Dermatite de Contato: Guia Completo de Tipos, Fluxo de Diagnóstico, Teste de Contato e Acesso a Medicamentos Essenciais pelo SUS
Saiba como o SUS trata a Dermatite de Contato, a diferença entre a forma irritativa e alérgica, como é feito o Teste de Contato (Patch Test) e o acesso a corticoides tópicos e orais, anti-histamínicos e hidratantes fornecidos pela rede pública.
12/5/20255 min read


Dermatite de Contato: Tipos, Diagnóstico e o Tratamento Completo Disponível pelo SUS
A Dermatite de Contato (DC) é uma das condições dermatológicas mais comuns, representando uma reação inflamatória da pele que ocorre após o contato direto com uma substância específica. Essa reação pode variar de uma leve vermelhidão e coceira a bolhas intensas e descamação, afetando significativamente a qualidade de vida e, em muitos casos, a capacidade de trabalho do indivíduo. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece um protocolo de atendimento que abrange desde a identificação do agente causador na Atenção Primária até o diagnóstico especializado e o fornecimento de medicamentos essenciais para o controle da inflamação.
A Distinção Fundamental: Irritativa vs. Alérgica
A Dermatite de Contato é classificada em dois grandes grupos, que se diferenciam pelo mecanismo de ação da substância sobre a pele:
1. Dermatite de Contato Irritativa (DCI)
A DCI é a forma mais comum e não envolve o sistema imunológico. É causada por uma toxicidade direta da substância sobre a barreira protetora da pele.
Mecanismo: O agente irritante (como detergentes, solventes, ácidos, álcalis) danifica a camada lipídica da pele, causando inflamação. A reação ocorre em quase todas as pessoas expostas em concentração e tempo suficientes.
Sintomas: Predominantemente ardor, dor, vermelhidão e ressecamento. As lesões tendem a ser limitadas à área de contato.
Exemplos Comuns: Mãos de profissionais de limpeza ou saúde (pelo contato frequente com água e sabão), ou exposição a produtos químicos industriais.
2. Dermatite de Contato Alérgica (DCA)
A DCA é uma reação de hipersensibilidade tardia (tipo IV), que envolve o sistema imunológico. Ocorre apenas em indivíduos previamente sensibilizados ao alérgeno.
Mecanismo: O alérgeno (como níquel, cromo, látex, perfumes, conservantes) penetra na pele e é processado pelas células de defesa, gerando uma memória imunológica. Na reexposição, o sistema imunológico reage de forma exagerada.
Sintomas: Coceira intensa (prurido), vermelhidão, inchaço e, frequentemente, formação de bolhas (vesículas) e descamação. As lesões podem se espalhar para áreas distantes do contato inicial.
Exemplos Comuns: Reação a bijuterias (níquel), cosméticos, tintas de cabelo ou luvas de borracha (látex).
O Fluxo de Diagnóstico e Atendimento pelo SUS
O diagnóstico e o tratamento da Dermatite de Contato começam na Atenção Primária e podem evoluir para a atenção especializada, dependendo da gravidade e da necessidade de identificação do agente causador.
1. Atenção Primária (UBS/USF)
O médico ou enfermeiro da Unidade Básica de Saúde (UBS) é o primeiro a avaliar o paciente. O foco é na história clínica detalhada:
História de Exposição: Perguntas sobre a profissão (Dermatite de Contato Ocupacional), hobbies, uso de cosméticos, produtos de limpeza e contato com metais.
Diagnóstico Clínico: Diferenciação entre DCI e DCA e exclusão de outras dermatoses (como Dermatite Atópica ou Psoríase).
Orientação: A principal medida é a identificação e o afastamento do agente causador.
2. Atenção Especializada (Dermatologista)
O encaminhamento para o Dermatologista via sistema de regulação (SISREG) é indicado para:
Casos Crônicos ou Recorrentes: Quando a lesão não cicatriza ou retorna frequentemente.
Dúvida Diagnóstica: Necessidade de confirmação do tipo de dermatite.
Teste de Contato (Patch Test): Este é o exame padrão-ouro para confirmar a Dermatite de Contato Alérgica e identificar o alérgeno específico. O SUS cobre a realização do Teste de Contato em centros de referência. O teste consiste na aplicação de adesivos contendo as substâncias suspeitas nas costas do paciente, com leitura após 48 e 96 horas.
Tratamento e Acesso a Medicamentos Essenciais pelo SUS
O tratamento da Dermatite de Contato no SUS é multifacetado, visando controlar a inflamação, aliviar os sintomas e restaurar a barreira cutânea.
1. Tratamento Tópico (Farmácia Básica)
O tratamento local é o mais utilizado e é fornecido gratuitamente na Farmácia Básica do município:
Corticosteroides Tópicos: São a base do tratamento para reduzir a inflamação e a coceira. O SUS disponibiliza diversas potências, como:
Hidrocortisona (baixa potência): Para áreas sensíveis (face, dobras).
Betametasona (média/alta potência): Para lesões mais resistentes no corpo.
Furoato de Mometasona: Um corticoide de potência média/alta, incorporado recentemente para o tratamento de dermatites, que pode ser utilizado em ciclos curtos.
Emolientes e Hidratantes: Essenciais para restaurar a função de barreira da pele, especialmente na DCI. O SUS fornece formulações básicas de cremes e loções.
Antissépticos: Para prevenir ou tratar infecções secundárias (quando há feridas ou bolhas abertas).
2. Tratamento Sistêmico (Casos Graves)
Para crises agudas e extensas, o tratamento oral pode ser necessário:
Corticosteroides Orais: A Prednisona ou Prednisolona são prescritas em doses decrescentes por um período curto (geralmente 7 a 14 dias) para controlar a inflamação grave.
Anti-histamínicos Orais: Utilizados para aliviar a coceira intensa (prurido), que pode atrapalhar o sono. O SUS fornece anti-histamínicos de primeira geração (com efeito sedativo, como a Dexclorfeniramina) e de segunda geração (não sedativos, como a Loratadina).
Dermatite de Contato Ocupacional e a Saúde do Trabalhador
A Dermatite de Contato Ocupacional (DCO) é uma forma de DC que ocorre no ambiente de trabalho e é uma das doenças ocupacionais mais comuns. O SUS atua ativamente na saúde do trabalhador:
Diagnóstico e Notificação: O médico da UBS deve notificar a DCO e encaminhar o paciente para o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST).
Prevenção: O CEREST atua na identificação dos riscos no ambiente de trabalho e na orientação sobre o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e medidas de higiene.
Afastamento: Em casos graves, o afastamento temporário do agente causador é fundamental para a recuperação da pele.
Cuidados Essenciais e Prevenção
O controle da Dermatite de Contato depende da adesão do paciente a medidas preventivas:
Evitar o Agente: Uma vez identificado o alérgeno (via Teste de Contato) ou o irritante, o afastamento total é a única cura.
Proteção: Uso de luvas de vinil (em vez de látex, se for o alérgeno), roupas protetoras e cremes de barreira.
Hidratação Contínua: Manter a pele bem hidratada é crucial para fortalecer a barreira cutânea e reduzir a vulnerabilidade a irritantes.
O SUS garante que o paciente com Dermatite de Contato receba um tratamento que não apenas alivia os sintomas, mas que busca a causa do problema, promovendo a saúde e a reintegração do indivíduo às suas atividades diárias e profissionais.
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Referências
Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Orientações sobre Dermatite de Contato.
Ministério da Saúde. Guia de Medicamentos Essenciais (RENAME).
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Uso de Corticoides Tópicos.
Ministério da Saúde. Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora.
Conselho Federal de Medicina (CFM). Resolução sobre Teste de Contato.
Ministério da Saúde. Atenção Primária à Saúde: Dermatologia.
Protocolo de Tratamento de Dermatite de Contato da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo.
Ministério da Saúde. Elenco de Medicamentos e Insumos do Programa Farmácia Popular do Brasil.
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