Autismo: Como Conseguir Diagnóstico e Tratamento Gratuito pelo SUS
Guia completo sobre como identificar sinais precoces de autismo, obter diagnóstico e acessar terapias gratuitas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
6/14/20256 min read


Autismo: Diagnóstico Precoce e Terapias pelo SUS
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição que afeta o neurodesenvolvimento, interferindo na comunicação, interação social e comportamento da pessoa. Quanto mais cedo for identificado, melhores são as chances de desenvolvimento e qualidade de vida.
No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece diagnóstico e tratamento gratuitos para pessoas com autismo. Dados do Ministério da Saúde mostram que o país realizou mais de 9,6 milhões de atendimentos a pessoas com autismo em 2021, sendo 4,1 milhões para crianças de até 9 anos.
Neste artigo, você vai descobrir como identificar os sinais precoces do autismo, o passo a passo para conseguir o diagnóstico pelo SUS e todas as terapias disponíveis gratuitamente. Também explicaremos seus direitos garantidos por lei e como acessar a rede de apoio para famílias.
O que é o Transtorno do Espectro Autista (TEA)?
O TEA é um distúrbio caracterizado pela alteração das funções do neurodesenvolvimento, que podem englobar mudanças na comunicação, na interação social e no comportamento. Cada pessoa com autismo apresenta características únicas, por isso o termo "espectro".
O autismo não tem cura, mas com intervenção precoce e adequada, a pessoa pode desenvolver habilidades e ter qualidade de vida. É importante entender que o autismo não é uma doença, mas uma condição neurológica que acompanha a pessoa por toda a vida.
Dentro do espectro são identificados diferentes níveis de suporte necessário:
Nível 1: Necessita de suporte - apresenta dificuldades na comunicação social e inflexibilidade de comportamento
Nível 2: Necessita de suporte substancial - déficits notáveis na comunicação social e inflexibilidade de comportamento
Nível 3: Necessita de suporte muito substancial - graves déficits na comunicação social e extrema inflexibilidade de comportamento
Sinais Precoces do Autismo: Como Identificar
Os sinais do autismo podem aparecer nos primeiros meses de vida, mas geralmente se tornam mais evidentes entre 2 e 3 anos. Fique atento aos seguintes sinais:
Comunicação e Linguagem
Atraso ou ausência da fala após os 2 anos de idade
Dificuldade em iniciar ou manter uma conversa
Repetição de palavras ou frases (ecolalia)
Uso de linguagem idiossincrática (palavras inventadas)
Fala em terceira pessoa referindo-se a si mesmo
Interação Social
Pouco ou nenhum contato visual
Dificuldade em compartilhar interesses ou emoções
Não responde quando chamado pelo nome
Preferência por brincar sozinho
Dificuldade em entender expressões faciais e linguagem corporal
Comportamento
Movimentos repetitivos (balançar o corpo, bater palmas, girar)
Interesses restritos e intensos por determinados assuntos ou objetos
Resistência a mudanças na rotina
Sensibilidade sensorial (incomoda-se com barulhos, texturas, luzes)
Alinhamento de brinquedos ou objetos em fileiras
É importante ressaltar que a presença de alguns desses sinais não significa necessariamente que a criança tenha autismo. O diagnóstico deve ser feito por profissionais especializados.
Diagnóstico do Autismo pelo SUS: Passo a Passo
O diagnóstico do TEA é clínico, ou seja, baseado na observação do comportamento e no histórico de desenvolvimento da criança. Não existe um exame específico que confirme o autismo. Por isso, é fundamental buscar profissionais especializados.
Onde Buscar Atendimento Inicial
O primeiro passo para conseguir o diagnóstico pelo SUS é procurar a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima da sua residência. Lá, a criança passará por uma avaliação inicial com o pediatra ou médico da família.
Se houver suspeita de TEA, o médico encaminhará para serviços especializados, que podem ser:
Centro Especializado em Reabilitação (CER): Unidades que oferecem diagnóstico, tratamento e reabilitação para pessoas com deficiência
Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi): Serviço especializado em saúde mental para crianças e adolescentes
Ambulatórios especializados em neurodesenvolvimento: Geralmente vinculados a hospitais universitários
Documentos Necessários
Para iniciar o atendimento no SUS, você precisará de:
Cartão do SUS da criança
Documento de identidade da criança (certidão de nascimento ou RG)
Documento de identidade do responsável
Comprovante de residência
Caderneta de saúde da criança (se tiver)
Relatórios escolares ou de outros profissionais (se houver)
Processo de Avaliação
O diagnóstico do TEA é realizado por uma equipe multidisciplinar, que pode incluir:
Neuropediatra ou neurologista
Psiquiatra infantil
Psicólogo
Fonoaudiólogo
Terapeuta ocupacional
A avaliação pode incluir:
Anamnese detalhada: Entrevista com os pais sobre o histórico de desenvolvimento da criança
Observação clínica: Avaliação do comportamento da criança durante as consultas
Aplicação de escalas específicas: Como M-CHAT (Modified Checklist for Autism in Toddlers), CARS (Childhood Autism Rating Scale) e outros instrumentos validados
Exames complementares: Para descartar outras condições (exames de audição, genéticos, neuroimagem)
O tempo para conclusão do diagnóstico pode variar de acordo com a região e a disponibilidade de profissionais especializados. Em alguns casos, pode levar de 3 a 6 meses.
Terapias Disponíveis pelo SUS para Pessoas com Autismo
Após o diagnóstico, a pessoa com TEA tem direito a diversas terapias pelo SUS. O plano terapêutico é individualizado, considerando as necessidades específicas de cada caso.
Principais Terapias Oferecidas
Terapia Comportamental: Abordagens como ABA (Análise do Comportamento Aplicada), TEACCH e Denver, que trabalham habilidades específicas
Fonoaudiologia: Para desenvolvimento da comunicação e linguagem
Terapia Ocupacional: Auxilia no desenvolvimento de habilidades para atividades diárias e na integração sensorial
Psicoterapia: Apoio emocional e desenvolvimento de habilidades sociais
Fisioterapia: Para casos que apresentam alterações motoras
Equoterapia: Terapia com cavalos, disponível em alguns centros especializados
Onde São Realizadas as Terapias
As terapias podem ser realizadas em diferentes serviços da rede SUS:
Centros Especializados em Reabilitação (CER): Oferecem atendimento multidisciplinar
CAPS infantojuvenil: Focado em saúde mental
Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF): Equipes multiprofissionais que apoiam as UBS
Associações conveniadas ao SUS: ONGs e instituições especializadas que prestam serviço em parceria com o sistema público
A frequência das terapias varia conforme a necessidade de cada criança e a disponibilidade do serviço, podendo ser semanal ou quinzenal.
Direitos da Pessoa com Autismo no SUS
A Lei nº 12.764/2012, conhecida como Lei Berenice Piana, instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Em 2023, o Ministério da Saúde incluiu o tratamento do TEA na Política Nacional da Pessoa com Deficiência.
Entre os direitos garantidos estão:
Diagnóstico precoce: Acesso a avaliação especializada
Atendimento multiprofissional: Direito a equipe completa de especialistas
Medicamentos: Acesso gratuito aos medicamentos necessários
Terapias: Acesso às terapias recomendadas pelos profissionais
Educação inclusiva: Direito a acompanhante especializado nas escolas quando necessário
Benefício de Prestação Continuada (BPC): Auxílio financeiro para famílias de baixa renda
Passe livre: Gratuidade no transporte público em muitas cidades
Capacitação e Apoio para Famílias
O SUS também oferece suporte às famílias de pessoas com autismo, através de:
Grupos de orientação para pais: Encontros para compartilhar experiências e receber orientações
Treinamento parental: Capacitação para que os pais possam dar continuidade às terapias em casa
Atendimento psicológico: Suporte emocional para os familiares
Assistência social: Orientação sobre direitos e benefícios
Histórias Reais: Experiências Positivas no SUS
Maria, mãe de Pedro, diagnosticado com autismo aos 3 anos, compartilha sua experiência: "No início foi difícil, mas conseguimos um bom acompanhamento pelo CER da nossa cidade. Pedro faz fonoaudiologia, terapia ocupacional e psicologia semanalmente. Em um ano, vimos um progresso incrível na comunicação dele."
Carlos, pai de Júlia, conta: "Através do CAPS infantil, minha filha não só recebe atendimento especializado, como nós, pais, participamos de um grupo de apoio que tem feito toda diferença na nossa compreensão sobre o autismo."
Perguntas Frequentes
Quanto tempo leva para conseguir o diagnóstico pelo SUS?
O tempo pode variar conforme a região e a disponibilidade de profissionais especializados. Em média, o processo completo pode levar de 3 a 6 meses desde a primeira consulta até o diagnóstico final.
Meu filho pode receber terapias enquanto aguarda o diagnóstico definitivo?
Sim, em muitos serviços do SUS, a criança já pode iniciar algumas intervenções enquanto o processo diagnóstico está em andamento, especialmente se houver sinais evidentes de atraso no desenvolvimento.
Qual a frequência ideal das terapias?
A frequência ideal varia conforme as necessidades individuais, mas geralmente recomenda-se sessões semanais de cada terapia. No SUS, a disponibilidade pode variar, sendo comum sessões quinzenais em alguns serviços.
O SUS fornece medicamentos para pessoas com autismo?
Sim, quando necessário e prescrito pelo médico, o SUS fornece medicamentos que podem ajudar a controlar sintomas específicos associados ao autismo, como irritabilidade, agressividade, insônia ou comorbidades como TDAH, ansiedade e epilepsia.
Como posso recorrer se o atendimento for negado?
Em caso de negativa de atendimento, você pode procurar a ouvidoria do SUS, o Ministério Público ou a Defensoria Pública. Também é possível buscar apoio em associações de pais e pessoas com autismo.
O diagnóstico precoce e o acesso às terapias adequadas são fundamentais para o desenvolvimento da pessoa com autismo. O SUS oferece uma rede de serviços que, apesar dos desafios, tem avançado significativamente nos últimos anos.
Se você suspeita que seu filho possa ter autismo, não hesite em buscar ajuda. Quanto mais cedo começar a intervenção, melhores serão os resultados. Lembre-se de que você não está sozinho nessa jornada – existem profissionais, serviços e uma comunidade inteira pronta para apoiá-lo.
O caminho pode parecer desafiador no início, mas com persistência e o suporte adequado, é possível garantir qualidade de vida e desenvolvimento para as pessoas com TEA.
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