Câncer de Estômago: Diagnóstico e Tratamento Completo pelo SUS
Guia completo sobre Câncer de Estômago: como identificar os sintomas, o fluxo de diagnóstico por Endoscopia e o tratamento integral (cirurgia, quimioterapia) pelo SUS.
11/7/20257 min read


Câncer de Estômago: Guia Completo de Sintomas, Diagnóstico por Endoscopia e Tratamento Integral pelo SUS
O diagnóstico de câncer é sempre um momento de grande apreensão, mas é fundamental saber que, no Brasil, o tratamento oncológico é um direito garantido e integralmente oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O Câncer de Estômago, também conhecido como Câncer Gástrico, é o quarto tipo mais frequente em homens e o sexto em mulheres no país. No entanto, os avanços no diagnóstico precoce e as modernas abordagens terapêuticas disponíveis no SUS aumentam significativamente as chances de cura e sobrevida.
Este guia detalhado tem como objetivo desmistificar o câncer de estômago, apresentando o caminho completo que o paciente percorre, desde a suspeita inicial até o tratamento e o acompanhamento pós-cura, tudo dentro da rede pública de saúde.
O que é o Câncer de Estômago e Seus Tipos
O câncer de estômago é o crescimento descontrolado de células malignas na parede do estômago. Cerca de 95% dos casos são do tipo adenocarcinoma, que se origina nas células glandulares da mucosa que reveste o órgão.
Embora o adenocarcinoma seja o mais comum, outros tipos de tumores gástricos, como linfomas e os raros Tumores Estromais Gastrointestinais (GIST), também são tratados pelo SUS. O conhecimento do tipo exato e do estadiamento da doença é crucial para definir o plano de tratamento, que é sempre individualizado e multidisciplinar.
Fatores de Risco: Entendendo a Prevenção
A identificação dos fatores de risco é o primeiro passo para a prevenção e para o diagnóstico precoce. O câncer de estômago é uma doença multifatorial, mas alguns elementos se destacam e merecem atenção especial.
O principal fator de risco é a infecção pela bactéria Helicobacter pylori (H. pylori). Sua presença crônica no estômago causa inflamação, conhecida como gastrite atrófica, que pode evoluir para lesões pré-cancerígenas. É importante ressaltar que o tratamento de erradicação do H. pylori é oferecido pelo SUS e é uma medida preventiva essencial.
Outros fatores de risco incluem o Tabagismo, que aumenta o risco de câncer de estômago, especialmente na porção superior (cárdia), próxima ao esôfago. A Dieta também desempenha um papel crucial: dietas ricas em sal, alimentos defumados, conservados em sal (como carnes salgadas e picles) e baixo consumo de frutas e vegetais estão associadas a um risco aumentado.
Pessoas com Histórico Familiar de câncer de estômago (parentes de primeiro grau) possuem um risco ligeiramente maior. Além disso, Condições Pré-Cancerígenas como gastrite atrófica, anemia perniciosa e metaplasia intestinal são consideradas lesões precursoras e exigem acompanhamento médico regular.
Sinais e Sintomas: Quando Procurar a Unidade de Saúde
Um dos maiores desafios do câncer de estômago é que, em suas fases iniciais, os sintomas são inespecíficos e podem ser facilmente confundidos com doenças benignas, como gastrite ou úlcera. Por isso, a persistência dos sintomas é o principal sinal de alerta.
Sintomas Iniciais (Inespecíficos):
Desconforto Abdominal Persistente: Dor ou queimação na parte superior do abdômen que não melhora com o tratamento convencional para gastrite.
Perda de Apetite e de Peso: Emagrecimento não intencional e rápido.
Saciedade Precoce: Sensação de estômago cheio após comer pequenas quantidades de alimento.
Fadiga e Fraqueza: Causadas pela anemia decorrente de pequenos sangramentos crônicos.
Náuseas e Vômitos.
Sinais de Alerta (Estágio Avançado):
Vômito com Sangue (Hematêmese): Ocorre em uma parcela dos casos.
Fezes Escuras (Melena): Fezes pretas, pastosas e com odor forte, indicando a presença de sangue digerido.
Massa Palpável: Presença de um caroço ou inchaço na parte superior do abdômen.
Icterícia: Coloração amarelada da pele e dos olhos, indicando que o câncer pode ter se espalhado para o fígado.
Se você tem mais de 50 anos e apresenta qualquer um desses sintomas de forma persistente, procure a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima. O médico da Atenção Primária é o ponto de entrada para o diagnóstico e o encaminhamento correto.
O Fluxo de Diagnóstico no SUS: Da UBS ao CACON
O diagnóstico do câncer de estômago é um processo que exige a confirmação por meio de exames de imagem e biópsia. O fluxo no SUS é bem estabelecido:
1. Atenção Primária (UBS)
O médico da UBS (ou da Estratégia Saúde da Família) fará a avaliação inicial dos sintomas e do histórico. Se houver forte suspeita, o paciente será encaminhado para a realização de exames mais complexos.
2. Exames de Imagem e Confirmação
O exame fundamental para o diagnóstico é a Endoscopia Digestiva Alta (EDA).
Endoscopia Digestiva Alta (EDA): O procedimento permite que o médico visualize a mucosa do estômago e, se encontrar uma lesão suspeita (como uma úlcera que não cicatriza ou um tumor), realize a biópsia (coleta de um pequeno fragmento de tecido). A biópsia é enviada para análise histopatológica, que confirmará ou descartará a presença de células cancerígenas.
O SUS garante o acesso à EDA e à biópsia em hospitais e clínicas conveniadas. Após a confirmação do diagnóstico de câncer, o paciente é encaminhado para um centro especializado.
3. Estadiamento da Doença
Após a confirmação, é necessário determinar o estadiamento, ou seja, a extensão da doença (se o tumor está restrito ao estômago ou se espalhou para outros órgãos). Isso é feito com exames de imagem de alta complexidade, como:
Tomografia Computadorizada (TC): De tórax, abdômen e pelve, para verificar a presença de metástases.
Ultrassonografia Endoscópica (USE): Permite avaliar a profundidade do tumor na parede do estômago e o envolvimento dos linfonodos próximos.
Laparoscopia Diagnóstica: Em alguns casos, é realizada uma cirurgia minimamente invasiva para inspecionar a cavidade abdominal e descartar metástases peritoneais (na membrana que reveste o abdômen).
4. Onde Tratar: CACONs e UNACONs
O tratamento oncológico no SUS é centralizado em unidades de alta complexidade:
CACONs (Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia): Hospitais de referência que oferecem todas as modalidades de tratamento (cirurgia, quimioterapia, radioterapia).
UNACONs (Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia): Oferecem a maioria dos serviços, mas podem não ter radioterapia.
O encaminhamento para um CACON ou UNACON deve seguir a Lei dos 60 Dias, que garante o início do tratamento em até 60 dias após o diagnóstico de câncer.
Opções de Tratamento Oferecidas pelo SUS
O tratamento do câncer de estômago é definido por uma equipe multidisciplinar (oncologista, cirurgião, radioterapeuta, nutricionista, psicólogo) e depende do estadiamento da doença.
1. Cirurgia (Tratamento Curativo Principal)
A cirurgia é a principal modalidade de tratamento com intenção curativa. O objetivo é remover o tumor e uma margem de segurança de tecido saudável, além dos linfonodos próximos (linfadenectomia).
Gastrectomia Subtotal: Remoção de parte do estômago. É realizada quando o tumor está localizado na porção inferior ou média do órgão.
Gastrectomia Total: Remoção completa do estômago. É necessária quando o tumor está na porção superior (cárdia) ou é muito extenso.
O SUS garante a realização dessas cirurgias em hospitais de referência, com equipes especializadas em cirurgia oncológica.
2. Quimioterapia e Radioterapia
Essas terapias podem ser usadas em diferentes momentos do tratamento:
Terapia Neoadjuvante: Quimioterapia (e, em alguns casos, radioterapia) administrada antes da cirurgia. O objetivo é reduzir o tamanho do tumor, tornando a cirurgia mais eficaz e, em alguns casos, permitindo uma cirurgia menos extensa.
Terapia Adjuvante: Quimioterapia (e/ou radioterapia) administrada após a cirurgia. O objetivo é eliminar possíveis células cancerígenas que tenham permanecido no corpo, reduzindo o risco de recidiva.
Tratamento Paliativo: Em casos de doença avançada ou metastática, a quimioterapia é usada para controlar o crescimento do tumor, aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida.
O Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para o Adenocarcinoma de Estômago, publicado pelo Ministério da Saúde, orienta o uso de medicamentos quimioterápicos modernos e terapias-alvo, todos disponíveis gratuitamente na rede pública.
3. Terapias-Alvo e Imunoterapia
O SUS tem incorporado terapias mais modernas, como a terapia-alvo e a imunoterapia, especialmente para casos avançados.
Terapia-Alvo: Medicamentos que agem em alvos moleculares específicos presentes nas células cancerígenas. Um exemplo é o uso de Trastuzumabe em tumores que expressam a proteína HER2.
Imunoterapia: Medicamentos que estimulam o próprio sistema imunológico do paciente a reconhecer e destruir as células cancerígenas.
O acesso a essas terapias é regulamentado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC), garantindo que apenas tratamentos com eficácia comprovada sejam oferecidos.
A Importância do Acompanhamento Pós-Tratamento
A fase pós-tratamento é tão importante quanto o tratamento em si. O acompanhamento é feito pela equipe multidisciplinar do CACON/UNACON e visa monitorar a recuperação, detectar precocemente qualquer sinal de recidiva e gerenciar os efeitos colaterais.
Aspectos Cruciais do Acompanhamento:
Nutrição: Pacientes submetidos à gastrectomia total ou subtotal precisam de acompanhamento nutricional rigoroso. A remoção do estômago afeta a absorção de nutrientes, exigindo suplementação, principalmente de Vitamina B12, que é garantida pelo SUS.
Exames Periódicos: Exames de sangue, endoscopias e tomografias são realizados em intervalos regulares para monitorar a saúde do paciente.
Suporte Psicológico: O diagnóstico e o tratamento do câncer têm um impacto emocional profundo. O SUS oferece suporte psicológico e social para o paciente e sua família.
Acesso e Direitos do Paciente Oncológico no SUS
O paciente com câncer de estômago tem direitos assegurados que facilitam o acesso ao tratamento.
Direitos Assegurados:
Lei dos 60 Dias: Garante o início do tratamento (cirurgia, quimioterapia ou radioterapia) em até 60 dias após a confirmação do diagnóstico.
Tratamento Integral e Gratuito: O SUS cobre 100% dos custos de diagnóstico, estadiamento, cirurgias, quimioterapia, radioterapia, medicamentos e acompanhamento.
Benefícios Sociais: O paciente pode ter direito ao Auxílio-Doença (se estiver incapacitado para o trabalho) e, em casos de incapacidade permanente, à Aposentadoria por Invalidez (benefícios do INSS).
Isenção de Imposto de Renda: Pacientes aposentados ou pensionistas com câncer (mesmo que curados) têm direito à isenção do Imposto de Renda sobre os proventos.
Saque do FGTS e PIS/PASEP: O paciente ou dependente pode sacar o saldo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e do PIS/PASEP.
O Câncer de Estômago é uma doença séria, mas o conhecimento sobre os sintomas, o acesso rápido ao diagnóstico por Endoscopia e o tratamento completo e moderno oferecido pelo SUS são as ferramentas mais poderosas para enfrentá-lo. Não hesite em procurar a UBS ao menor sinal de alerta.
Referências
Detecção Precoce - Instituto Nacional de Câncer - INCA (PDF)
Lei nº 12.732/2012 (Lei dos 60 Dias) - Presidência da República
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