Urticária: Guia Completo de Tipos, Fluxo de Atendimento de Urgência, Tratamento com Anti-histamínicos e Acesso ao Medicamento Biológico Omalizumabe pelo SUS

Saiba como o SUS trata a Urticária, a diferença entre a forma aguda e crônica, quando buscar a emergência por Angioedema e o passo a passo para acessar o tratamento avançado com Omalizumabe (Xolair®) via CEAF.

12/5/20254 min read

Urticária: Tratamento de Crises Alérgicas, Angioedema e Acesso ao Omalizumabe pelo Sistema Único de Saúde (SUS)

A Urticária é uma condição dermatológica e alérgica caracterizada pelo surgimento de lesões elevadas, avermelhadas e intensamente pruriginosas (coceira), conhecidas como urticas ou "placas". Frequentemente, a urticária pode vir acompanhada de angioedema, um inchaço das camadas mais profundas da pele, que, quando atinge a garganta, pode se tornar uma emergência médica. Milhões de brasileiros sofrem com crises agudas ou com a forma crônica da doença, que impacta drasticamente a qualidade de vida.

O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece um protocolo de atendimento que garante o manejo das crises agudas, o tratamento de manutenção com anti-histamínicos e, para os casos mais graves e refratários, o acesso a medicamentos biológicos de alto custo, como o Omalizumabe (Xolair®).

Entendendo a Urticária: Aguda, Crônica e Angioedema

A urticária é o resultado da liberação de mediadores químicos, principalmente a histamina, por células da pele (mastócitos), o que causa vasodilatação e extravasamento de líquido, formando as urticas.

Classificação da Urticária:

  1. Urticária Aguda:

    • Duração: Dura menos de seis semanas.

    • Causas: Na maioria das vezes, é causada por infecções (virais ou bacterianas), medicamentos (como anti-inflamatórios não esteroides - AINEs) ou alimentos.

    • Tratamento: Geralmente responde bem aos anti-histamínicos.

  2. Urticária Crônica:

    • Duração: Persiste por seis semanas ou mais.

    • Tipos:

      • Urticária Crônica Espontânea (UCE): A causa não é identificada, sendo frequentemente autoimune.

      • Urticária Crônica Induzida: Desencadeada por estímulos físicos específicos (dermografismo, frio, calor, pressão, exercício).

O Risco do Angioedema

O Angioedema é o inchaço que ocorre nas camadas mais profundas da pele e mucosas. Embora possa ser indolor, quando afeta a língua, a garganta ou as pálpebras, pode levar à obstrução das vias aéreas e é considerado uma emergência médica. O paciente com angioedema de risco deve ser encaminhado imediatamente para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) ou Pronto-Socorro.

O Fluxo de Atendimento e Tratamento de Crises pelo SUS

O tratamento da urticária é escalonado, começando pela Atenção Primária e evoluindo para a Urgência e a Atenção Especializada.

1. Atenção Primária (UBS/USF)

A Unidade Básica de Saúde (UBS) é a porta de entrada para o diagnóstico e manejo dos casos leves e crônicos estáveis.

  • Diagnóstico Clínico: O médico da UBS fará a anamnese detalhada para tentar identificar possíveis gatilhos (medicamentos, alimentos).

  • Tratamento de Primeira Linha: Prescrição de Anti-histamínicos H1 de Segunda Geração (antialérgicos não sedativos), que são o tratamento de escolha para o controle dos sintomas. O SUS fornece medicamentos como Loratadina, Cetirizina e Fexofenadina na Farmácia Básica.

2. Atendimento de Urgência (UPA/Pronto-Socorro)

Em casos de crises agudas graves ou angioedema com risco de obstrução de vias aéreas, o paciente deve buscar a urgência.

  • Tratamento Imediato: O protocolo inclui a administração de Corticosteroides Sistêmicos (ex: Dexametasona injetável ou Prednisona oral) para reduzir a inflamação rapidamente, e Anti-histamínicos Injetáveis.

  • Anafilaxia: Em casos de anafilaxia (reação alérgica grave com queda de pressão e dificuldade respiratória), a administração de Adrenalina (Epinefrina) é crucial e faz parte do protocolo de emergência do SUS.

O Tratamento da Urticária Crônica Refratária: Acesso ao Omalizumabe

A Urticária Crônica Espontânea (UCE) é considerada refratária quando não responde ao tratamento de primeira linha, que consiste no uso de anti-histamínicos H1 de segunda geração em doses elevadas (até 4 vezes a dose padrão) por um período adequado. Nesses casos, o SUS oferece o acesso ao Omalizumabe (Xolair®), um medicamento biológico de alto custo.

O Omalizumabe (Xolair®) pelo SUS:

  • Mecanismo de Ação: O Omalizumabe é um anticorpo monoclonal que se liga à Imunoglobulina E (IgE), reduzindo a liberação de histamina e outros mediadores inflamatórios.

  • Incorporação: O medicamento foi incorporado ao SUS para o tratamento da Urticária Crônica Espontânea (UCE) refratária, seguindo um Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) específico.

  • Fluxo de Acesso (CEAF):

    1. Encaminhamento: O paciente deve ser encaminhado por um Alergista/Imunologista ou Dermatologista de um Centro de Referência.

    2. Critérios do PCDT: O médico deve comprovar que o paciente atende aos critérios de inclusão do PCDT, como o diagnóstico de UCE e a falha no tratamento com anti-histamínicos em dose elevada.

    3. Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (CEAF): O medicamento é fornecido pelo CEAF, após a abertura de um processo administrativo com a documentação completa (laudo médico, exames e termo de consentimento).

A Importância do Diário de Urticária e a Investigação Etiológica

Para o sucesso do tratamento, é fundamental que o paciente e o médico trabalhem juntos na investigação da causa, especialmente na forma crônica.

  • Diário de Urticária: O paciente deve registrar diariamente a ocorrência das lesões, a intensidade da coceira e o uso de medicamentos. Isso ajuda o médico a classificar a doença e monitorar a resposta ao tratamento.

  • Testes de Provocação: Em casos de Urticária Crônica Induzida, o especialista pode realizar testes de provocação (exposição controlada ao frio, calor, pressão) para confirmar o gatilho.

O SUS garante que o paciente com Urticária, desde a crise leve até a forma crônica refratária, tenha acesso ao tratamento mais adequado, incluindo a terapia biológica de ponta, reafirmando o princípio da integralidade da saúde.

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Referências