Doenças das Válvulas Cardíacas no SUS: Guia Completo de Tratamentos e Cirurgias Gratuitas
Saiba como o SUS diagnostica e trata valvopatias com medicamentos, cirurgia de troca ou reparo de válvula e o procedimento TAVI. Passo a passo para acessar o tratamento.
5/24/202510 min read


Valvopatias: Cirurgias e Tratamentos Disponíveis no SUS - Guia Completo
Seu coração tem "portinhas" essenciais chamadas válvulas, que controlam o fluxo de sangue. Quando essas válvulas não funcionam bem, temos as valvopatias, ou doenças das válvulas cardíacas. A boa notícia é que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece diagnóstico e tratamento completos e gratuitos para esses problemas.
Neste guia do Viva o SUS, vamos te explicar de forma simples o que são as valvopatias, como descobrir se você tem o problema, quais tratamentos o SUS oferece (incluindo medicamentos e cirurgias como reparo, troca de válvula e até o moderno TAVI) e como você pode acessar tudo isso. Continue lendo para entender seus direitos e cuidar bem do seu coração!
O que são Valvopatias e Quais Válvulas Podem Ser Afetadas?
Imagine o coração como uma casa com quatro cômodos (átrios e ventrículos) e quatro portas (as válvulas). Essas portas garantem que o sangue flua na direção certa, sem voltar. As quatro válvulas são: mitral, aórtica, tricúspide e pulmonar.
Uma valvopatia acontece quando uma ou mais dessas válvulas apresentam defeitos e não abrem ou fecham corretamente, prejudicando o bombeamento de sangue pelo corpo.
Principais Tipos de Valvopatias:
Estenose: A válvula fica "dura" e não abre completamente, dificultando a passagem do sangue. É como tentar passar por uma porta emperrada.
Insuficiência (ou Regurgitação): A válvula não fecha direito e deixa o sangue vazar de volta (refluxo). É como uma porta que não tranca e fica entreaberta.
Prolapso da Válvula Mitral: Uma condição específica da válvula mitral, onde seus folhetos se projetam para o átrio esquerdo durante a contração do coração. Muitas vezes é benigno, mas pode causar insuficiência.
As válvulas do lado esquerdo do coração, a aórtica e a mitral, são as mais frequentemente afetadas pelas valvopatias.
Sintomas Comuns das Valvopatias:
Muitas vezes, as valvopatias não causam sintomas por anos. Quando aparecem, os mais comuns são:
Falta de ar, principalmente durante esforços ou ao deitar
Cansaço ou fadiga fácil
Dor ou desconforto no peito (angina)
Palpitações (sensação de coração acelerado, irregular ou "batendo forte")
Tontura ou desmaios
Inchaço nos tornozelos, pés ou abdômen
Dica importante: Os sintomas podem demorar a aparecer, mesmo com a doença já instalada. Por isso, consultas médicas regulares são importantes. Se você teve febre reumática na infância ou tem outras doenças cardíacas, o acompanhamento é ainda mais crucial, pois o risco de desenvolver valvopatias é maior.
Diagnóstico das Valvopatias pelo SUS: Como Descobrir o Problema
O primeiro passo para o diagnóstico geralmente acontece na consulta médica na Unidade Básica de Saúde (UBS). Ao ouvir seu coração com o estetoscópio, o médico pode detectar um "sopro", que é um som diferente causado pelo fluxo de sangue turbulento através de uma válvula doente.
Exames Utilizados para Diagnóstico no SUS:
Se houver suspeita de valvopatia, o médico solicitará exames. O SUS oferece gratuitamente:
Eletrocardiograma (ECG): Pode mostrar sinais de sobrecarga do coração ou arritmias associadas.
Raio-X de Tórax: Pode revelar aumento do tamanho do coração ou acúmulo de líquido nos pulmões.
Ecocardiograma com Doppler: É o exame mais importante para diagnosticar valvopatias. Ele usa ultrassom para criar imagens detalhadas do coração, mostrando a estrutura e o funcionamento das válvulas, o fluxo de sangue e a gravidade do problema.
Teste Ergométrico (Teste de Esforço): Avalia como o coração responde ao esforço físico e pode ajudar a identificar sintomas que só aparecem durante a atividade.
Cateterismo Cardíaco: Um exame invasivo, geralmente indicado antes da cirurgia, para avaliar as artérias coronárias e medir as pressões dentro do coração.
Tomografia Computadorizada / Ressonância Magnética: Podem ser usadas em casos específicos para obter imagens mais detalhadas da aorta ou do coração.
Fluxo para Diagnóstico no SUS:
Consulta na UBS: O médico avalia os sintomas e ausculta o coração.
Encaminhamento para Cardiologista: Se houver suspeita, você será encaminhado para um especialista via Central de Regulação.
Realização de Exames: O cardiologista solicitará os exames necessários, principalmente o Ecocardiograma, que serão agendados pela Regulação.
Confirmação Diagnóstica: Com os resultados, o cardiologista confirma o tipo e a gravidade da valvopatia e define o plano de tratamento.
Tratamento das Valvopatias pelo SUS: Opções Disponíveis
O tratamento ideal depende de qual válvula está afetada, da gravidade do problema (estenose ou insuficiência leve, moderada ou grave), da presença de sintomas e da condição geral de saúde do paciente.
1. Tratamento Clínico (Medicamentoso)
Em casos leves ou moderados, ou quando a cirurgia ainda não é necessária ou é muito arriscada, o tratamento com medicamentos é fundamental. Ele não cura a valvopatia, mas ajuda a controlar os sintomas, aliviar o trabalho do coração e prevenir complicações.
Medicamentos Disponíveis Gratuitamente no SUS:
Muitos desses medicamentos podem ser retirados na Farmácia Básica da UBS ou pelo programa Farmácia Popular:
Diuréticos (Ex: Furosemida, Hidroclorotiazida): Ajudam a eliminar o excesso de líquido, reduzindo o inchaço e a falta de ar.
Vasodilatadores (Ex: Enalapril, Losartana): Relaxam os vasos sanguíneos, facilitando o trabalho do coração.
Betabloqueadores (Ex: Carvedilol, Metoprolol): Reduzem a frequência cardíaca e a força de contração, aliviando o coração.
Anticoagulantes (Ex: Varfarina): Essenciais para prevenir coágulos em pacientes com fibrilação atrial associada ou com próteses mecânicas.
Digitálicos (Ex: Digoxina): Podem ser usados em alguns casos de insuficiência cardíaca ou fibrilação atrial.
Além disso, é muito importante a profilaxia para endocardite bacteriana. Pacientes com valvopatias precisam tomar antibióticos antes de certos procedimentos dentários ou cirúrgicos para prevenir infecções nas válvulas cardíacas.
2. Tratamento Cirúrgico
Quando a valvopatia é grave, causa sintomas importantes ou começa a dilatar ou enfraquecer o coração, a cirurgia é geralmente indicada. O SUS oferece cirurgia cardíaca de alta complexidade gratuitamente.
Cirurgia de Reparo (Plástica) da Válvula
Consiste em "consertar" a válvula doente, preservando a estrutura natural do paciente.
É a opção preferida sempre que possível, especialmente para a válvula mitral, pois evita a necessidade de anticoagulantes a longo prazo e geralmente tem melhores resultados.
Cirurgia de Troca da Válvula
Quando o reparo não é possível, a válvula doente é removida e substituída por uma prótese.
Tipos de Próteses Disponíveis no SUS:
Biológicas: Feitas de tecido animal (porcino ou bovino). Vantagem: Não exigem anticoagulação contínua. Desvantagem: Têm durabilidade limitada (10-15 anos em média) e podem precisar ser trocadas novamente. São geralmente preferidas para pacientes mais idosos.
Mecânicas: Feitas de materiais como carbono pirolítico. Vantagem: Altamente duráveis, raramente precisam ser trocadas. Desvantagem: Exigem o uso contínuo de anticoagulantes (Varfarina) para evitar a formação de coágulos, com necessidade de controle rigoroso do INR (exame de sangue). São geralmente indicadas para pacientes mais jovens.
A escolha entre prótese biológica ou mecânica é individualizada, conversada entre médico e paciente, considerando idade, estilo de vida, desejo de engravidar (no caso de mulheres) e a capacidade de seguir o tratamento anticoagulante corretamente.
Novidade no SUS: Implante Transcateter de Válvula Aórtica (TAVI)
O TAVI (ou IVAT em português) é um procedimento menos invasivo para tratar a estenose aórtica grave. Em vez de abrir o peito, a nova válvula é implantada através de um cateter inserido por um vaso sanguíneo (geralmente na virilha).
Desde novembro de 2022, o TAVI foi incorporado ao SUS, mas apenas para pacientes com estenose aórtica grave que são considerados inoperáveis ou de alto risco para a cirurgia convencional de peito aberto.
O acesso ao TAVI pelo SUS ainda está em fase de implementação e depende de hospitais especificamente habilitados e com equipes treinadas. Converse com seu cardiologista sobre essa possibilidade se você se encaixa no perfil.
Passo a Passo: Como Acessar a Cirurgia Cardíaca para Valvopatias pelo SUS
O caminho para a cirurgia cardíaca no SUS exige organização e paciência, mas é um direito garantido:
Indicação Médica: O cardiologista que acompanha seu caso no SUS, após avaliação clínica e exames (principalmente o ecocardiograma), indicará a necessidade da cirurgia.
Encaminhamento para Centro de Referência: Você receberá um encaminhamento oficial para um hospital habilitado em cirurgia cardíaca de alta complexidade. Esse encaminhamento entra no sistema da Central de Regulação.
Avaliação Pré-Operatória no Centro de Referência: O hospital entrará em contato para agendar consultas com a equipe de cirurgia cardíaca e anestesia, além de solicitar exames pré-operatórios (sangue, cateterismo, etc.).
Inclusão na Fila de Espera: Após a confirmação da indicação e a conclusão da avaliação pré-operatória, seu nome será incluído na fila de espera para a cirurgia, gerenciada pela Central de Regulação do Estado ou Município. A prioridade na fila depende da gravidade do caso.
Agendamento da Cirurgia: O hospital entrará em contato para informar a data da internação e da cirurgia, conforme sua posição na fila e a disponibilidade de leitos e equipe.
Realização da Cirurgia e Recuperação: A cirurgia é realizada e o período inicial de recuperação acontece na UTI e depois no quarto do hospital.
Acompanhamento Pós-Cirúrgico: Após a alta, você continuará o acompanhamento com o cardiologista na rede SUS, fazendo exames periódicos (ecocardiograma) e ajustando medicações conforme necessário.
Tempo de Espera: Infelizmente, o tempo de espera para cirurgia cardíaca eletiva no SUS pode variar bastante, de alguns meses a mais de um ano, dependendo da sua região, da urgência do seu caso e da capacidade dos hospitais. Você tem o direito de solicitar informações sobre sua posição na fila de espera junto à Secretaria de Saúde.
Centros de Referência em Cirurgia Cardíaca pelo SUS
O Brasil possui diversos hospitais públicos e filantrópicos de excelência habilitados pelo SUS para realizar cirurgias cardíacas complexas, incluindo o tratamento de valvopatias. Alguns exemplos notórios incluem:
Instituto Nacional de Cardiologia (INC) - Rio de Janeiro/RJ
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia - São Paulo/SP
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da FMUSP - São Paulo/SP
Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes - Fortaleza/CE
Hospital das Clínicas da UFMG - Belo Horizonte/MG
Instituto de Cardiologia do Distrito Federal - Brasília/DF
Hospital Ana Nery - Salvador/BA
Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre - Porto Alegre/RS
Para saber quais são os centros de referência na sua região, consulte a Secretaria de Saúde do seu estado ou município.
Direitos do Paciente com Valvopatia no SUS
Direitos Assistenciais
Acesso a consultas, exames e tratamento integral e gratuito.
Recebimento de medicamentos essenciais fornecidos pelo SUS.
Realização de cirurgia cardíaca (reparo ou troca valvar), quando indicada clinicamente.
Acesso a próteses valvares (biológicas ou mecânicas) fornecidas pelo SUS.
Acesso ao TAVI, se preencher os critérios de indicação estabelecidos pela CONITEC.
Transporte Fora do Domicílio (TFD), caso precise se deslocar para outro município para tratamento.
Acompanhamento pós-operatório e reabilitação cardíaca, quando disponível.
Direitos Previdenciários e Benefícios Sociais
Dependendo do impacto da valvopatia na sua capacidade de trabalho e condição socioeconômica, você pode ter direito a:
Auxílio-doença: Se ficar temporariamente incapacitado para o trabalho (requer contribuição ao INSS e perícia).
Aposentadoria por invalidez: Se a incapacidade para o trabalho for permanente (requer contribuição ao INSS e perícia).
Benefício de Prestação Continuada (BPC/LOAS): Para pessoas com deficiência (sequelas graves da valvopatia) ou idosos acima de 65 anos com baixa renda familiar (não exige contribuição ao INSS, mas requer avaliação social e perícia).
Isenção de impostos (IPI, ICMS, IPVA) na compra de veículo adaptado, em casos específicos de limitação física grave.
Procure o CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) ou uma agência do INSS para mais informações sobre esses benefícios.
Perguntas Frequentes sobre Valvopatias e Tratamento pelo SUS
Quanto tempo dura uma prótese valvar biológica?
A durabilidade média é de 10 a 15 anos, mas pode variar. Após esse período, pode ser necessário realizar uma nova cirurgia para trocar a prótese que se desgastou.
Preciso tomar anticoagulante para sempre após a troca da válvula?
Depende do tipo de prótese. Com a prótese mecânica, sim, é necessário tomar anticoagulante (Varfarina) por toda a vida e fazer controle regular do INR. Com a prótese biológica, geralmente não é preciso tomar anticoagulante a longo prazo, apenas nos primeiros meses após a cirurgia, a critério médico.
O SUS cobre a cirurgia minimamente invasiva para válvulas?
O SUS incorporou o TAVI (implante transcateter da válvula aórtica) para casos específicos de estenose aórtica grave em pacientes de alto risco ou inoperáveis. Outras técnicas minimamente invasivas para reparo ou troca de válvulas podem estar disponíveis em alguns centros de referência, mas a cirurgia convencional com abertura do tórax ainda é o procedimento padrão e mais amplamente disponível para a maioria dos casos.
Qual o risco da cirurgia de válvula cardíaca?
Toda cirurgia cardíaca tem riscos, que variam conforme a idade do paciente, a presença de outras doenças, a gravidade da valvopatia e a complexidade do procedimento. No entanto, para pacientes com indicação clara, os benefícios da cirurgia (melhora dos sintomas, aumento da sobrevida, prevenção de complicações) geralmente superam os riscos. Converse abertamente com a equipe médica sobre os riscos e benefícios no seu caso específico.
Conclusão: Cuidando das Válvulas do Coração com o Apoio do SUS
As doenças das válvulas cardíacas são sérias, mas com diagnóstico precoce e tratamento adequado, é possível ter qualidade de vida. O SUS desempenha um papel crucial ao oferecer desde o diagnóstico até tratamentos complexos e caros, como as cirurgias cardíacas e o TAVI, de forma gratuita.
Não ignore sintomas como falta de ar, cansaço ou palpitações. Procure a UBS mais próxima para uma avaliação. Conhecer o fluxo de atendimento e seus direitos dentro do SUS é o primeiro passo para garantir o acesso ao tratamento que pode salvar ou transformar sua vida.
Lembre-se: cuidar da saúde do coração é fundamental, e o SUS está aí para te apoiar nessa jornada!
Artigos Relacionados
Referências
Sociedade Brasileira de Cardiologia. (2020). Atualização das Diretrizes Brasileiras de Valvopatias.
Ministério da Saúde. (2022). Protocolos de Encaminhamento da Atenção Básica para Atenção Especializada: Cardiologia.
Ministério da Saúde. CONITEC. (2022). Relatório de Recomendação: Implante transcateter de válvula aórtica (TAVI) para tratamento da estenose aórtica grave em pacientes inoperáveis ou de alto risco cirúrgico.
Ministério da Saúde. Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME).
Saúde para todos
Tudo sobre o Sistema Único de Saúde Brasileiro e notícias relacionadas.
QUEM SOMOS
© 2024 Viva o SUS. All rights reserved.
Institucional
O que é o SUS
Hierarquização do SUS
Meu SUS Digital