Parto Humanizado: Como Garantir Seus Direitos pelo SUS
Descubra como solicitar um parto humanizado pelo SUS, conheça seus direitos garantidos por lei e saiba como evitar a violência obstétrica. Guia passo a passo!


Parto Humanizado pelo SUS: Direitos e Como Solicitar - Guia Completo
O parto é um dos momentos mais importantes na vida de uma mulher e de sua família. Mais do que um evento médico, é uma experiência que marca profundamente a vida de todos os envolvidos.
Felizmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) garante a todas as gestantes o direito ao parto humanizado, respeitando suas escolhas e proporcionando uma experiência digna e segura.
Neste artigo, você vai descobrir o que é o parto humanizado, quais são seus direitos garantidos por lei e, principalmente, como solicitar esse tipo de assistência pelo SUS.
Importante: O Brasil possui leis específicas que garantem o direito ao parto humanizado, como a Lei do Acompanhante (11.108/2005) e a Lei da Vinculação à Maternidade (11.634/2007). Conhecer esses direitos é fundamental para garantir uma experiência de parto respeitosa e segura.
O que é o Parto Humanizado?
O parto humanizado não é apenas um tipo específico de parto, mas sim uma abordagem que coloca a mulher como protagonista do processo, respeitando suas escolhas, sua autonomia e sua individualidade.
Segundo o Ministério da Saúde, a humanização do parto envolve um conjunto de práticas e procedimentos que visam à promoção do parto e nascimento saudáveis e à prevenção da mortalidade materna e perinatal.
Principais características do parto humanizado:
Respeito às escolhas da mulher sobre posições de parto, métodos de alívio da dor e intervenções
Presença de acompanhante de livre escolha da gestante durante todo o processo
Ambiente acolhedor e respeitoso
Estímulo ao contato pele a pele entre mãe e bebê logo após o nascimento
Incentivo ao aleitamento materno na primeira hora de vida
Redução de intervenções desnecessárias (como episiotomia de rotina, uso indiscriminado de ocitocina, etc.)
Informações claras e consentimento para todos os procedimentos
Atenção: O parto humanizado pode acontecer tanto na modalidade de parto normal quanto na cesariana, quando esta for necessária. O que define a humanização é o respeito à mulher e suas escolhas, não o tipo de parto em si.
Direitos da Gestante no SUS: O que a Lei Garante
No Brasil, existem leis específicas que garantem os direitos das gestantes durante o pré-natal, parto e pós-parto. Conhecer esses direitos é fundamental para exigi-los quando necessário.
Lei do Acompanhante (Lei nº 11.108/2005)
Esta lei garante às parturientes o direito à presença de um acompanhante de sua livre escolha durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do SUS.
Pontos importantes:
O acompanhante pode ser qualquer pessoa escolhida pela gestante (parceiro, mãe, amiga, doula, etc.)
Não há necessidade de parentesco ou de ser do mesmo sexo
O direito se aplica tanto ao parto normal quanto à cesariana
A presença do acompanhante não pode ser negada sob nenhuma justificativa
Lei da Vinculação à Maternidade (Lei nº 11.634/2007)
Esta lei assegura à gestante o direito de conhecer e se vincular previamente à maternidade onde será realizado seu parto.
Direitos garantidos:
Conhecer antecipadamente a maternidade onde será realizado o parto
Receber atendimento no mesmo local durante o pré-natal e o parto
Em caso de necessidade de transferência, ter garantia de vaga em outra unidade
Outros direitos garantidos
Direito à informação: receber informações claras sobre procedimentos, riscos e alternativas
Direito ao consentimento informado: nenhum procedimento pode ser realizado sem o consentimento da gestante
Direito à privacidade: ter sua intimidade respeitada durante todo o processo
Direito à alimentação e hidratação: poder se alimentar e hidratar durante o trabalho de parto, conforme orientação médica
Direito à liberdade de movimentação: poder caminhar e adotar posições confortáveis durante o trabalho de parto
Direito ao contato imediato com o bebê: ter o bebê colocado sobre seu peito logo após o nascimento
Saiba mais: A Lei nº 13.257/2016 (Marco Legal da Primeira Infância) ampliou a licença-paternidade de 5 para 20 dias para funcionários de empresas participantes do Programa Empresa Cidadã, reforçando a importância do envolvimento paterno desde o nascimento.
Como Solicitar um Parto Humanizado pelo SUS: Passo a Passo
Garantir um parto humanizado pelo SUS requer planejamento e conhecimento. Siga estes passos para aumentar suas chances de ter uma experiência positiva:
1. Inicie o pré-natal o quanto antes
O primeiro passo para garantir um parto humanizado é iniciar o pré-natal logo nas primeiras semanas de gestação. Procure a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima da sua residência com seus documentos pessoais e cartão do SUS.
Durante o pré-natal, você terá a oportunidade de discutir suas preferências para o parto com os profissionais que a acompanham.
2. Informe-se sobre as maternidades disponíveis
Pesquise sobre as maternidades da sua região que oferecem práticas humanizadas. Você pode:
Perguntar ao médico ou enfermeiro que realiza seu pré-natal
Buscar informações na Secretaria Municipal de Saúde
Conversar com outras mães que tiveram experiências positivas
Pesquisar grupos de apoio ao parto humanizado nas redes sociais
Algumas cidades contam com Casas de Parto ou Centros de Parto Normal, que são unidades especializadas em partos de baixo risco com abordagem humanizada.
3. Solicite a vinculação à maternidade escolhida
Durante o pré-natal, solicite ao profissional que a acompanha a vinculação à maternidade de sua preferência. Este é um direito garantido pela Lei nº 11.634/2007.
Peça para conhecer a maternidade antes do parto, o que também é um direito seu. Muitas unidades oferecem visitas guiadas para gestantes.
Importante: A vinculação à maternidade deve ser formalizada até o 7º mês de gestação. Não deixe para última hora, pois isso garante que você já estará cadastrada na unidade quando entrar em trabalho de parto.
4. Elabore um plano de parto
O plano de parto é um documento que expressa suas preferências para o momento do nascimento. Ele não é legalmente obrigatório, mas é uma ferramenta importante para comunicar seus desejos à equipe que irá atendê-la.
Itens que podem constar no plano de parto:
Quem será seu acompanhante
Preferências para alívio da dor (métodos não-farmacológicos, analgesia)
Posições desejadas para o trabalho de parto e parto
Preferências sobre intervenções como episiotomia, uso de ocitocina, etc.
Desejos para os primeiros momentos após o nascimento (contato pele a pele, amamentação)
Procedimentos com o recém-nascido (banho, exames)
Discuta seu plano de parto com o profissional que realiza seu pré-natal e leve-o consigo para a maternidade.
Dica: Mantenha seu plano de parto simples e objetivo, focando nos pontos mais importantes para você. Um documento muito extenso pode ser difícil de ser lido pela equipe em um momento de urgência.
5. Conheça seus direitos e leve um acompanhante informado
Estude sobre seus direitos e compartilhe essas informações com seu acompanhante. Uma pessoa bem informada pode ajudar a garantir que seus direitos sejam respeitados durante o trabalho de parto e parto.
Considere também a possibilidade de contar com o apoio de uma doula, que é uma profissional treinada para dar suporte físico e emocional durante o parto. Algumas maternidades do SUS já contam com doulas voluntárias.
6. No momento do parto
Ao chegar à maternidade:
Apresente seu cartão de pré-natal e seu plano de parto
Informe quem será seu acompanhante
Comunique suas preferências à equipe que irá atendê-la
Pergunte sobre qualquer procedimento que não entenda
Lembre-se que você tem o direito de consentir ou recusar procedimentos, desde que esteja consciente e orientada
Práticas Recomendadas e Não Recomendadas no Parto Humanizado
O Ministério da Saúde, baseado em evidências científicas e recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), estabelece diretrizes para a assistência ao parto. Conhecer essas práticas pode ajudar você a identificar se está recebendo um atendimento humanizado.
Práticas que devem ser estimuladas:
Oferta de líquidos durante o trabalho de parto
Liberdade de posição e movimento durante o trabalho de parto
Métodos não-farmacológicos de alívio da dor (banho quente, massagem, bola suíça)
Presença contínua do acompanhante
Contato pele a pele entre mãe e bebê logo após o nascimento
Clampeamento tardio do cordão umbilical
Amamentação na primeira hora de vida
Práticas que devem ser evitadas:
Episiotomia de rotina (corte no períneo)
Manobra de Kristeller (pressão no fundo do útero)
Uso rotineiro de ocitocina para acelerar o parto
Ruptura artificial da bolsa sem indicação clara
Separação desnecessária entre mãe e bebê após o nascimento
Restrição alimentar e hídrica durante o trabalho de parto sem indicação médica
Posição obrigatória de litotomia (deitada com pernas nos estribos)
Atenção: A manobra de Kristeller (pressão no fundo do útero para "ajudar" na expulsão do bebê) é considerada violência obstétrica e pode causar sérios danos à mãe e ao bebê. Esta prática é expressamente desaconselhada pela OMS e pelo Ministério da Saúde.
Violência Obstétrica: Como Identificar e Evitar
A violência obstétrica é caracterizada por ações que causam dano físico ou psicológico à mulher durante a gestação, parto ou pós-parto. Embora não exista uma lei federal específica sobre o tema, diversas práticas podem ser consideradas violência obstétrica.
Exemplos de violência obstétrica:
Negar a presença do acompanhante escolhido pela mulher
Realizar procedimentos sem consentimento ou explicação
Usar termos pejorativos ou humilhantes
Impedir a mulher de se expressar ou fazer perguntas
Realizar intervenções desnecessárias por conveniência da equipe
Negar métodos de alívio da dor quando solicitados e disponíveis
Impedir o contato imediato entre mãe e bebê sem justificativa médica
Como se proteger:
Informe-se: conhecer seus direitos é o primeiro passo para evitar violações
Tenha um acompanhante: a presença de um acompanhante reduz significativamente as chances de violência obstétrica
Documente tudo: anote nomes de profissionais, horários e procedimentos realizados
Questione: pergunte sobre a necessidade de cada procedimento e suas alternativas
Denuncie: em caso de violência, procure a ouvidoria do hospital, o Ministério Público ou a Defensoria Pública
Saiba mais: Estudos mostram que a presença contínua de um acompanhante durante o trabalho de parto reduz em até 60% a chance de a mulher sofrer algum tipo de violência obstétrica. Além disso, diminui a necessidade de analgesia, o tempo de trabalho de parto e a taxa de cesarianas.
Onde Encontrar Maternidades com Práticas Humanizadas
O SUS conta com diversas unidades que oferecem práticas humanizadas de assistência ao parto. Alguns exemplos são:
Centros de Parto Normal (CPN)
São unidades que funcionam dentro ou próximas a hospitais, voltadas para o atendimento de partos de baixo risco com abordagem humanizada. Contam com enfermeiras obstétricas e estrutura que favorece o parto natural.
Casas de Parto
Semelhantes aos CPNs, mas funcionam de forma autônoma, não vinculadas a hospitais. São indicadas para gestações de baixo risco e oferecem ambiente acolhedor, semelhante a uma residência.
Maternidades com Selo da Iniciativa Hospital Amigo da Criança
Este selo, concedido pelo Ministério da Saúde e UNICEF, indica que a instituição segue os "Dez Passos para o Sucesso do Aleitamento Materno", que incluem práticas humanizadas de assistência ao parto.
Como encontrar:
Consulte a Secretaria Municipal de Saúde da sua cidade
Pergunte ao profissional que realiza seu pré-natal
Busque informações em grupos de apoio ao parto humanizado nas redes sociais
Consulte o site da Rede Cegonha, programa do Ministério da Saúde que incentiva o parto humanizado
Histórias reais: experiências de parto humanizado no SUS
Mariana, 29 anos, São Paulo: "Tive meu filho no Centro de Parto Normal do Hospital Municipal Vila Nova Cachoeirinha. Desde o início do pré-natal, manifestei meu desejo por um parto natural e humanizado.
Elaborei um plano de parto com ajuda da enfermeira obstetra que me acompanhava e visitei a maternidade antes do parto. Quando entrei em trabalho de parto, fui acolhida por uma equipe incrível.
Pude me movimentar livremente, usar a bola e o chuveiro para alívio da dor. Meu marido esteve comigo o tempo todo. Após o nascimento, meu filho foi colocado imediatamente no meu peito e só foi pesado e medido depois de uma hora. Foi uma experiência transformadora."
Juliana, 32 anos, Belo Horizonte: "Precisei fazer uma cesariana por questões médicas, mas mesmo assim tive um parto humanizado. A equipe me explicou detalhadamente os motivos da indicação cirúrgica e respeitou minhas escolhas.
Meu marido pôde entrar na sala de cirurgia, a cortina foi abaixada no momento do nascimento para que eu pudesse ver minha filha nascendo, e ela foi colocada em contato pele a pele comigo ainda na sala de cirurgia.
Isso mostra que a humanização não está no tipo de parto, mas sim no respeito às escolhas e necessidades da mulher."
Perguntas frequentes sobre parto humanizado no SUS
O parto humanizado é só para quem quer parto normal?
Não. O parto humanizado pode acontecer tanto no parto normal quanto na cesariana. O que caracteriza a humanização é o respeito à mulher, suas escolhas e sua autonomia, não o tipo de parto em si.
Mesmo em uma cesariana, é possível ter práticas humanizadas, como a presença do acompanhante, o contato pele a pele logo após o nascimento e o respeito às escolhas da mulher.
Posso ter doula pelo SUS?
Algumas maternidades do SUS já contam com programas de doulas voluntárias. Além disso, a presença da doula não substitui o acompanhante garantido por lei, ou seja, você pode ter tanto seu acompanhante de escolha quanto uma doula.
Informe-se na maternidade onde pretende ter seu bebê sobre a possibilidade de contar com uma doula voluntária ou de levar sua doula particular.
O que fazer se meus direitos não forem respeitados?
Se você sentir que seus direitos não estão sendo respeitados durante o pré-natal, parto ou pós-parto, você pode:
Conversar com a equipe de saúde, expressando suas preocupações
Solicitar falar com o responsável pelo setor ou com a direção da unidade
Procurar a ouvidoria do hospital ou da Secretaria de Saúde
Registrar denúncia no Ministério Público
Buscar apoio na Defensoria Pública
Entrar em contato com o Conselho Regional de Medicina ou de Enfermagem
Dica: Anote nomes de profissionais, datas e horários dos atendimentos. Essas informações são importantes caso seja necessário fazer uma denúncia.
Posso recusar procedimentos durante o parto?
Sim, desde que você esteja consciente e orientada, você tem o direito de consentir ou recusar qualquer procedimento. O consentimento informado é um direito fundamental da paciente.
No entanto, em situações de emergência, onde há risco de vida para você ou para o bebê, a equipe médica pode realizar procedimentos necessários para garantir a segurança de ambos.
O plano de parto tem valor legal?
O plano de parto não é um documento com valor legal específico, mas é uma ferramenta importante para comunicar suas preferências à equipe de saúde.
Ele se baseia em direitos já garantidos por lei, como o direito à informação, ao consentimento informado e à presença de acompanhante. Portanto, suas solicitações devem ser respeitadas, desde que não comprometam sua segurança ou a do bebê.
Conclusão
O parto humanizado é um direito de todas as mulheres, garantido por leis e políticas públicas no Brasil. O SUS oferece esse tipo de assistência, mas é importante que a gestante se informe, se prepare e conheça seus direitos para garantir uma experiência positiva.
Lembre-se: o protagonismo é seu. Informe-se, prepare-se e faça valer seus direitos. Um parto respeitoso e humanizado não é luxo, é direito de toda mulher e seu bebê.
Se você conhece alguma gestante, compartilhe estas informações com ela. Juntos, podemos contribuir para transformar a assistência ao parto no Brasil, tornando-a mais respeitosa, segura e centrada nas necessidades da mulher e do bebê.