Como Tratar Refluxo em Bebês Gratuitamente pelo SUS: Guia Completo

Descubra como identificar o refluxo em bebês, quais tratamentos estão disponíveis pelo SUS e o passo a passo para conseguir atendimento gratuito para seu filho.

6/16/20258 min read

Refluxo Gastroesofágico em Bebês: Tratamento pelo SUS

O refluxo gastroesofágico é uma condição extremamente comum em bebês, afetando quase metade das crianças nos primeiros meses de vida. Caracterizado pelo retorno do conteúdo do estômago para o esôfago e, muitas vezes, até a boca, o refluxo causa as famosas "golfadas" que tanto preocupam os pais.

Embora na maioria dos casos seja uma condição fisiológica e temporária, que melhora espontaneamente com o crescimento da criança, em algumas situações o refluxo pode evoluir para a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE), exigindo acompanhamento médico e tratamento adequado.

Neste artigo, você vai descobrir como identificar o refluxo em bebês, quando se preocupar, quais tratamentos estão disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e o passo a passo para acessar o atendimento gratuito para seu filho. Também compartilharemos orientações práticas para aliviar os sintomas em casa e melhorar a qualidade de vida do seu bebê.

O que é Refluxo Gastroesofágico em Bebês?

O refluxo gastroesofágico (RGE) é caracterizado pelo retorno do conteúdo do estômago para o esôfago e, em alguns casos, até a boca ou nariz do bebê. Isso acontece porque o esfíncter esofágico inferior, uma espécie de válvula que separa o esôfago do estômago, ainda não está completamente desenvolvido nos primeiros meses de vida.

Na junção entre o esôfago e o estômago, existe um anel muscular que funciona como uma pequena válvula. Quando o alimento chega nessa região, a válvula se abre para permitir a passagem e depois se fecha, impedindo o retorno. Nos bebês, essa válvula ainda não funciona perfeitamente, permitindo que parte do conteúdo estomacal volte para o esôfago.

É importante diferenciar dois conceitos:

  • Refluxo Gastroesofágico (RGE): É um evento fisiológico (normal) que ocorre em bebês saudáveis, caracterizado por regurgitações ocasionais sem causar problemas de saúde ou desconforto significativo.

  • Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE): Ocorre quando o refluxo causa sintomas incômodos ou complicações, como irritabilidade excessiva, dificuldade para se alimentar, baixo ganho de peso ou problemas respiratórios.

Prevalência do Refluxo em Bebês

O refluxo é extremamente comum na primeira infância:

  • Cerca de 50% dos bebês apresentam episódios de regurgitação nos primeiros meses de vida

  • A condição atinge seu pico aos 4 meses de idade

  • Em 90% dos casos, resolve-se espontaneamente até os 12 meses

  • Apenas 5% dos bebês continuam com sintomas após 1 ano de idade

Sintomas do Refluxo em Bebês

Os sintomas do refluxo gastroesofágico em bebês podem variar de leves a graves. Os mais comuns incluem:

Sintomas Típicos

  • Regurgitação frequente: Retorno do leite após as mamadas

  • Vômitos: Mais intensos que as regurgitações normais

  • Irritabilidade durante ou após as mamadas: O bebê pode chorar, arquear as costas ou afastar-se do peito/mamadeira

  • Engasgos ou sufocação: Especialmente durante a alimentação

  • Dificuldade para ganhar peso: Devido à perda de nutrientes nas regurgitações

Sintomas Atípicos

  • Problemas respiratórios: Tosse crônica, chiado no peito, pneumonias recorrentes

  • Distúrbios do sono: Dificuldade para dormir, despertares frequentes

  • Postura anormal: Hiperextensão do pescoço (Síndrome de Sandifer)

  • Recusa alimentar: O bebê associa a alimentação à dor

  • Soluços frequentes

Sinais de Alerta

Alguns sintomas exigem avaliação médica imediata:

  • Vômitos com sangue ou de coloração esverdeada

  • Dificuldade respiratória significativa

  • Recusa alimentar persistente

  • Perda de peso ou estagnação do crescimento

  • Irritabilidade extrema que não melhora com medidas simples

  • Febre associada aos sintomas de refluxo

Diagnóstico do Refluxo pelo SUS

O diagnóstico do refluxo gastroesofágico em bebês é principalmente clínico, baseado nos sintomas relatados pelos pais e na observação do pediatra. No SUS, o processo diagnóstico segue estas etapas:

Consulta na Unidade Básica de Saúde (UBS)

O primeiro passo é procurar a UBS mais próxima da sua residência. Lá, o pediatra ou médico da família fará:

  • Anamnese detalhada (histórico dos sintomas)

  • Exame físico completo

  • Avaliação do crescimento e desenvolvimento do bebê

  • Orientações iniciais para manejo dos sintomas

Na maioria dos casos de refluxo fisiológico (normal), apenas essa avaliação inicial já é suficiente para o diagnóstico e orientações de tratamento.

Encaminhamento para Especialista

Se os sintomas forem mais graves ou persistentes, o médico da UBS poderá encaminhar o bebê para um gastroenterologista pediátrico. Este encaminhamento é feito através do sistema de regulação do SUS.

Exames Complementares

Em casos específicos, o especialista pode solicitar exames complementares, todos disponíveis pelo SUS:

  • Ultrassonografia abdominal: Para avaliar a anatomia do estômago e verificar possíveis obstruções

  • Endoscopia digestiva alta: Realizada em casos selecionados para avaliar lesões no esôfago

  • pHmetria esofágica: Mede o pH do esôfago durante 24 horas, identificando episódios de refluxo ácido

  • Impedanciometria: Detecta refluxos não ácidos, complementando a pHmetria

  • Cintilografia: Avalia o esvaziamento gástrico e detecta aspiração pulmonar

É importante ressaltar que esses exames são reservados para casos específicos e não são necessários para a maioria dos bebês com refluxo.

Tratamento do Refluxo pelo SUS

O tratamento do refluxo gastroesofágico em bebês pelo SUS segue uma abordagem escalonada, começando com medidas conservadoras e avançando para medicamentos apenas quando necessário.

Medidas Conservadoras

Para a maioria dos bebês com refluxo fisiológico, as seguintes medidas são recomendadas:

  • Posicionamento adequado: Manter o bebê em posição vertical por 20-30 minutos após as mamadas

  • Elevação da cabeceira do berço: Elevar em 30° usando um travesseiro sob o colchão (nunca sob a cabeça do bebê)

  • Ajustes na alimentação: Oferecer volumes menores com maior frequência

  • Técnica de amamentação: Garantir pega correta no seio materno

  • Espessamento do leite: Em alguns casos, pode ser recomendado o uso de espessantes como amido de milho ou arroz

Essas orientações são fornecidas nas consultas de puericultura nas UBS e não têm custo adicional para as famílias.

Tratamento Medicamentoso

Quando as medidas conservadoras não são suficientes e o bebê apresenta sintomas significativos de DRGE, o médico pode prescrever medicamentos, que são fornecidos gratuitamente pelo SUS:

  • Antiácidos: Como hidróxido de alumínio, para uso pontual

  • Procinéticos: Como a domperidona, que melhora o esvaziamento gástrico

  • Inibidores da bomba de prótons (IBP): Como omeprazol, para casos mais graves com evidência de esofagite

  • Bloqueadores H2: Como ranitidina, alternativa aos IBPs

É importante ressaltar que esses medicamentos só devem ser utilizados sob prescrição médica e pelo tempo estritamente necessário.

Fórmulas Especiais

Em casos específicos, o médico pode recomendar fórmulas infantis especiais:

  • Fórmulas anti-regurgitação (AR): Contêm espessantes que reduzem os episódios de regurgitação

  • Fórmulas extensamente hidrolisadas: Para bebês com alergia à proteína do leite de vaca associada ao refluxo

Estas fórmulas podem ser fornecidas pelo SUS mediante laudo médico detalhado, através do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (CEAF).

Como Acessar o Tratamento pelo SUS: Passo a Passo

Se você suspeita que seu bebê está sofrendo com refluxo, siga estes passos para acessar o tratamento pelo SUS:

1. Agende uma Consulta na UBS

Procure a Unidade Básica de Saúde mais próxima da sua residência e agende uma consulta com o pediatra ou médico da família. Leve:

  • Cartão do SUS do bebê

  • Certidão de nascimento

  • Caderneta de saúde da criança

  • Comprovante de residência

2. Consulta Inicial

Durante a consulta:

  • Descreva detalhadamente os sintomas do bebê

  • Informe sobre a frequência e intensidade das regurgitações

  • Mencione qualquer outro sintoma associado (irritabilidade, problemas para dormir, etc.)

  • Leve um diário alimentar, se possível, registrando horários das mamadas e episódios de refluxo

3. Seguindo as Orientações Iniciais

O médico provavelmente recomendará medidas conservadoras inicialmente. Siga essas orientações por pelo menos duas semanas para avaliar a resposta.

4. Retorno e Reavaliação

Retorne à UBS conforme orientação médica para reavaliar os sintomas. Se não houver melhora:

  • O médico pode ajustar as orientações

  • Prescrever medicamentos, se necessário

  • Encaminhar para especialista (gastroenterologista pediátrico)

5. Encaminhamento para Especialista

Se for necessário encaminhamento para especialista:

  • O médico da UBS fará o encaminhamento via sistema de regulação

  • Você receberá uma guia de referência

  • Aguarde o contato da central de regulação com a data da consulta especializada

O tempo de espera para consulta com especialista varia conforme a região e a disponibilidade de profissionais, mas casos mais graves recebem prioridade.

6. Acesso aos Medicamentos

Se forem prescritos medicamentos:

  • Medicamentos básicos: Retirada na farmácia da própria UBS

  • Medicamentos especializados: Retirada nas Farmácias de Medicamentos Especializados, mediante cadastro prévio

Para medicamentos especializados ou fórmulas especiais, você precisará de:

  • Receita médica original e cópia

  • Laudo para Solicitação de Medicamentos (LME) preenchido pelo médico

  • Documentos pessoais do responsável e da criança

  • Comprovante de residência

  • Cartão do SUS

Orientações Práticas para Pais

Além do tratamento médico, algumas medidas práticas podem ajudar a aliviar os sintomas do refluxo em casa:

Posicionamento

  • Durante o dia: Mantenha o bebê em posição vertical por 20-30 minutos após as mamadas

  • Para dormir: Eleve a cabeceira do berço em 30° (coloque um travesseiro ou toalhas dobradas sob o colchão, nunca sob a cabeça do bebê)

  • Evite: Cadeirinhas tipo bebê-conforto após as mamadas, pois a posição sentada pode aumentar a pressão abdominal

Alimentação

  • Amamentação: Mantenha o aleitamento materno, garantindo pega correta

  • Volume: Ofereça quantidades menores com maior frequência

  • Arrotar: Ajude o bebê a arrotar durante e após as mamadas

  • Evite: Manipular excessivamente o bebê logo após a alimentação

Para Mães que Amamentam

  • Dieta materna: Observe se algum alimento específico piora os sintomas do bebê

  • Alimentos que podem agravar: Café, chocolate, alimentos ácidos, condimentados ou gordurosos

  • Hidratação: Mantenha-se bem hidratada

Roupas

  • Use roupas folgadas no bebê, evitando pressão na região abdominal

  • Evite fraldas muito apertadas

Quando se Preocupar e Buscar Atendimento de Urgência

Embora o refluxo seja geralmente benigno, alguns sinais indicam necessidade de atendimento médico imediato:

  • Vômitos com sangue (mesmo que em pequena quantidade)

  • Vômitos em jato (saindo com força)

  • Vômitos esverdeados

  • Dificuldade respiratória ou cianose (coloração azulada)

  • Febre associada aos vômitos

  • Letargia (bebê muito molinho ou desinteressado)

  • Desidratação: Fontanela afundada, olhos fundos, poucas fraldas molhadas

  • Recusa alimentar persistente

Nestes casos, procure imediatamente uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) ou o pronto-socorro pediátrico mais próximo.

Direitos dos Pacientes com Refluxo no SUS

Famílias de bebês com refluxo gastroesofágico têm direitos garantidos no SUS:

  • Atendimento integral: Consultas, exames e tratamentos necessários

  • Medicamentos gratuitos: Conforme prescrição médica

  • Fórmulas especiais: Mediante laudo médico, para casos específicos

  • Acompanhamento multidisciplinar: Acesso a especialistas quando necessário

  • Segunda opinião médica: Direito de buscar avaliação de outro profissional

Perguntas Frequentes

O refluxo pode causar problemas respiratórios?

Sim, em alguns casos o conteúdo ácido do estômago pode atingir as vias aéreas, causando tosse crônica, chiado no peito, pneumonias de repetição ou crises de bronquite. Esses são chamados sintomas extraesofágicos do refluxo.

Quando o refluxo deixa de ser normal e passa a ser doença?

O refluxo é considerado doença (DRGE) quando causa sintomas que afetam a qualidade de vida do bebê, como irritabilidade excessiva, dificuldade para se alimentar, baixo ganho de peso ou problemas respiratórios recorrentes.

Devo parar de amamentar se meu bebê tem refluxo?

Não. O aleitamento materno deve ser mantido, pois o leite materno é mais facilmente digerido e contém enzimas que auxiliam na digestão. Além disso, bebês amamentados tendem a apresentar episódios de refluxo menos intensos que bebês alimentados com fórmula.

Posso usar travesseiro para elevar a cabeça do meu bebê?

Não. Nunca coloque travesseiros, almofadas ou outros objetos sob a cabeça do bebê, pois isso aumenta o risco de sufocamento. A elevação deve ser feita colocando um travesseiro ou toalhas dobradas sob o colchão, elevando toda a cabeceira do berço.

Por quanto tempo meu filho precisará de tratamento?

Na maioria dos casos, o refluxo melhora espontaneamente até os 12 meses de idade, quando a criança começa a passar mais tempo na posição vertical e o esfíncter esofágico amadurece. O tratamento medicamentoso, quando necessário, geralmente é temporário.

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Referências