Como Tratar Refluxo em Bebês Gratuitamente pelo SUS: Guia Completo
Descubra como identificar o refluxo em bebês, quais tratamentos estão disponíveis pelo SUS e o passo a passo para conseguir atendimento gratuito para seu filho.


Refluxo Gastroesofágico em Bebês: Tratamento pelo SUS
O refluxo gastroesofágico é uma condição extremamente comum em bebês, afetando quase metade das crianças nos primeiros meses de vida. Caracterizado pelo retorno do conteúdo do estômago para o esôfago e, muitas vezes, até a boca, o refluxo causa as famosas "golfadas" que tanto preocupam os pais.
Embora na maioria dos casos seja uma condição fisiológica e temporária, que melhora espontaneamente com o crescimento da criança, em algumas situações o refluxo pode evoluir para a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE), exigindo acompanhamento médico e tratamento adequado.
Neste artigo, você vai descobrir como identificar o refluxo em bebês, quando se preocupar, quais tratamentos estão disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e o passo a passo para acessar o atendimento gratuito para seu filho. Também compartilharemos orientações práticas para aliviar os sintomas em casa e melhorar a qualidade de vida do seu bebê.
O que é Refluxo Gastroesofágico em Bebês?
O refluxo gastroesofágico (RGE) é caracterizado pelo retorno do conteúdo do estômago para o esôfago e, em alguns casos, até a boca ou nariz do bebê. Isso acontece porque o esfíncter esofágico inferior, uma espécie de válvula que separa o esôfago do estômago, ainda não está completamente desenvolvido nos primeiros meses de vida.
Na junção entre o esôfago e o estômago, existe um anel muscular que funciona como uma pequena válvula. Quando o alimento chega nessa região, a válvula se abre para permitir a passagem e depois se fecha, impedindo o retorno. Nos bebês, essa válvula ainda não funciona perfeitamente, permitindo que parte do conteúdo estomacal volte para o esôfago.
É importante diferenciar dois conceitos:
Refluxo Gastroesofágico (RGE): É um evento fisiológico (normal) que ocorre em bebês saudáveis, caracterizado por regurgitações ocasionais sem causar problemas de saúde ou desconforto significativo.
Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE): Ocorre quando o refluxo causa sintomas incômodos ou complicações, como irritabilidade excessiva, dificuldade para se alimentar, baixo ganho de peso ou problemas respiratórios.
Prevalência do Refluxo em Bebês
O refluxo é extremamente comum na primeira infância:
Cerca de 50% dos bebês apresentam episódios de regurgitação nos primeiros meses de vida
A condição atinge seu pico aos 4 meses de idade
Em 90% dos casos, resolve-se espontaneamente até os 12 meses
Apenas 5% dos bebês continuam com sintomas após 1 ano de idade
Sintomas do Refluxo em Bebês
Os sintomas do refluxo gastroesofágico em bebês podem variar de leves a graves. Os mais comuns incluem:
Sintomas Típicos
Regurgitação frequente: Retorno do leite após as mamadas
Vômitos: Mais intensos que as regurgitações normais
Irritabilidade durante ou após as mamadas: O bebê pode chorar, arquear as costas ou afastar-se do peito/mamadeira
Engasgos ou sufocação: Especialmente durante a alimentação
Dificuldade para ganhar peso: Devido à perda de nutrientes nas regurgitações
Sintomas Atípicos
Problemas respiratórios: Tosse crônica, chiado no peito, pneumonias recorrentes
Distúrbios do sono: Dificuldade para dormir, despertares frequentes
Postura anormal: Hiperextensão do pescoço (Síndrome de Sandifer)
Recusa alimentar: O bebê associa a alimentação à dor
Soluços frequentes
Sinais de Alerta
Alguns sintomas exigem avaliação médica imediata:
Vômitos com sangue ou de coloração esverdeada
Dificuldade respiratória significativa
Recusa alimentar persistente
Perda de peso ou estagnação do crescimento
Irritabilidade extrema que não melhora com medidas simples
Febre associada aos sintomas de refluxo
Diagnóstico do Refluxo pelo SUS
O diagnóstico do refluxo gastroesofágico em bebês é principalmente clínico, baseado nos sintomas relatados pelos pais e na observação do pediatra. No SUS, o processo diagnóstico segue estas etapas:
Consulta na Unidade Básica de Saúde (UBS)
O primeiro passo é procurar a UBS mais próxima da sua residência. Lá, o pediatra ou médico da família fará:
Anamnese detalhada (histórico dos sintomas)
Exame físico completo
Avaliação do crescimento e desenvolvimento do bebê
Orientações iniciais para manejo dos sintomas
Na maioria dos casos de refluxo fisiológico (normal), apenas essa avaliação inicial já é suficiente para o diagnóstico e orientações de tratamento.
Encaminhamento para Especialista
Se os sintomas forem mais graves ou persistentes, o médico da UBS poderá encaminhar o bebê para um gastroenterologista pediátrico. Este encaminhamento é feito através do sistema de regulação do SUS.
Exames Complementares
Em casos específicos, o especialista pode solicitar exames complementares, todos disponíveis pelo SUS:
Ultrassonografia abdominal: Para avaliar a anatomia do estômago e verificar possíveis obstruções
Endoscopia digestiva alta: Realizada em casos selecionados para avaliar lesões no esôfago
pHmetria esofágica: Mede o pH do esôfago durante 24 horas, identificando episódios de refluxo ácido
Impedanciometria: Detecta refluxos não ácidos, complementando a pHmetria
Cintilografia: Avalia o esvaziamento gástrico e detecta aspiração pulmonar
É importante ressaltar que esses exames são reservados para casos específicos e não são necessários para a maioria dos bebês com refluxo.
Tratamento do Refluxo pelo SUS
O tratamento do refluxo gastroesofágico em bebês pelo SUS segue uma abordagem escalonada, começando com medidas conservadoras e avançando para medicamentos apenas quando necessário.
Medidas Conservadoras
Para a maioria dos bebês com refluxo fisiológico, as seguintes medidas são recomendadas:
Posicionamento adequado: Manter o bebê em posição vertical por 20-30 minutos após as mamadas
Elevação da cabeceira do berço: Elevar em 30° usando um travesseiro sob o colchão (nunca sob a cabeça do bebê)
Ajustes na alimentação: Oferecer volumes menores com maior frequência
Técnica de amamentação: Garantir pega correta no seio materno
Espessamento do leite: Em alguns casos, pode ser recomendado o uso de espessantes como amido de milho ou arroz
Essas orientações são fornecidas nas consultas de puericultura nas UBS e não têm custo adicional para as famílias.
Tratamento Medicamentoso
Quando as medidas conservadoras não são suficientes e o bebê apresenta sintomas significativos de DRGE, o médico pode prescrever medicamentos, que são fornecidos gratuitamente pelo SUS:
Antiácidos: Como hidróxido de alumínio, para uso pontual
Procinéticos: Como a domperidona, que melhora o esvaziamento gástrico
Inibidores da bomba de prótons (IBP): Como omeprazol, para casos mais graves com evidência de esofagite
Bloqueadores H2: Como ranitidina, alternativa aos IBPs
É importante ressaltar que esses medicamentos só devem ser utilizados sob prescrição médica e pelo tempo estritamente necessário.
Fórmulas Especiais
Em casos específicos, o médico pode recomendar fórmulas infantis especiais:
Fórmulas anti-regurgitação (AR): Contêm espessantes que reduzem os episódios de regurgitação
Fórmulas extensamente hidrolisadas: Para bebês com alergia à proteína do leite de vaca associada ao refluxo
Estas fórmulas podem ser fornecidas pelo SUS mediante laudo médico detalhado, através do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (CEAF).
Como Acessar o Tratamento pelo SUS: Passo a Passo
Se você suspeita que seu bebê está sofrendo com refluxo, siga estes passos para acessar o tratamento pelo SUS:
1. Agende uma Consulta na UBS
Procure a Unidade Básica de Saúde mais próxima da sua residência e agende uma consulta com o pediatra ou médico da família. Leve:
Cartão do SUS do bebê
Certidão de nascimento
Caderneta de saúde da criança
Comprovante de residência
2. Consulta Inicial
Durante a consulta:
Descreva detalhadamente os sintomas do bebê
Informe sobre a frequência e intensidade das regurgitações
Mencione qualquer outro sintoma associado (irritabilidade, problemas para dormir, etc.)
Leve um diário alimentar, se possível, registrando horários das mamadas e episódios de refluxo
3. Seguindo as Orientações Iniciais
O médico provavelmente recomendará medidas conservadoras inicialmente. Siga essas orientações por pelo menos duas semanas para avaliar a resposta.
4. Retorno e Reavaliação
Retorne à UBS conforme orientação médica para reavaliar os sintomas. Se não houver melhora:
O médico pode ajustar as orientações
Prescrever medicamentos, se necessário
Encaminhar para especialista (gastroenterologista pediátrico)
5. Encaminhamento para Especialista
Se for necessário encaminhamento para especialista:
O médico da UBS fará o encaminhamento via sistema de regulação
Você receberá uma guia de referência
Aguarde o contato da central de regulação com a data da consulta especializada
O tempo de espera para consulta com especialista varia conforme a região e a disponibilidade de profissionais, mas casos mais graves recebem prioridade.
6. Acesso aos Medicamentos
Se forem prescritos medicamentos:
Medicamentos básicos: Retirada na farmácia da própria UBS
Medicamentos especializados: Retirada nas Farmácias de Medicamentos Especializados, mediante cadastro prévio
Para medicamentos especializados ou fórmulas especiais, você precisará de:
Receita médica original e cópia
Laudo para Solicitação de Medicamentos (LME) preenchido pelo médico
Documentos pessoais do responsável e da criança
Comprovante de residência
Cartão do SUS
Orientações Práticas para Pais
Além do tratamento médico, algumas medidas práticas podem ajudar a aliviar os sintomas do refluxo em casa:
Posicionamento
Durante o dia: Mantenha o bebê em posição vertical por 20-30 minutos após as mamadas
Para dormir: Eleve a cabeceira do berço em 30° (coloque um travesseiro ou toalhas dobradas sob o colchão, nunca sob a cabeça do bebê)
Evite: Cadeirinhas tipo bebê-conforto após as mamadas, pois a posição sentada pode aumentar a pressão abdominal
Alimentação
Amamentação: Mantenha o aleitamento materno, garantindo pega correta
Volume: Ofereça quantidades menores com maior frequência
Arrotar: Ajude o bebê a arrotar durante e após as mamadas
Evite: Manipular excessivamente o bebê logo após a alimentação
Para Mães que Amamentam
Dieta materna: Observe se algum alimento específico piora os sintomas do bebê
Alimentos que podem agravar: Café, chocolate, alimentos ácidos, condimentados ou gordurosos
Hidratação: Mantenha-se bem hidratada
Roupas
Use roupas folgadas no bebê, evitando pressão na região abdominal
Evite fraldas muito apertadas
Quando se Preocupar e Buscar Atendimento de Urgência
Embora o refluxo seja geralmente benigno, alguns sinais indicam necessidade de atendimento médico imediato:
Vômitos com sangue (mesmo que em pequena quantidade)
Vômitos em jato (saindo com força)
Vômitos esverdeados
Dificuldade respiratória ou cianose (coloração azulada)
Febre associada aos vômitos
Letargia (bebê muito molinho ou desinteressado)
Desidratação: Fontanela afundada, olhos fundos, poucas fraldas molhadas
Recusa alimentar persistente
Nestes casos, procure imediatamente uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) ou o pronto-socorro pediátrico mais próximo.
Direitos dos Pacientes com Refluxo no SUS
Famílias de bebês com refluxo gastroesofágico têm direitos garantidos no SUS:
Atendimento integral: Consultas, exames e tratamentos necessários
Medicamentos gratuitos: Conforme prescrição médica
Fórmulas especiais: Mediante laudo médico, para casos específicos
Acompanhamento multidisciplinar: Acesso a especialistas quando necessário
Segunda opinião médica: Direito de buscar avaliação de outro profissional
Perguntas Frequentes
O refluxo pode causar problemas respiratórios?
Sim, em alguns casos o conteúdo ácido do estômago pode atingir as vias aéreas, causando tosse crônica, chiado no peito, pneumonias de repetição ou crises de bronquite. Esses são chamados sintomas extraesofágicos do refluxo.
Quando o refluxo deixa de ser normal e passa a ser doença?
O refluxo é considerado doença (DRGE) quando causa sintomas que afetam a qualidade de vida do bebê, como irritabilidade excessiva, dificuldade para se alimentar, baixo ganho de peso ou problemas respiratórios recorrentes.
Devo parar de amamentar se meu bebê tem refluxo?
Não. O aleitamento materno deve ser mantido, pois o leite materno é mais facilmente digerido e contém enzimas que auxiliam na digestão. Além disso, bebês amamentados tendem a apresentar episódios de refluxo menos intensos que bebês alimentados com fórmula.
Posso usar travesseiro para elevar a cabeça do meu bebê?
Não. Nunca coloque travesseiros, almofadas ou outros objetos sob a cabeça do bebê, pois isso aumenta o risco de sufocamento. A elevação deve ser feita colocando um travesseiro ou toalhas dobradas sob o colchão, elevando toda a cabeceira do berço.
Por quanto tempo meu filho precisará de tratamento?
Na maioria dos casos, o refluxo melhora espontaneamente até os 12 meses de idade, quando a criança começa a passar mais tempo na posição vertical e o esfíncter esofágico amadurece. O tratamento medicamentoso, quando necessário, geralmente é temporário.
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Referências
Ministério da Saúde. Caderneta de Saúde da Criança. 2023.
Sociedade Brasileira de Pediatria. Documento Científico: Refluxo Gastroesofágico em Pediatria. 2022.
Sociedade Brasileira de Gastroenterologia Pediátrica. Diretrizes para Manejo do Refluxo Gastroesofágico em Lactentes. 2023.
DATASUS. Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas. 2023.