Gastrite: Sintomas, Diagnóstico e Tratamento Completo pelo SUS

Guia completo sobre Gastrite e H. pylori: sintomas, como é feito o diagnóstico (Endoscopia) e o tratamento gratuito pelo SUS, incluindo a Terapia Tríplice e a retirada de medicamentos.

11/5/20257 min read

Gastrite: Sintomas, Diagnóstico e Tratamento Completo pelo SUS

A dor no estômago, a sensação de queimação e o inchaço após comer são sintomas que incomodam milhões de brasileiros. Muitas vezes, esses sinais apontam para a Gastrite, uma inflamação que atinge a parede interna do estômago.

Se você está passando por isso, saiba que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece todo o suporte necessário para o diagnóstico, tratamento e acompanhamento da Gastrite, desde a consulta inicial até a distribuição dos medicamentos.

Este guia completo foi feito para você entender o que é a Gastrite, como ela é diagnosticada e, o mais importante, qual é o caminho para conseguir o tratamento gratuito pelo SUS.

O que é Gastrite e por que ela acontece?

A Gastrite é, em termos simples, uma inflamação do revestimento do estômago, chamado de mucosa gástrica. Ela pode ser classificada de duas formas principais:

  • Gastrite Aguda: Surge de repente e dura pouco tempo. Geralmente é causada por um fator específico, como o uso excessivo de anti-inflamatórios ou álcool.

  • Gastrite Crônica: Se instala aos poucos e leva mais tempo para ser controlada. É o tipo mais comum e, na maioria das vezes, está ligada à presença de uma bactéria.

A Principal Causa: A Bactéria H. pylori

A grande vilã por trás da Gastrite Crônica é a bactéria Helicobacter pylori (H. pylori). Estima-se que ela esteja presente no estômago de metade da população mundial.

A H. pylori é uma bactéria resistente que consegue viver no ambiente ácido do estômago. Com o tempo, ela causa uma inflamação que pode levar à Gastrite, úlceras e, em casos raros, até mesmo ao câncer de estômago.

Outras causas comuns que você deve evitar incluem:

  • Uso constante de medicamentos como aspirina e anti-inflamatórios.

  • Consumo excessivo de álcool e cigarro.

  • Estresse crônico e alimentação desregrada.

Os Sinais de Alerta: Como a Gastrite se Manifesta

Os sintomas da Gastrite podem variar de pessoa para pessoa, mas os mais comuns são:

  • Dor e Queimação: Uma dor intensa na "boca do estômago" (região superior do abdômen), que muitas vezes é descrita como uma queimação ou azia. Essa dor pode piorar após as refeições ou durante a noite.

  • Sensação de Estufamento: Sentir-se cheio ou inchado logo após começar a comer ou mesmo em jejum. Essa sensação de peso no estômago é um dos sinais mais característicos da inflamação.

  • Náuseas e Vômitos: Enjoos frequentes, que podem ou não ser acompanhados de vômito. Em alguns casos, o vômito pode trazer alívio temporário, mas não resolve o problema.

  • Perda de Apetite: A dor e o desconforto fazem com que a pessoa perca a vontade de se alimentar, o que pode levar à perda de peso.

Atenção: Se você notar sangue nas fezes (que podem ficar escuras, como borra de café) ou no vômito, procure imediatamente uma UPA ou Pronto-Socorro. Estes são sinais de alerta de sangramento digestivo, uma complicação grave da Gastrite ou de uma úlcera.

O Caminho do Diagnóstico pelo SUS: Passo a Passo

O diagnóstico da Gastrite e da presença da H. pylori começa na Atenção Primária, ou seja, na sua Unidade Básica de Saúde (UBS). É lá que o seu tratamento deve começar.

1. Consulta na UBS: A Porta de Entrada

O primeiro passo é agendar uma consulta com o Clínico Geral ou o Médico de Família da sua UBS. Ele fará uma análise detalhada dos seus sintomas e do seu histórico de saúde.

É fundamental ser o mais claro possível sobre:

  • A frequência e a intensidade da dor.

  • Quais alimentos ou situações pioram os sintomas.

  • Se você faz uso regular de algum medicamento (como anti-inflamatórios).

  • Se há histórico de problemas estomacais na família.

Se o médico suspeitar de Gastrite, ele pode iniciar um tratamento inicial com medicamentos para alívio dos sintomas e, se necessário, solicitar exames mais específicos. Em muitos casos, o tratamento empírico (baseado apenas nos sintomas) já traz alívio.

2. O Exame Essencial: Endoscopia Digestiva Alta (EDA)

A Endoscopia é o exame mais importante para confirmar a Gastrite, avaliar a gravidade da inflamação e, principalmente, verificar a presença da bactéria H. pylori.

  • Como funciona: Um tubo fino e flexível com uma câmera na ponta é inserido pela boca, permitindo ao médico visualizar o esôfago, o estômago e o duodeno. O exame é rápido e feito sob sedação leve, para que você não sinta desconforto.

  • Acesso pelo SUS: O médico da UBS fará o encaminhamento para a Endoscopia através do sistema de regulação (SISREG). O exame é realizado em hospitais ou clínicas conveniadas ao SUS. O tempo de espera pode variar, mas é um procedimento coberto integralmente.

Durante a Endoscopia, o médico pode realizar uma biópsia, que é a retirada de um pequeno pedaço da mucosa para análise em laboratório. É essa biópsia que confirma a presença da H. pylori e o tipo de Gastrite. A biópsia é crucial, pois ela também descarta outras doenças mais graves, como o câncer de estômago.

3. Outros Exames para H. pylori

Além da biópsia durante a Endoscopia, o SUS também pode utilizar outros métodos para confirmar a presença da H. pylori, especialmente após o tratamento, para saber se a bactéria foi eliminada:

  • Teste Respiratório da Ureia: Um exame simples onde o paciente ingere uma substância e depois sopra em um balão. É muito usado para verificar a cura após o tratamento.

  • Pesquisa de Antígenos nas Fezes: Um exame de fezes que busca a presença da bactéria.

O Tratamento Completo e Gratuito pelo SUS

O tratamento da Gastrite é sempre focado em eliminar a causa e aliviar os sintomas.

1. Tratamento para H. pylori (Terapia Tríplice)

Se a biópsia confirmar a presença da H. pylori, o tratamento é a terapia de erradicação, que é um protocolo padrão no SUS. O objetivo é eliminar a bactéria para que a inflamação do estômago possa cicatrizar.

O tratamento de primeira linha é feito com a combinação de três medicamentos, que você consegue gratuitamente nas farmácias das UBS ou pelo programa Farmácia Popular:

  • Um Inibidor da Bomba de Prótons (IBP): Como o Omeprazol ou Pantoprazol, que reduzem a produção de ácido no estômago. Eles são essenciais para que os antibióticos funcionem melhor e para que a mucosa gástrica se recupere.

  • Dois Antibióticos: Geralmente Amoxicilina e Claritromicina, que agem diretamente na eliminação da bactéria.

É fundamental seguir o tratamento à risca, pelo tempo determinado pelo médico (geralmente 7 a 14 dias), para garantir que a bactéria seja totalmente eliminada. Interromper o tratamento antes do tempo pode fazer com que a bactéria se torne resistente, dificultando a cura.

2. Tratamento para Gastrite Não-Infecciosa

Nos casos em que a Gastrite não é causada pela H. pylori (por exemplo, por estresse, uso de medicamentos ou má alimentação), o tratamento foca em:

  • Medicamentos para Reduzir o Ácido: Os mesmos IBPs (Omeprazol, Pantoprazol) são usados para proteger a mucosa gástrica e permitir sua recuperação. O médico irá prescrever a dose e o tempo de uso adequados.

  • Antiácidos: Como o Hidróxido de Alumínio, que oferecem alívio rápido para a azia e a queimação. Eles agem neutralizando o ácido já produzido.

  • Mudança de Hábitos: O médico da UBS dará orientações cruciais sobre dieta e estilo de vida. Sem essas mudanças, a Gastrite pode voltar.

3. Acesso aos Medicamentos no SUS: Onde Retirar

Uma das maiores vantagens do SUS é a garantia de acesso aos medicamentos. Todos os essenciais para o tratamento da Gastrite e erradicação da H. pylori estão na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) e são distribuídos gratuitamente:

  • Omeprazol e Pantoprazol: Disponíveis nas farmácias das UBS e também pelo programa Farmácia Popular.

  • Antibióticos (Amoxicilina, Claritromicina): Disponíveis nas farmácias das UBS mediante receita médica.

  • Antiácidos: Disponíveis nas farmácias das UBS.

Para retirar, basta apresentar a receita médica (válida por 6 meses para medicamentos de uso contínuo) e um documento de identificação.

O Papel da Dieta e do Estilo de Vida no Controle da Gastrite

O tratamento medicamentoso só funciona se for acompanhado de mudanças no seu dia a dia. O SUS, através dos nutricionistas e médicos da Atenção Básica, oferece orientações sobre o que comer e o que evitar.

O que evitar para proteger seu estômago:

  • Bebidas Alcoólicas e Refrigerantes: O álcool e o gás irritam a mucosa gástrica, piorando a inflamação.

  • Alimentos Gordurosos e Frituras: A digestão da gordura é mais lenta e exige mais ácido do estômago, aumentando a dor.

  • Pimenta e Condimentos Fortes: Podem irritar diretamente a parede do estômago.

  • Café em Excesso: A cafeína estimula a produção de ácido. Tente reduzir ou optar por descafeinado.

  • Fumar: O cigarro prejudica a proteção natural do estômago e deve ser evitado a todo custo.

  • Anti-inflamatórios (AAS, Ibuprofeno): Use apenas sob estrita orientação médica, pois são grandes causadores de Gastrite.

O que priorizar na sua alimentação:

  • Pequenas Refeições: Fazer pequenas refeições ao longo do dia, sem ficar longos períodos em jejum. O estômago vazio produz ácido que não tem o que digerir, atacando a própria parede.

  • Mastigação: Mastigar bem os alimentos, pois a digestão começa na boca.

  • Alimentos Leves: Consumir frutas menos ácidas (como banana e mamão), verduras e carnes magras (frango e peixe grelhados).

  • Água: Beber bastante água, mas evitar líquidos durante as refeições.

Acompanhamento e Prevenção de Recorrência

Após o tratamento, especialmente para a H. pylori, o médico do SUS irá solicitar um novo exame (geralmente o Teste Respiratório da Ureia) para confirmar que a bactéria foi erradicada.

O acompanhamento é fundamental para garantir que a inflamação desapareceu e que a Gastrite não voltará. Se os sintomas persistirem, o médico pode encaminhar você para um especialista (Gastroenterologista) na Atenção Secundária do SUS.

Lembre-se: a Gastrite é uma condição que tem tratamento e cura, especialmente quando a causa é a H. pylori. O SUS está preparado para te ajudar em todas as etapas, desde o diagnóstico até a distribuição dos medicamentos. Não ignore os sintomas. Procure a sua UBS e comece o seu tratamento.

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Referências e Fontes Oficiais