorbidades
Equipe multiprofissional capacitada
A internação deve ser o último recurso, indicada apenas quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes.
Abordagens Terapêuticas para Dependência Química no SUS
O tratamento da dependência química no SUS é baseado em evidências científicas e utiliza diversas abordagens terapêuticas, adaptadas às necessidades de cada pessoa.
Tratamento Farmacológico
Medicamentos podem ser utilizados para:
Manejo da intoxicação aguda: Medicamentos para controlar os efeitos imediatos do uso de substâncias
Tratamento da síndrome de abstinência: Medicamentos para aliviar os sintomas de abstinência e prevenir complicações
Tratamento de manutenção: Medicamentos para reduzir a fissura e prevenir recaídas
Tratamento de comorbidades: Medicamentos para tratar condições associadas, como depressão, ansiedade, psicose
Os medicamentos são prescritos por médicos e fornecidos gratuitamente pelo SUS, através da farmácia do próprio serviço ou da rede de farmácias do SUS.
Abordagens Psicossociais
As intervenções psicossociais são fundamentais no tratamento e incluem:
Psicoterapia individual: Abordagens como a Terapia Cognitivo-Comportamental, Entrevista Motivacional, Prevenção de Recaída
Psicoterapia em grupo: Grupos terapêuticos específicos para dependência química
Terapia familiar: Envolvimento da família no processo de recuperação
Oficinas terapêuticas: Atividades artísticas, culturais, de geração de renda
Grupos de ajuda mútua: Articulação com grupos como AA (Alcoólicos Anônimos) e NA (Narcóticos Anônimos)
Redução de Danos
A Redução de Danos é uma abordagem pragmática e humanitária que visa minimizar os danos associados ao uso de substâncias, mesmo quando a pessoa não consegue ou não deseja parar completamente. Estratégias incluem:
Orientações sobre uso mais seguro de substâncias
Prevenção de doenças transmissíveis
Prevenção de overdose
Melhoria da qualidade de vida e da saúde geral
Construção de vínculos com os serviços de saúde
A Redução de Danos é uma diretriz oficial da política de saúde mental do SUS e pode ser a porta de entrada para o tratamento.
O Processo de Tratamento: Passo a Passo
O tratamento da dependência química é um processo que envolve várias etapas e pode variar de acordo com as necessidades de cada pessoa. Conheça o caminho típico:
1. Acolhimento Inicial
O primeiro contato com o serviço é fundamental para estabelecer vínculo e iniciar o processo de cuidado:
Escuta qualificada e sem julgamentos
Avaliação inicial das necessidades
Orientações sobre o funcionamento do serviço
Início da construção do vínculo terapêutico
2. Avaliação Multidisciplinar
Uma avaliação completa é realizada por diferentes profissionais:
Avaliação médica: história clínica, exame físico, solicitação de exames
Avaliação psicológica: histórico do uso de substâncias, aspectos emocionais, motivação para o tratamento
Avaliação social: condições de vida, rede de apoio, necessidades sociais
Avaliação familiar: dinâmica familiar, possibilidades de apoio
3. Elaboração do Projeto Terapêutico Singular (PTS)
Com base na avaliação, é elaborado um plano de cuidados personalizado:
Definição de metas a curto, médio e longo prazo
Escolha das intervenções mais adequadas
Definição da intensidade do cuidado (intensivo, semi-intensivo, não-intensivo)
Identificação do profissional de referência
Participação ativa da pessoa e, quando possível, da família
4. Desintoxicação (quando necessário)
Para pessoas com síndrome de abstinência ou intoxicação grave:
Pode ser realizada ambulatorialmente no CAPS AD ou em hospital geral
Uso de medicamentos para alívio dos sintomas
Monitoramento clínico
Suporte psicossocial durante o processo
5. Tratamento Intensivo
Fase inicial do tratamento, com foco na estabilização:
Atendimentos frequentes (diários ou várias vezes por semana)
Manejo da fissura e prevenção de recaídas
Tratamento de comorbidades
Fortalecimento da motivação
6. Tratamento de Manutenção
Após a estabilização inicial, o foco passa a ser a manutenção da abstinência ou do uso controlado:
Atendimentos menos frequentes
Desenvolvimento de habilidades para lidar com situações de risco
Reconstrução de vínculos familiares e sociais
Reinserção em atividades produtivas e de lazer
7. Reabilitação Psicossocial e Reinserção Social
Fase focada na reconstrução da vida além da dependência:
Participação em oficinas de geração de renda
Retorno aos estudos ou qualificação profissional
Inserção no mercado de trabalho
Fortalecimento de vínculos comunitários
Desenvolvimento de atividades de lazer e cultura
8. Acompanhamento Contínuo
A dependência química é uma condição crônica que requer acompanhamento a longo prazo:
Consultas periódicas de manutenção
Participação em grupos de apoio
Monitoramento de recaídas
Ajustes no plano de tratamento quando necessário
Importante: O tratamento não é linear e recaídas podem ocorrer. Elas devem ser vistas como parte do processo de recuperação e não como fracasso. O importante é não desistir e buscar ajuda imediatamente em caso de recaída.
O Papel da Família no Tratamento
A família desempenha um papel fundamental no tratamento da dependência química. O envolvimento familiar pode aumentar significativamente as chances de sucesso do tratamento.
Como a Família Pode Ajudar
Apoio emocional: Oferecer compreensão, paciência e encorajamento
Participação no tratamento: Comparecer às reuniões familiares, grupos de família
Ambiente favorável: Criar um ambiente doméstico que apoie a recuperação
Estabelecimento de limites: Definir regras claras e consequências
Autocuidado: Cuidar da própria saúde física e emocional
Serviços para Familiares no SUS
O SUS oferece diversos serviços de apoio para familiares:
Grupos de família nos CAPS AD: Espaços de troca de experiências e orientação
Atendimento familiar: Consultas com profissionais para abordar questões específicas
Visitas domiciliares: Acompanhamento da dinâmica familiar em seu contexto
Orientação sobre codependência: Ajuda para familiares que desenvolveram padrões disfuncionais de relacionamento
Grupos de Apoio para Familiares
Além dos serviços do SUS, existem grupos de ajuda mútua específicos para familiares:
Al-Anon: Para familiares e amigos de alcoólicos
Nar-Anon: Para familiares e amigos de dependentes de outras drogas
Alateen: Para jovens (13 a 19 anos) afetados pelo alcoolismo de um familiar
Amor Exigente: Para familiares de dependentes químicos e pessoas com comportamentos inadequados
Esses grupos são gratuitos e funcionam de forma autônoma, mas muitas vezes têm parcerias com os serviços do SUS.
Direitos da Pessoa com Dependência Química
As pessoas com dependência química têm direitos garantidos por lei, especialmente pela Lei 10.216/2001 (Lei da Reforma Psiquiátrica) e pela Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas).
Direitos Básicos
Direito ao tratamento: Acesso a tratamento gratuito e de qualidade no SUS
Tratamento humanizado: Ser tratado com respeito e dignidade, sem discriminação
Sigilo e confidencialidade: Garantia de privacidade das informações
Consentimento informado: Receber informações claras sobre o tratamento e consentir livremente
Tratamento menos restritivo: Ser tratado preferencialmente em serviços comunitários
Proteção contra abusos: Não ser submetido a tratamentos degradantes ou desumanos
Internação Involuntária e Compulsória
A internação para tratamento da dependência química pode ocorrer de três formas:
Internação voluntária: Com o consentimento da pessoa
Internação involuntária: Sem o consentimento da pessoa, a pedido de terceiro (geralmente familiar)
Internação compulsória: Determinada pela Justiça
As internações involuntária e compulsória são medidas excepcionais, utilizadas apenas quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes. Elas devem ser comunicadas ao Ministério Público em até 72 horas e terminam por solicitação escrita do familiar, por determinação do médico ou por ordem judicial.
Direitos Sociais e Previdenciários
Dependendo da situação, a pessoa com dependência química pode ter acesso a:
Benefício de Prestação Continuada (BPC): Para pessoas com incapacidade para o trabalho e baixa renda
Auxílio-doença: Para segurados do INSS temporariamente incapacitados para o trabalho
Aposentadoria por invalidez: Para casos de incapacidade permanente
Programa De Volta Para Casa: Para pessoas egressas de longas internações
Os profissionais do CAPS, especialmente os assistentes sociais, podem orientar sobre como acessar esses direitos.
Histórias de Sucesso: Recuperação Através do SUS
Para ilustrar como o tratamento no SUS pode transformar vidas, compartilhamos algumas histórias reais (com nomes fictícios para preservar a identidade):
A História de João
João, 42 anos, começou a beber na adolescência e desenvolveu dependência de álcool aos 30 anos. Perdeu o emprego, separou-se da esposa e chegou a viver em situação de rua. Foi abordado por uma equipe de Consultório na Rua, que o encaminhou ao CAPS AD.
No CAPS, João recebeu acolhimento e iniciou um tratamento que incluía medicação para controle da abstinência, grupos terapêuticos e oficinas de arte. Também foi encaminhado para um abrigo temporário, onde poderia ficar enquanto se reorganizava.
O processo não foi linear, com algumas recaídas no caminho, mas a equipe do CAPS manteve o acolhimento e o vínculo. João participou de um grupo de economia solidária, onde aprendeu a fazer pães artesanais. Com o tempo, conseguiu alugar um pequeno quarto, retomou contato com a família e hoje vende seus pães em feiras da cidade, mantendo-se abstinente há dois anos.
A História de Maria
Maria, 35 anos, começou a usar cocaína aos 20 anos. Após o nascimento de sua filha, o uso intensificou-se como forma de lidar com a depressão pós-parto. A família, preocupada com a situação, a levou ao CAPS AD.
No serviço, Maria foi acolhida e iniciou um tratamento intensivo, com atendimentos diários. Recebeu medicação para tratar a depressão e a fissura pela cocaína, participou de grupos terapêuticos e de uma oficina de artesanato. A filha, que estava sob os cuidados da avó, foi incluída gradualmente no processo de recuperação.
Após seis meses de tratamento intensivo, Maria passou para o regime semi-intensivo e começou a participar de um curso de cabeleireira oferecido em parceria com o SENAC. Hoje, três anos depois, ela trabalha em um salão de beleza, cuida da filha e mantém-se abstinente, comparecendo ao CAPS apenas para consultas mensais de acompanhamento.
A História de Pedro
Pedro, 28 anos, começou a usar crack aos 18 anos. Após várias tentativas frustradas de parar por conta própria, procurou ajuda no CAPS AD, incentivado por um amigo que havia se recuperado lá.
No CAPS, Pedro foi avaliado e, devido à gravidade do caso, foi encaminhado para internação em hospital geral para desintoxicação. Após 10 dias de internação, retornou ao CAPS AD para seguir o tratamento em regime intensivo.
Pedro participou de grupos de prevenção de recaída, recebeu medicação para controlar a ansiedade e a fissura, e engajou-se em uma oficina de música. Sua mãe participou ativamente do grupo de familiares.
Após um ano de tratamento, Pedro voltou a estudar, concluiu o ensino médio e hoje cursa técnico em informática. Ele ainda frequenta o CAPS uma vez por semana para participar do grupo de música, agora como facilitador, ajudando outros usuários em recuperação.
Estas histórias ilustram como o modelo de atenção do SUS, baseado no cuidado em liberdade, no território e com foco na reabilitação psicossocial, pode transformar vidas e promover cidadania.
Prevenção e Redução de Danos
Além do tratamento para quem já desenvolveu dependência, o SUS também atua na prevenção e na redução de danos associados ao uso de substâncias.
Estratégias de Prevenção
A prevenção ao uso prejudicial de substâncias é realizada em diferentes níveis:
Prevenção universal: Dirigida à população geral, como campanhas educativas e programas escolares
Prevenção seletiva: Focada em grupos de risco, como adolescentes em situação de vulnerabilidade
Prevenção indicada: Para pessoas que já apresentam uso de substâncias, mas ainda não desenvolveram dependência
Essas ações são realizadas principalmente na Atenção Básica, em escolas e em outros espaços comunitários.
Abordagem de Redução de Danos
A Redução de Danos é uma estratégia de saúde pública que visa minimizar os danos associados ao uso de substâncias, mesmo quando a pessoa não consegue ou não deseja parar completamente. Algumas estratégias incluem:
Distribuição de insumos de prevenção (preservativos, seringas descartáveis)
Orientações sobre uso mais seguro
Testagem para HIV, hepatites e outras doenças
Vacinação
Acesso a cuidados básicos de saúde
A Redução de Danos é uma abordagem pragmática e humanitária, que reconhece que, embora o ideal seja a abstinência, muitas pessoas não conseguem ou não desejam parar completamente o uso de substâncias, e ainda assim têm direito à saúde e à dignidade.
Perguntas Frequentes sobre Tratamento de Dependência Química no SUS
1. O tratamento no SUS é realmente gratuito?
Sim, todos os serviços oferecidos pelo SUS para tratamento da dependência química são totalmente gratuitos, incluindo consultas, medicamentos, atividades terapêuticas e internações quando necessárias.
2. Preciso de encaminhamento médico para ser atendido no CAPS AD?
Não, os CAPS AD funcionam com "portas abertas", ou seja, qualquer pessoa pode procurar o serviço diretamente, sem necessidade de encaminhamento. Ao chegar, você passará por um acolhimento inicial, onde será avaliado se o CAPS AD é o serviço mais adequado para o seu caso.
3. O que devo levar na primeira consulta?
É recomendável levar documentos pessoais (RG, CPF), cartão do SUS (pode ser feito na hora se não tiver) e comprovante de residência. No entanto, a falta desses documentos não impede o acolhimento inicial.
4. Posso ser internado contra a minha vontade?
A internação involuntária (sem o consentimento da pessoa) é uma medida excepcional, utilizada apenas quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes e houver risco para a própria pessoa ou para terceiros. Ela deve ser solicitada por um familiar ou responsável legal e autorizada por um médico. A internação compulsória, por sua vez, é determinada pela Justiça. Ambas devem ser comunicadas ao Ministério Público em até 72 horas.
5. Quanto tempo dura o tratamento?
O tempo de tratamento varia de acordo com as necessidades de cada pessoa. A dependência química é considerada uma condição crônica, que pode requerer cuidados por longos períodos, com intensidade variável. Algumas pessoas precisam de acompanhamento por anos, enquanto outras conseguem resultados satisfatórios em períodos mais curtos.
6. E se eu tiver uma recaída?
Recaídas são comuns no processo de recuperação da dependência química e não devem ser vistas como fracasso. Se você tiver uma recaída, é importante buscar ajuda imediatamente. Os serviços do SUS estão preparados para acolher pessoas em situação de recaída, sem julgamentos, e ajudar a retomar o processo de recuperação.
7. Posso continuar trabalhando/estudando durante o tratamento?
Sim, o tratamento no SUS é flexível e pode ser adaptado à sua rotina. Dependendo da sua condição e necessidades, você pode frequentar o serviço em diferentes intensidades (intensivo, semi-intensivo ou não-intensivo) e em horários compatíveis com suas atividades de trabalho ou estudo. Um dos objetivos do tratamento é justamente promover a inclusão social e a autonomia.
Conclusão
A dependência química é uma doença que afeta milhões de brasileiros, mas que tem tratamento. O SUS oferece uma rede de serviços gratuitos e humanizados, baseados em evidências científicas e no respeito aos direitos humanos.
O caminho da recuperação pode ser desafiador, com altos e baixos, mas é possível. Milhares de pessoas conseguem superar a dependência química todos os anos, com o apoio dos serviços do SUS, de suas famílias e de suas comunidades.
Se você ou alguém próximo está enfrentando problemas com álcool ou outras drogas, saiba que não está sozinho e que existe ajuda disponível. O primeiro passo é reconhecer o problema e buscar apoio.
Lembre-se: a dependência química é uma doença, não uma falha de caráter. Com tratamento adequado, é possível recuperar a saúde, reconstruir relacionamentos e retomar projetos de vida.
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Ansiedade: Terapias e Medicamentos Disponíveis no SUS (Informações sobre o tratamento de transtornos de ansiedade, frequentemente relacionados ao uso de substâncias)
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