Apneia do Sono no SUS: Diagnóstico, CPAP e Tratamento Gratuito

Guia completo sobre como o SUS diagnostica a apneia do sono, oferece o exame de polissonografia, fornece CPAP e outros tratamentos. Saiba como acessar.

5/14/20258 min read

Apneia do Sono: Diagnóstico e Tratamento Detalhados pelo SUS

A apneia obstrutiva do sono (AOS) é um distúrbio respiratório sério, caracterizado por paradas repetitivas da respiração durante o sono. Essas pausas podem durar de alguns segundos a minutos e podem ocorrer várias vezes por hora, prejudicando significativamente a qualidade do sono e, consequentemente, a saúde geral do indivíduo. Felizmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece uma gama de serviços para o diagnóstico e tratamento da apneia do sono, buscando melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Este guia completo do Viva o SUS detalhará como você pode acessar esses recursos, desde a suspeita inicial até o acompanhamento contínuo.

O que é Apneia Obstrutiva do Sono e Quais seus Riscos?

A apneia obstrutiva do sono ocorre quando os músculos da garganta relaxam excessivamente durante o sono, bloqueando parcial ou totalmente as vias aéreas superiores. Esse bloqueio impede que o ar chegue aos pulmões, causando uma queda nos níveis de oxigênio no sangue. O cérebro, ao perceber essa queda, desperta brevemente o indivíduo para que ele volte a respirar, muitas vezes de forma imperceptível para a pessoa. Esse ciclo pode se repetir inúmeras vezes ao longo da noite.

Os principais fatores de risco para a AOS incluem obesidade, idade avançada, sexo masculino (embora mulheres também sejam afetadas, especialmente após a menopausa), histórico familiar, circunferência aumentada do pescoço, uso de álcool ou sedativos, tabagismo e certas características anatômicas das vias aéreas.

Se não tratada, a apneia do sono pode levar a uma série de complicações graves, como:

  • Hipertensão arterial sistêmica (pressão alta)

  • Doenças cardiovasculares (infarto, arritmias, insuficiência cardíaca, AVC)

  • Diabetes tipo 2

  • Sonolência diurna excessiva, aumentando o risco de acidentes de trabalho e de trânsito

  • Dificuldade de concentração e problemas de memória

  • Irritabilidade, depressão e ansiedade

  • Disfunção erétil e diminuição da libido

  • Agravamento de outras condições, como asma

Reconhecer os sintomas e buscar diagnóstico e tratamento precoces é fundamental para prevenir essas complicações e garantir uma vida mais saudável.

Sintomas Comuns da Apneia do Sono: Fique Atento!

Muitas vezes, a pessoa com apneia do sono não percebe as pausas respiratórias durante a noite. É comum que o parceiro ou familiares notem os sinais primeiro. Os sintomas mais frequentes incluem:

  • Ronco alto e persistente: É um dos sinais mais comuns, frequentemente interrompido por pausas respiratórias e engasgos.

  • Paradas respiratórias observadas por outra pessoa: O parceiro pode relatar que a pessoa para de respirar por alguns instantes durante o sono.

  • Despertares súbitos com sensação de sufocamento ou falta de ar.

  • Sonolência excessiva durante o dia: Mesmo após uma noite inteira de sono, a pessoa pode se sentir constantemente cansada e com dificuldade para se manter acordada em atividades rotineiras.

  • Dor de cabeça matinal.

  • Boca seca ou dor de garganta ao acordar.

  • Dificuldade de concentração, problemas de memória e aprendizado.

  • Irritabilidade, alterações de humor e sintomas depressivos.

  • Necessidade frequente de urinar durante a noite (nictúria).

  • Redução da libido e impotência sexual.

Se você ou alguém próximo apresenta vários desses sintomas, é crucial procurar um médico para avaliação. O diagnóstico precoce é o primeiro passo para um tratamento eficaz.

Diagnóstico da Apneia do Sono pelo SUS: O Caminho até a Polissonografia

O diagnóstico da apneia do sono pelo SUS geralmente começa na Unidade Básica de Saúde (UBS), a porta de entrada do sistema. Ao apresentar os sintomas ao médico da UBS (clínico geral ou médico de família), ele fará uma avaliação inicial, incluindo histórico de saúde, exame físico e questionários específicos sobre a qualidade do sono e sonolência diurna.

Se houver suspeita de apneia do sono, o médico da UBS encaminhará o paciente para um especialista, que pode ser um pneumologista, otorrinolaringologista, neurologista ou médico do sono. Este especialista solicitará o exame padrão-ouro para o diagnóstico da AOS: a polissonografia.

O que é a Polissonografia?

A polissonografia é um exame não invasivo que monitora diversas funções corporais durante o sono. O paciente passa uma noite em um laboratório do sono (ou, em alguns casos, pode realizar uma versão simplificada do exame em casa, embora a disponibilidade no SUS para exames domiciliares ainda seja limitada e precise ser verificada localmente). Durante o exame, são registrados:

  • Atividade cerebral (eletroencefalograma - EEG)

  • Movimento dos olhos (eletrooculograma - EOG)

  • Atividade muscular (eletromiograma - EMG)

  • Frequência cardíaca (eletrocardiograma - ECG)

  • Fluxo aéreo nasal e oral

  • Esforço respiratório

  • Nível de oxigênio no sangue (oximetria de pulso)

  • Posição corporal

  • Ronco

Com base nos resultados da polissonografia, o médico pode confirmar o diagnóstico de apneia do sono, determinar sua gravidade (leve, moderada ou grave, com base no Índice de Apneia-Hipopneia - IAH) e identificar o tipo de apneia.

É importante notar que, conforme apontado em estudos como o Projeto Hermes Brasil, pode haver filas de espera para a realização da polissonografia pelo SUS, variando conforme a região do país. A espera pode ser de meses a mais de um ano em algumas localidades. Informe-se na sua UBS ou Secretaria de Saúde local sobre os centros de referência e o tempo estimado de espera.

Tratamento da Apneia do Sono Oferecido pelo SUS

Uma vez confirmado o diagnóstico, o SUS oferece diversas abordagens de tratamento, que podem variar conforme a gravidade da apneia e as condições individuais do paciente. O objetivo principal é restaurar a respiração normal durante o sono, aliviar os sintomas e prevenir complicações.

1. Mudanças no Estilo de Vida

Para casos leves de apneia do sono, ou como complemento a outros tratamentos, algumas mudanças no estilo de vida são fundamentais e frequentemente recomendadas pelos profissionais do SUS:

  • Perda de peso: Para pacientes com sobrepeso ou obesidade, a perda de peso pode reduzir significativamente ou até eliminar a apneia.

  • Higiene do sono: Manter horários regulares para dormir e acordar, criar um ambiente de sono confortável e evitar cafeína e álcool antes de dormir.

  • Evitar álcool e sedativos: Essas substâncias relaxam os músculos da garganta, piorando a apneia.

  • Parar de fumar: O tabagismo aumenta a inflamação e a retenção de líquidos nas vias aéreas superiores.

  • Terapia posicional: Para algumas pessoas, a apneia ocorre principalmente quando dormem de barriga para cima. Dormir de lado pode ajudar. Existem dispositivos e técnicas para incentivar essa posição.

  • Tratamento de congestão nasal: Se houver obstrução nasal por rinite ou sinusite, o tratamento adequado pode melhorar a respiração.

2. CPAP (Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas)

O CPAP é considerado o tratamento mais eficaz para a apneia do sono moderada a grave. Consiste em um aparelho que fornece um fluxo contínuo de ar pressurizado através de uma máscara conectada ao nariz ou ao nariz e boca do paciente durante o sono. Essa pressão positiva mantém as vias aéreas abertas, prevenindo as pausas respiratórias e o ronco.

Como obter o CPAP pelo SUS?

O fornecimento de CPAP pelo SUS pode variar entre os estados e municípios, pois depende de protocolos locais e da disponibilidade de recursos. Geralmente, o processo envolve:

  1. Diagnóstico confirmado: É necessário ter o laudo da polissonografia indicando apneia do sono moderada ou grave.

  2. Prescrição médica: O médico especialista do SUS deve prescrever o uso do CPAP, especificando a pressão ideal (titulação) que foi determinada, muitas vezes, durante um segundo exame de polissonografia com o CPAP (polissonografia de titulação) ou através de aparelhos de CPAP automáticos.

  3. Solicitação formal: O paciente, com os documentos médicos, deve procurar a Secretaria de Saúde do seu município ou estado para se informar sobre o processo de solicitação do aparelho. Pode ser necessário preencher formulários específicos e apresentar documentos pessoais e comprovante de residência.

  4. Acompanhamento: Após receber o CPAP, é fundamental o acompanhamento regular com o médico do SUS para ajustes na máscara, na pressão do aparelho e para monitorar a adesão e eficácia do tratamento.

Conforme informações do Portal Drauzio Varella, o CPAP pode ser fornecido pelo SUS, mas é crucial verificar os trâmites específicos na sua localidade. A adaptação ao CPAP pode levar tempo, e o suporte da equipe de saúde é essencial nesse processo.

3. Aparelhos Intraorais

Para casos de apneia leve a moderada, ou para pacientes que não se adaptam ao CPAP, os aparelhos intraorais podem ser uma alternativa. São dispositivos confeccionados por dentistas especializados que se encaixam na boca e ajudam a manter a mandíbula e a língua em uma posição que evita o bloqueio das vias aéreas. A disponibilidade desses aparelhos pelo SUS também precisa ser verificada localmente, geralmente através de Centros de Especialidades Odontológicas (CEO) ou serviços de referência.

4. Fonoterapia

A fonoterapia, realizada por fonoaudiólogos, pode ser indicada como tratamento complementar. Consiste em exercícios específicos para fortalecer os músculos da boca, língua e garganta, o que pode ajudar a reduzir a obstrução das vias aéreas durante o sono. O acesso à fonoterapia pelo SUS pode ser feito via encaminhamento da UBS para os serviços especializados.

5. Tratamento Cirúrgico

A cirurgia é geralmente considerada apenas para casos específicos em que há uma anormalidade anatômica clara obstruindo as vias aéreas (como amígdalas ou adenoides muito grandes, desvio de septo significativo ou problemas maxilares) e quando outros tratamentos não foram eficazes. As opções cirúrgicas podem incluir:

  • Uvulopalatofaringoplastia (UPFP): Remoção de tecido da úvula e do palato mole.

  • Cirurgia para avanço maxilomandibular: Reposicionamento cirúrgico dos ossos da maxila e mandíbula.

  • Amigdalectomia e adenoidectomia: Remoção das amígdalas e adenoides.

  • Cirurgias nasais: Para corrigir desvio de septo ou outras obstruções nasais.

A decisão pela cirurgia deve ser cuidadosamente avaliada pelo médico especialista do SUS, considerando os riscos e benefícios para cada paciente. O encaminhamento para avaliação cirúrgica também parte do especialista.

Passo a Passo para Buscar Ajuda no SUS

  1. Procure a UBS mais próxima: Relate seus sintomas ao médico. Este é o primeiro e mais importante passo.

  2. Encaminhamento ao especialista: Se houver suspeita, você será encaminhado para um especialista (pneumologista, otorrino, neurologista ou médico do sono).

  3. Realização da Polissonografia: O especialista solicitará o exame. Informe-se sobre os locais credenciados pelo SUS e o tempo de espera.

  4. Diagnóstico e Plano de Tratamento: Com o resultado do exame, o médico definirá o melhor tratamento.

  5. Solicitação de Tratamentos (CPAP, Aparelhos Intraorais): Siga as orientações médicas e da Secretaria de Saúde para solicitar os dispositivos, se indicados.

  6. Acompanhamento Regular: Mantenha as consultas de acompanhamento para garantir a eficácia do tratamento e realizar ajustes necessários.

Lembre-se: A jornada para o diagnóstico e tratamento da apneia do sono pelo SUS pode exigir paciência devido à demanda e, por vezes, às filas de espera. No entanto, persistir na busca por tratamento é fundamental para sua saúde e qualidade de vida. Não hesite em buscar informações na sua UBS e na Secretaria Municipal ou Estadual de Saúde.

Conclusão: O SUS como Aliado no Combate à Apneia do Sono

A apneia do sono é uma condição séria, mas tratável. O Sistema Único de Saúde, apesar dos desafios, oferece caminhos para o diagnóstico e tratamento, incluindo o acesso ao CPAP, considerado padrão-ouro. Ao reconhecer os sintomas e procurar ajuda médica na UBS, você inicia uma jornada que pode transformar suas noites de sono e sua saúde como um todo. O Viva o SUS reforça a importância de conhecer seus direitos e os serviços disponíveis, capacitando você a cuidar melhor da sua saúde.

Referências:

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Este conteúdo é informativo e não substitui a consulta médica. Procure sempre um profissional de saúde.