Histerectomia pelo SUS: Como Solicitar e Quais São Seus Direitos
Saiba tudo sobre a histerectomia pelo SUS: indicações médicas, tipos de cirurgia, documentos necessários, tempo de recuperação e direitos da paciente. Guia completo e atualizado.
6/2/202510 min read


Histerectomia pelo SUS: Indicações, Procedimento e Recuperação
A histerectomia é uma das cirurgias ginecológicas mais realizadas no Brasil e está disponível gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Este procedimento, que consiste na remoção do útero, pode ser necessário para tratar diversas condições que afetam a saúde da mulher.
Neste artigo, você vai descobrir quando a histerectomia é indicada, como solicitar o procedimento pelo SUS, quais são os diferentes tipos de cirurgia disponíveis, como se preparar, o que esperar da recuperação e quais são seus direitos como paciente.
Importante: A histerectomia é um procedimento irreversível que impossibilita futuras gestações. Por isso, a decisão deve ser tomada com cuidado, após análise detalhada do caso e discussão de todas as alternativas de tratamento disponíveis.
O que é histerectomia?
A histerectomia é um procedimento cirúrgico que consiste na remoção do útero. Dependendo da condição médica da paciente, a cirurgia pode ser classificada como:
Histerectomia total: remoção completa do útero e do colo uterino
Histerectomia parcial ou subtotal: remoção apenas do corpo do útero, preservando o colo uterino
Histerectomia radical: remoção do útero, colo uterino, parte superior da vagina e tecidos adjacentes (geralmente realizada em casos de câncer)
Em alguns casos, os ovários e as trompas também podem ser removidos durante o procedimento, o que é chamado de histerectomia com anexectomia ou salpingo-ooforectomia.
Quando a histerectomia é indicada?
A histerectomia é geralmente considerada quando outras opções de tratamento não foram eficazes. As principais indicações incluem:
Miomas uterinos: tumores benignos que podem causar sangramento excessivo, dor pélvica e pressão na bexiga ou intestino
Endometriose severa: quando o tecido que reveste o útero cresce fora dele, causando dor pélvica crônica e infertilidade
Prolapso uterino: quando o útero desce para a vagina, causando desconforto e problemas urinários
Câncer: do útero, colo do útero ou ovários
Sangramento uterino anormal: que não responde a outros tratamentos
Dor pélvica crônica: quando associada a problemas uterinos
Doença inflamatória pélvica (DIP): infecção que pode causar danos permanentes ao útero e trompas
Atenção! A histerectomia só deve ser considerada após tentativa de tratamentos menos invasivos, como medicamentos, terapias hormonais ou procedimentos menores. Converse detalhadamente com seu médico sobre todas as opções disponíveis antes de optar pela cirurgia.
Tipos de histerectomia disponíveis pelo SUS
O SUS oferece diferentes técnicas cirúrgicas para a realização da histerectomia. A escolha dependerá da condição da paciente, da indicação médica e da disponibilidade no serviço de saúde:
1. Histerectomia abdominal
Realizada através de uma incisão no abdômen, que pode ser vertical (do umbigo ao púbis) ou horizontal (na parte inferior do abdômen, tipo "bikini"). É a técnica mais comum e pode ser necessária em casos de úteros muito aumentados ou quando há necessidade de examinar outros órgãos pélvicos.
2. Histerectomia vaginal
O útero é removido através da vagina, sem incisões abdominais. Esta técnica resulta em menos dor pós-operatória, recuperação mais rápida e ausência de cicatriz visível. É mais indicada para mulheres com prolapso uterino e úteros de tamanho normal ou pouco aumentados.
3. Histerectomia laparoscópica
Utiliza pequenas incisões no abdômen (de 0,5 a 1 cm) por onde são inseridos instrumentos cirúrgicos e uma câmera. Oferece recuperação mais rápida que a abdominal, menos dor e cicatrizes menores. Pode ser totalmente laparoscópica ou assistida por laparoscopia (com finalização vaginal).
4. Histerectomia robótica
Semelhante à laparoscópica, mas com auxílio de um sistema robótico controlado pelo cirurgião. Disponível em centros especializados do SUS, geralmente hospitais universitários ou de alta complexidade.
Tipos de Cirurgia
Abdominal
Permite melhor visualização da cavidade pélvica; indicada para úteros grandes
Maior cicatriz; recuperação mais longa; mais dor pós-operatória
4-8 semanas
Vaginal
Sem cicatriz visível; menos dor; recuperação mais rápida
Limitada para úteros pequenos; visualização restrita da cavidade pélvica
2-4 semanas
Laparoscópica
Cicatrizes pequenas; boa visualização; recuperação intermediária
Requer equipamento especializado; maior tempo cirúrgico
3-5 semanas
Robótica
Maior precisão; menos complicações; recuperação rápida
Disponibilidade limitada; custo elevado para o sistema
2-4 semanas
Passo a passo para solicitar histerectomia pelo SUS
O acesso à histerectomia pelo SUS segue um fluxo específico. Conhecer este caminho ajuda a agilizar o processo e garantir o atendimento adequado:
Procure a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima da sua residência com seus documentos pessoais e cartão SUS
Agende uma consulta com clínico geral ou médico de família da unidade
Relate seus sintomas detalhadamente durante a consulta
Receba o encaminhamento para ginecologista da rede SUS
Agende a consulta especializada no setor de agendamento da UBS ou na Central de Regulação do seu município
Realize os exames solicitados pelo ginecologista (ultrassonografia pélvica, exames de sangue, etc.)
Retorne ao ginecologista com os resultados para discutir o diagnóstico e as opções de tratamento
Obtenha a indicação cirúrgica, caso a histerectomia seja necessária
Realize a avaliação pré-operatória com exames complementares e consulta com anestesista
Aguarde o agendamento da cirurgia, que dependerá da urgência do caso e da disponibilidade do serviço
Dica: Mantenha todos os seus exames e documentos médicos organizados. Leve-os sempre às consultas, mesmo que já tenha apresentado anteriormente. Isso facilita o acompanhamento do seu caso pelo médico e pode agilizar o processo.
Documentos necessários para solicitar a cirurgia
Para solicitar a histerectomia pelo SUS, você precisará apresentar:
Documento de identidade com foto (RG ou CNH)
CPF
Cartão SUS
Comprovante de residência
Encaminhamento médico com a indicação da cirurgia
Resultados de exames que comprovem a necessidade do procedimento
Relatório médico detalhando a condição e justificando a necessidade da cirurgia
Preparação para a cirurgia
Uma vez que a cirurgia esteja agendada, você receberá orientações específicas para se preparar. Geralmente, incluem:
Semanas antes da cirurgia:
Realizar todos os exames pré-operatórios solicitados (sangue, urina, eletrocardiograma, etc.)
Informar ao médico todos os medicamentos que você utiliza regularmente
Parar de fumar, se for fumante (o ideal é pelo menos 4 semanas antes)
Manter uma alimentação saudável para fortalecer o sistema imunológico
Dias antes da cirurgia:
Suspender o uso de medicamentos anticoagulantes (como AAS), conforme orientação médica
Evitar bebidas alcoólicas
Preparar sua casa para o período de recuperação (alimentos fáceis de preparar, itens de higiene acessíveis)
Organizar quem irá acompanhá-la no hospital e ajudá-la nos primeiros dias em casa
Na véspera e no dia da cirurgia:
Fazer jejum de alimentos sólidos e líquidos por 8 horas antes do procedimento
Tomar banho com sabonete antisséptico, se indicado
Remover esmaltes, maquiagem, joias e piercings
Não usar cremes ou loções corporais
Levar todos os documentos solicitados pelo hospital
Importante: Siga rigorosamente as orientações de jejum pré-operatório. Ingerir alimentos ou líquidos no período proibido pode causar complicações graves durante a anestesia e levar ao cancelamento da cirurgia.
O que esperar durante a internação
O tempo de internação varia conforme o tipo de cirurgia realizada:
Histerectomia vaginal ou laparoscópica: geralmente 1 a 2 dias
Histerectomia abdominal: geralmente 2 a 4 dias
Histerectomia radical: pode exigir 3 a 5 dias ou mais
Durante a internação, você receberá:
Medicação para dor
Antibióticos para prevenir infecções (em alguns casos)
Monitoramento dos sinais vitais
Incentivo para caminhar assim que possível (geralmente no dia seguinte à cirurgia)
Orientações sobre cuidados com a ferida operatória
Avaliação da função intestinal e urinária
Recuperação e cuidados pós-operatórios
A recuperação completa após uma histerectomia leva tempo e varia de acordo com o tipo de cirurgia realizada. Seguir as orientações médicas é fundamental para evitar complicações:
Primeiras semanas (1-2 semanas):
Repouso relativo, alternando períodos de descanso com pequenas caminhadas dentro de casa
Evitar subir escadas repetidamente
Não levantar objetos pesados (mais de 2-3 kg)
Manter a ferida operatória limpa e seca
Tomar os medicamentos prescritos nos horários corretos
Usar analgésicos conforme orientação médica
Observar sinais de infecção ou complicações
Período intermediário (3-4 semanas):
Aumentar gradualmente o nível de atividade física
Continuar evitando levantar peso
Retornar ao médico para avaliação da cicatrização
Manter abstinência sexual
Recuperação avançada (5-8 semanas):
Retorno gradual às atividades normais, conforme liberação médica
Possibilidade de retorno ao trabalho (dependendo do tipo de atividade)
Início de atividades físicas leves, se autorizado pelo médico
Retorno à atividade sexual após liberação médica (geralmente 6-8 semanas)
Dica: Mantenha uma alimentação rica em fibras e beba bastante água para prevenir a constipação, que é comum após cirurgias pélvicas e pode causar desconforto.
Possíveis complicações e quando procurar ajuda médica
Como qualquer procedimento cirúrgico, a histerectomia pode apresentar complicações. É importante conhecê-las e saber quando buscar atendimento médico imediato:
Complicações imediatas (primeiros dias):
Sangramento excessivo: que encharque mais de um absorvente por hora
Febre: temperatura acima de 38°C
Dor intensa: que não melhora com a medicação prescrita
Vermelhidão, inchaço ou secreção na ferida operatória
Dificuldade para urinar ou dor ao urinar
Falta de ar ou dor no peito
Complicações tardias (semanas ou meses após):
Prolapso vaginal: quando o topo da vagina desce
Problemas urinários persistentes: incontinência ou retenção
Dor durante relações sexuais
Formação de fístulas: comunicações anormais entre órgãos
Linfedema: inchaço nas pernas (mais comum após cirurgias para câncer)
Atenção! Procure atendimento médico imediatamente se apresentar qualquer um dos sintomas acima. Em caso de sangramento intenso, febre alta, falta de ar ou dor no peito, vá diretamente ao pronto-socorro mais próximo.
Impactos da histerectomia na saúde da mulher
A histerectomia pode ter diferentes impactos na saúde e na qualidade de vida da mulher, dependendo da idade, do motivo da cirurgia e se os ovários foram ou não removidos:
Aspectos hormonais:
Se os ovários forem preservados, não haverá alterações hormonais significativas
Se os ovários forem removidos antes da menopausa natural, ocorrerá menopausa cirúrgica imediata
A menopausa cirúrgica pode causar sintomas como ondas de calor, suores noturnos, secura vaginal e alterações de humor
Terapia hormonal pode ser indicada para aliviar estes sintomas
Aspectos físicos:
Fim dos sangramentos menstruais
Impossibilidade de engravidar
Possível alívio de sintomas como dor pélvica crônica e sangramento excessivo
Possíveis alterações na sensibilidade e resposta sexual
Maior risco de osteoporose e doenças cardiovasculares se os ovários forem removidos
Aspectos emocionais e psicológicos:
Algumas mulheres relatam sensação de alívio após a cirurgia, especialmente se sofriam com sintomas graves
Outras podem experimentar sentimentos de perda, tristeza ou alterações na percepção da feminilidade
Apoio psicológico pode ser benéfico durante o processo de adaptação
É importante lembrar que cada mulher vivencia a histerectomia de forma única, e os impactos variam conforme o contexto individual, cultural e social.
Direitos da paciente no SUS
Como usuária do Sistema Único de Saúde, você tem direitos garantidos por lei durante todo o processo de tratamento:
Direito à informação completa sobre sua condição, opções de tratamento, riscos e benefícios
Direito ao consentimento informado, assinando um termo após receber todas as explicações necessárias
Direito à segunda opinião médica, caso deseje
Direito ao acompanhante durante a internação (Lei Federal nº 8.080/90)
Direito ao atestado médico para afastamento do trabalho durante o período de recuperação
Direito ao tratamento humanizado, com respeito à sua dignidade e privacidade
Direito ao acesso ao prontuário médico e a todos os seus exames
Direito ao transporte sanitário para tratamento fora do domicílio, quando necessário
Em caso de dificuldade para acessar estes direitos, você pode recorrer à Ouvidoria do SUS pelo telefone 136 ou procurar a Defensoria Pública do seu estado.
Histórias reais: experiências de histerectomia pelo SUS
Ana, 45 anos, professora de Belo Horizonte, realizou uma histerectomia total por via abdominal devido a miomas múltiplos e sangramento intenso. "Todo o processo pelo SUS levou cerca de 4 meses, desde a primeira consulta até a cirurgia. A equipe médica foi muito atenciosa e recebi todas as informações necessárias. A recuperação foi gradual, mas após 2 meses já estava retomando minhas atividades normais. A qualidade de vida que ganhei compensou todo o processo."
Já Márcia, 52 anos, do Rio de Janeiro, passou por uma histerectomia vaginal para tratar prolapso uterino. "Fiquei apenas um dia internada e a recuperação foi surpreendentemente rápida. Em três semanas já estava bem melhor. O que mais me ajudou foi seguir à risca todas as recomendações médicas e contar com o apoio da minha família. O SUS me proporcionou um atendimento de qualidade, desde o diagnóstico até o pós-operatório."
Perguntas frequentes sobre histerectomia
A histerectomia causa menopausa?
Não necessariamente. Se apenas o útero for removido e os ovários forem preservados, não haverá menopausa imediata, pois os ovários continuarão produzindo hormônios. No entanto, se os ovários também forem removidos (ooforectomia), ocorrerá menopausa cirúrgica imediata, independentemente da idade da mulher.
Como fica a vida sexual após a histerectomia?
A maioria das mulheres pode retomar a vida sexual normal após a completa cicatrização (geralmente 6-8 semanas). Algumas relatam melhora na vida sexual devido ao alívio dos sintomas que tinham antes (como dor ou sangramento). Outras podem experimentar algumas mudanças na sensibilidade ou lubrificação, que geralmente podem ser contornadas com lubrificantes ou orientação especializada.
Posso solicitar uma histerectomia apenas porque não quero mais ter filhos?
Não. A histerectomia é um procedimento cirúrgico com riscos e consequências permanentes, indicado apenas para tratar condições médicas específicas. Para contracepção definitiva, existem métodos menos invasivos, como a laqueadura tubária ou a vasectomia para o parceiro.
Quanto tempo dura a lista de espera para histerectomia no SUS?
O tempo de espera varia muito conforme a região do país, a urgência do caso e a disponibilidade de serviços. Casos oncológicos têm prioridade e geralmente são atendidos em até 60 dias. Para condições benignas, o tempo pode variar de alguns meses a mais de um ano. Consulte a Central de Regulação do seu município para informações mais precisas.
É possível escolher o tipo de histerectomia que será realizada?
A escolha da técnica cirúrgica depende principalmente da indicação médica, considerando fatores como o tamanho do útero, presença de cirurgias anteriores, condição geral de saúde e disponibilidade técnica no serviço. No entanto, você pode e deve discutir as opções com seu médico, expressando suas preferências e preocupações.
Quais são as alternativas à histerectomia?
Dependendo da condição, existem alternativas como tratamentos hormonais, embolização de miomas, miomectomia (remoção apenas dos miomas), ablação endometrial (para sangramento), pessários (para prolapso) e outros procedimentos menos invasivos. Converse com seu médico sobre todas as opções disponíveis para o seu caso específico.
Conclusão
A histerectomia pelo SUS é um direito garantido às mulheres brasileiras que necessitam deste procedimento por razões médicas. Embora seja uma cirurgia definitiva e que requer consideração cuidadosa, pode proporcionar significativa melhora na qualidade de vida para mulheres que sofrem com condições como miomas, endometriose, prolapso ou câncer.
O conhecimento sobre o processo, desde a solicitação até a recuperação, empodera as pacientes a tomarem decisões informadas e a participarem ativamente do seu tratamento. Lembre-se de que cada caso é único, e as informações deste artigo são gerais – seu médico fornecerá orientações específicas para sua situação.
Se você está considerando uma histerectomia ou já tem indicação para o procedimento, não hesite em buscar todas as informações necessárias, tirar suas dúvidas com a equipe médica e, se possível, conversar com outras mulheres que já passaram pela cirurgia.
Importante: Este artigo tem caráter informativo e não substitui a consulta médica. Sempre busque orientação de um profissional de saúde para diagnóstico e tratamento adequados.
Artigos relacionados
Saúde para todos
Tudo sobre o Sistema Único de Saúde Brasileiro e notícias relacionadas.
QUEM SOMOS
© 2024 Viva o SUS. All rights reserved.
Institucional
O que é o SUS
Hierarquização do SUS
Meu SUS Digital