Aneurisma no SUS: Diagnóstico e Cirurgia Gratuita (Aorta e Cerebral)
Entenda o que é aneurisma, como o SUS diagnostica e oferece tratamento cirúrgico gratuito (aberto ou endovascular/embolização) para aneurisma de aorta e cerebral.
5/25/202511 min read


Aneurisma: Diagnóstico e Tratamento Cirúrgico pelo SUS - Guia Completo
Você já ouviu falar em aneurisma? É uma condição séria que pode afetar artérias importantes do nosso corpo, como a aorta (a maior artéria do corpo) ou as artérias do cérebro. O maior perigo é a ruptura, que pode ser fatal. Mas a boa notícia é que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece diagnóstico e tratamento cirúrgico gratuito para essa condição.
Neste guia completo do Viva o SUS, vamos explicar de forma clara o que é um aneurisma, quais os tipos mais comuns (como o de aorta abdominal e o cerebral), como o SUS faz o diagnóstico, quais são as opções de tratamento cirúrgico (cirurgia aberta tradicional ou técnicas modernas menos invasivas, como a endovascular e a embolização) e o passo a passo para você acessar esses serviços gratuitamente. Fique por dentro dos seus direitos e saiba como o SUS pode te ajudar!
O que é um Aneurisma?
Imagine uma mangueira de jardim que, com o tempo e a pressão da água, cria uma "bolha" ou uma área enfraquecida e dilatada. Um aneurisma é algo parecido: é uma dilatação anormal e permanente em um trecho da parede de uma artéria.
Essa dilatação acontece porque a parede da artéria naquele ponto está mais fraca. O grande risco é que essa área dilatada pode se romper (estourar), causando uma hemorragia interna grave, que muitas vezes é uma emergência médica com alto risco de morte.
Principais Tipos de Aneurisma Tratados no SUS:
Embora possam ocorrer em várias artérias, os mais comuns e que recebem tratamento frequente pelo SUS são:
Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA): É a dilatação da aorta (a principal artéria que sai do coração) na sua porção que passa pelo abdômen. É mais comum em homens acima de 60 anos, fumantes e pessoas com pressão alta.
Aneurisma Cerebral: É a dilatação de uma artéria dentro do cérebro. Podem ter formato de "saquinho" (saculares) ou serem alongados (fusiformes). A ruptura causa a chamada Hemorragia Subaracnóidea (HSA), um tipo grave de AVC hemorrágico.
Aneurisma da Aorta Torácica: Semelhante ao AAA, mas ocorre na parte da aorta que passa pelo tórax.
Outros Aneurismas Periféricos: Menos comuns, podem ocorrer em artérias das pernas (como a poplítea, atrás do joelho), braços ou órgãos internos.
Sintomas: O Perigo Silencioso
Aqui está um ponto crucial: a grande maioria dos aneurismas que ainda não romperam NÃO causa sintoma nenhum! Eles são frequentemente descobertos por acaso, durante exames de imagem (como ultrassom ou tomografia) feitos por outros motivos.
Sintomas de Aneurisma de Aorta Abdominal (geralmente ausentes antes da ruptura):
Antes de romper, é raro ter sintomas. Alguns podem sentir:
Dor tipo "pulsação" no abdômen (como sentir o coração batendo na barriga).
Dor persistente no abdômen ou na região lombar (costas).
Sintomas de Ruptura (Emergência!): Dor súbita e muito intensa no abdômen ou nas costas, que pode irradiar para as pernas; palidez; suor frio; queda brusca da pressão arterial; sensação de desmaio ou perda de consciência. Ligue para o SAMU (192) imediatamente!
Sintomas de Aneurisma Cerebral (geralmente ausentes antes da ruptura):
Antes de romper, também é raro ter sintomas. Alguns casos podem apresentar:
Dor de cabeça localizada e persistente.
Visão dupla ou outras alterações visuais.
Dor acima ou atrás de um olho.
Pupila dilatada em um dos olhos.
Sintomas de Ruptura (Emergência!): Dor de cabeça súbita, descrita como a "pior dor de cabeça da vida"; náuseas e vômitos; rigidez na nuca; sensibilidade à luz; visão turva ou dupla; confusão mental; convulsões; perda de consciência. Ligue para o SAMU (192) imediatamente!
Atenção aos Fatores de Risco: Como os aneurismas costumam ser silenciosos, é importante conhecer e controlar os fatores que aumentam o risco de desenvolvê-los: tabagismo (principal fator!), pressão alta, histórico familiar de aneurisma, idade avançada (acima de 60-65 anos), colesterol alto e algumas doenças genéticas que afetam o tecido conjuntivo.
Diagnóstico de Aneurisma pelo SUS: Como Detectar
Como os sintomas são raros, o diagnóstico muitas vezes depende de exames de imagem. A suspeita pode surgir durante um exame físico (no caso do AAA, o médico pode sentir uma massa pulsátil no abdômen) ou após um evento de ruptura.
Exames Disponíveis no SUS:
O SUS oferece gratuitamente os exames necessários para detectar e avaliar aneurismas:
Ultrassonografia Abdominal (Ecografia): É o exame principal e mais simples para rastrear e diagnosticar o Aneurisma de Aorta Abdominal (AAA). É rápido, indolor e não usa radiação.
Angiotomografia Computadorizada (Angio-TC): Usa raio-X e contraste para criar imagens detalhadas das artérias. É excelente para confirmar o diagnóstico de AAA, medir o tamanho exato, ver a forma, a relação com outras artérias e planejar a cirurgia. Também é muito usada para aneurismas torácicos e pode detectar aneurismas cerebrais.
Angiorressonância Magnética (Angio-RM): Usa campos magnéticos e contraste para gerar imagens das artérias. É uma alternativa à Angio-TC (especialmente se houver alergia ao contraste iodado da TC) e é muito útil para avaliar aneurismas cerebrais.
Angiografia Cerebral Digital por Subtração: É um exame mais invasivo, feito por cateterismo. É considerado o "padrão-ouro" para avaliar detalhes dos aneurismas cerebrais, sendo essencial para planejar o tratamento endovascular (embolização).
Fluxo para Diagnóstico no SUS:
Suspeita ou Rastreamento: A suspeita pode vir do médico da UBS, de um achado em outro exame, ou por programas de rastreamento (alguns locais oferecem ultrassom de aorta para homens fumantes acima de 65 anos).
Encaminhamento para Especialista: Você será encaminhado, via Central de Regulação, para um Cirurgião Vascular (aneurismas da aorta e periféricos) ou Neurologista/Neurocirurgião (aneurismas cerebrais).
Solicitação e Agendamento dos Exames: O especialista solicitará os exames de imagem necessários (Angio-TC, Angio-RM, Angiografia), que serão agendados pela Regulação.
Confirmação e Avaliação: Com os resultados, o especialista confirma o diagnóstico, mede o tamanho, avalia a localização exata, a forma e o risco de ruptura, para então decidir a melhor conduta.
Tratamento de Aneurisma pelo SUS: Observação ou Cirurgia?
A decisão sobre tratar ou não um aneurisma não roto depende de vários fatores, principalmente o risco de ruptura comparado ao risco do tratamento (que geralmente é cirúrgico).
Aneurismas pequenos (por exemplo, AAA menor que 5,0 cm ou aneurismas cerebrais menores que 7 mm, dependendo da localização e forma) e que não causam sintomas, muitas vezes podem ser apenas acompanhados. Isso significa fazer exames de imagem periódicos (geralmente ultrassom ou angio-TC/RM a cada 6 ou 12 meses) para verificar se o aneurisma está crescendo, junto com um controle rigoroso da pressão arterial e a parada total do tabagismo.
Tratamento do Aneurisma de Aorta (Abdominal e Torácica)
A cirurgia geralmente é indicada quando o aneurisma atinge um tamanho considerado de alto risco para ruptura (geralmente acima de 5,0 a 5,5 cm para o AAA, mas pode variar), se ele cresce rapidamente nos exames de acompanhamento, ou se causa sintomas.
Opções Cirúrgicas no SUS:
Cirurgia Aberta Convencional: É o método tradicional. O cirurgião faz um corte no abdômen (para AAA) ou no tórax (para torácico), isola a aorta, abre o aneurisma e costura um enxerto (um tubo de tecido sintético, como Dacron) por dentro, substituindo a parte doente. É uma cirurgia grande, com recuperação mais demorada, mas com resultados duradouros.
Tratamento Endovascular (EVAR para Abdominal / TEVAR para Torácica): É uma técnica minimamente invasiva. Através de pequenos cortes na virilha, o cirurgião insere cateteres e guia uma endoprótese (um stent metálico coberto com o mesmo tecido sintético do enxerto) até o local do aneurisma. A endoprótese é liberada dentro da aorta, "forrando" a artéria por dentro e excluindo o aneurisma da circulação sanguínea. A recuperação é bem mais rápida. O SUS fornece as endopróteses necessárias, seguindo as diretrizes da CONITEC.
A escolha entre cirurgia aberta e tratamento endovascular depende da anatomia do aneurisma (se ele tem espaço para a endoprótese ancorar), da idade e das condições de saúde do paciente. Nem todos os aneurismas podem ser tratados por via endovascular.
Tratamento do Aneurisma Cerebral
A decisão de tratar um aneurisma cerebral não roto é complexa e leva em conta o tamanho, a localização (algumas áreas são mais perigosas), a forma do aneurisma, se o paciente já teve outra ruptura, a idade e a saúde geral.
Opções Cirúrgicas/Intervencionistas no SUS:
Clipagem Cirúrgica (Microcirurgia): É a cirurgia aberta. O neurocirurgião faz uma craniotomia (abertura do crânio), localiza o aneurisma com auxílio de microscópio e coloca um pequeno clipe metálico na base (colo) do aneurisma, fechando-o e impedindo que o sangue entre nele.
Tratamento Endovascular (Embolização): É a técnica minimamente invasiva, feita por cateterismo (sem abrir o crânio). O neurorradiologista intervencionista ou neurocirurgião navega com um microcateter pelas artérias até o aneurisma e o preenche com delicadas molas de platina (coils), que promovem a coagulação do sangue dentro do aneurisma, ou posiciona stents especiais (como o diversor de fluxo) na artéria para desviar o fluxo sanguíneo para longe do aneurisma, fazendo com que ele encolha e feche com o tempo. O SUS cobre a embolização com coils e tem ampliado o acesso aos diversores de fluxo em centros especializados.
A escolha entre clipagem e embolização depende muito das características do aneurisma (tamanho, forma, localização do colo) e da experiência da equipe médica. Ambas as técnicas são oferecidas pelo SUS em centros de referência.
Tratamento Endovascular no SUS: O SUS reconhece os benefícios das técnicas endovasculares (EVAR/TEVAR para aorta e Embolização/Flow Diverter para cerebral) por serem menos invasivas e permitirem recuperação mais rápida. O Ministério da Saúde tem diretrizes e protocolos para o uso dessas tecnologias e fornece os materiais (endopróteses, coils, stents) aos hospitais habilitados. No entanto, a disponibilidade pode variar, pois exige equipamentos caros (como salas de hemodinâmica) e equipes altamente especializadas.
Passo a Passo: Como Acessar o Tratamento Cirúrgico de Aneurisma pelo SUS
O caminho para conseguir o tratamento de um aneurisma não roto (eletivo) no SUS é semelhante ao de outras cirurgias complexas:
Diagnóstico e Indicação Médica: O diagnóstico é confirmado e a necessidade de tratamento é indicada pelo especialista (cirurgião vascular ou neurocirurgião) que te acompanha na rede SUS.
Encaminhamento para Centro de Referência: Você será encaminhado, via Central de Regulação, para um hospital que seja habilitado em cirurgia vascular ou neurocirurgia de alta complexidade e que realize o tipo de procedimento indicado para o seu caso (aberto ou endovascular).
Avaliação Pré-Operatória/Pré-Procedimento: No hospital de referência, você passará por consultas com a equipe cirúrgica/intervencionista e anestesista, e fará exames complementares para planejar o procedimento e avaliar os riscos.
Inclusão em Fila de Espera (se eletivo): Se o seu aneurisma não rompeu e o tratamento não é de urgência, seu nome será incluído na fila de espera regulada pelo SUS para o procedimento. A prioridade leva em conta o risco de ruptura e outros fatores clínicos.
Agendamento e Realização do Procedimento: O hospital entrará em contato para agendar a internação e a realização da cirurgia aberta ou do tratamento endovascular.
Recuperação e Acompanhamento: Após o procedimento, a recuperação inicial pode incluir um período na UTI, seguido de internação na enfermaria. Depois da alta, você precisará de acompanhamento regular com o especialista e, muitas vezes, fazer exames de imagem periódicos para verificar o resultado do tratamento.
Aneurisma Roto = Emergência! É fundamental repetir: se você ou alguém próximo apresentar sintomas que sugiram a ruptura de um aneurisma (dor de cabeça excruciante e súbita, dor abdominal/lombar intensa e súbita, desmaio, perda de força, etc.), não espere! Procure imediatamente a emergência de um hospital ou ligue para o SAMU (192). Nesses casos, o tratamento é de urgência e não passa pela fila de espera eletiva.
Centros de Referência em Tratamento de Aneurisma pelo SUS
O tratamento cirúrgico e endovascular de aneurismas, tanto da aorta quanto cerebrais, exige alta tecnologia e equipes muito especializadas. Por isso, ele é concentrado em hospitais de alta complexidade em cirurgia vascular e neurocirurgia.
Geralmente, grandes hospitais universitários, institutos de cardiologia e hospitais gerais de grande porte são os centros de referência. Para saber quais hospitais na sua região estão habilitados para esses procedimentos pelo SUS, a melhor forma é consultar a Secretaria de Saúde do seu estado ou município, ou conversar com o médico especialista que te acompanha.
Direitos do Paciente com Aneurisma no SUS
Como usuário do SUS, você tem direitos garantidos:
Direito ao diagnóstico completo, incluindo exames de imagem necessários.
Direito ao acompanhamento regular para aneurismas que não precisam de tratamento imediato.
Direito ao tratamento cirúrgico (aberto) ou endovascular (quando indicado e disponível), incluindo todos os materiais necessários (enxertos, endopróteses, clipes, coils, stents) fornecidos gratuitamente pelo SUS.
Direito ao tratamento de emergência em caso de ruptura do aneurisma.
Direito ao Transporte Fora do Domicílio (TFD), caso precise se deslocar para outra cidade para realizar o tratamento em um centro de referência.
Possibilidade de acesso a benefícios previdenciários (auxílio-doença, aposentadoria por invalidez) ou assistenciais (BPC/LOAS), caso o aneurisma ou suas sequelas (especialmente após ruptura) causem incapacidade para o trabalho ou limitação funcional grave. Procure o INSS ou o CRAS para avaliação.
Perguntas Frequentes sobre Aneurisma e Tratamento pelo SUS
Todo aneurisma precisa ser operado?
Não. Muitos aneurismas pequenos, especialmente se descobertos por acaso e sem sintomas, podem nunca romper. A decisão de operar ou apenas acompanhar com exames depende de uma avaliação cuidadosa do risco de ruptura versus o risco do tratamento para cada paciente.
Cirurgia aberta ou endovascular: qual é melhor?
Não existe uma resposta única. A cirurgia endovascular é menos invasiva e tem recuperação mais rápida, sendo preferível em muitos casos hoje em dia, especialmente para pacientes mais idosos ou com outras doenças. No entanto, nem toda anatomia de aneurisma permite o tratamento endovascular, e a cirurgia aberta pode ter resultados mais duradouros em alguns casos, principalmente em pacientes jovens. A melhor opção é definida pela equipe médica, considerando as características do aneurisma e do paciente.
O SUS cobre a embolização de aneurisma cerebral?
Sim. A embolização com molas (coils) é um procedimento bem estabelecido e coberto pelo SUS há bastante tempo para o tratamento de aneurismas cerebrais, tanto rotos quanto não rotos com indicação de tratamento. O uso de tecnologias mais recentes, como os stents diversores de fluxo, também está sendo incorporado e disponibilizado em centros de referência habilitados pelo SUS.
Qual o risco de um aneurisma romper?
O risco varia enormemente. Fatores como o tamanho do aneurisma (quanto maior, maior o risco), a localização (alguns locais no cérebro são mais perigosos), a forma, a presença de sintomas, e fatores do paciente (pressão alta não controlada, tabagismo) influenciam o risco. Seu médico especialista é a pessoa mais indicada para estimar o risco no seu caso específico.
Conclusão: Aneurisma no SUS - Vigilância e Acesso ao Tratamento
O aneurisma pode ser uma condição assustadora por ser muitas vezes silenciosa, mas é importante saber que o SUS oferece caminhos para o diagnóstico e tratamento eficazes. A chave é a vigilância, especialmente se você tem fatores de risco.
Controlar a pressão arterial, não fumar, e fazer acompanhamento médico regular são atitudes fundamentais. Se um aneurisma for diagnosticado, converse abertamente com seu médico sobre as opções de acompanhamento ou tratamento.
Lembre-se que o SUS garante o acesso a cirurgias complexas e a tecnologias modernas como o tratamento endovascular, quando indicadas. E, acima de tudo, em caso de sintomas súbitos e graves que possam indicar uma ruptura, procure ajuda médica imediatamente. O tempo é crucial!
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Referências
Ministério da Saúde. CONITEC. (2017). Diretrizes Brasileiras para o Tratamento de Aneurisma da Aorta Abdominal.
Ministério da Saúde. CONITEC. (2019). Diretrizes Brasileiras para Utilização de Endoprótese na Aorta Torácica Descendente.
Ministério da Saúde. Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) - Neurologia / Cirurgia Vascular.
Sociedade Brasileira de Cirurgia Vascular (SBACV).
Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN).
Sociedade Brasileira de Neurorradiologia Diagnóstica e Terapêutica (SBNR).
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