Dor de Garganta (Faringite): Diagnóstico, Sintomas e Tratamento com Medicamentos Gratuitos no SUS (Sistema Único de Saúde)
Saiba como o SUS trata a faringite, a diferença entre dor de garganta viral e bacteriana, o uso do Escore de Centor e a importância da Penicilina Benzatina para prevenir a Febre Reumática. Informações oficiais e acessíveis.
11/24/20256 min read


Dor de Garganta (Faringite): O Caminho Completo do Tratamento pelo SUS
A dor de garganta, cientificamente conhecida como faringite, é uma das queixas mais comuns nos consultórios médicos e nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) de todo o Brasil. Embora frequentemente seja vista como um incômodo passageiro, é fundamental entender suas causas e, principalmente, saber como o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece o diagnóstico e o tratamento adequado para evitar complicações. Este guia detalhado explora o que é a faringite, como diferenciar suas causas e qual o fluxo de atendimento completo dentro da rede pública de saúde.
O Que é Faringite e Por Que o Diagnóstico é Crucial
A faringite é, em essência, a inflamação da faringe, a estrutura localizada na parte posterior da garganta, logo atrás da boca e do nariz. Essa inflamação provoca a sensação de dor, irritação e, muitas vezes, dificuldade para engolir, um sintoma conhecido como odinofagia.
A grande maioria dos casos de faringite, cerca de 80%, tem origem viral. Isso significa que o agente causador é um vírus, como os responsáveis pelo resfriado comum ou pela gripe. Nesses casos, o quadro é autolimitado, ou seja, o próprio organismo se encarrega de combater a infecção em poucos dias, e o tratamento se concentra em aliviar os sintomas.
No entanto, uma parcela significativa dos casos é causada por bactérias, sendo a Streptococcus pyogenes (ou Estreptococo beta-hemolítico do grupo A - EBHGA) a mais relevante. A faringite bacteriana exige uma atenção especial e um tratamento específico com antibióticos. A razão para essa urgência não é apenas a cura da infecção em si, mas a prevenção de complicações graves e potencialmente incapacitantes, como a Febre Reumática e a Glomerulonefrite Pós-Estreptocócica.
Acesso ao SUS: O primeiro passo para qualquer paciente com dor de garganta é procurar a UBS mais próxima de sua residência. É na Atenção Primária que o profissional de saúde fará a avaliação inicial e determinará a conduta correta, garantindo que o tratamento seja iniciado o mais rápido possível.
Sintomas e a Diferença Entre Faringite Viral e Bacteriana
Saber diferenciar os sintomas é o primeiro passo para entender a gravidade do quadro e a necessidade de intervenção. O profissional de saúde no SUS utiliza um conjunto de sinais e sintomas para guiar o diagnóstico, mas o paciente também pode observar alguns indícios importantes.
Faringite Viral (Mais Comum)
A faringite viral geralmente se manifesta de forma mais branda e está frequentemente associada a outros sintomas típicos de infecções das vias aéreas superiores.
Dor de garganta: Leve a moderada.
Coriza: Nariz escorrendo.
Tosse: Geralmente presente.
Conjuntivite: Olhos vermelhos e lacrimejantes.
Febre: Se presente, costuma ser baixa.
Aparência da garganta: Vermelhidão discreta.
Neste cenário, o tratamento é focado no conforto do paciente enquanto o sistema imunológico trabalha.
Faringite Bacteriana (Requer Antibiótico)
A faringite bacteriana, causada pelo Estreptococo, tende a ser mais agressiva e apresenta sinais de alerta que indicam a necessidade de antibióticos.
Dor de garganta: Súbita e intensa, com grande dificuldade para engolir.
Febre: Alta, geralmente acima de 38°C.
Ausência de tosse: Este é um sinal clínico importante.
Linfonodos aumentados: Gânglios do pescoço inchados e dolorosos.
Exsudato nas amígdalas: Presença de pus ou placas brancas/amareladas nas amígdalas.
Dor de cabeça e dor abdominal: Mais comuns em crianças.
A presença desses sinais levanta uma forte suspeita de infecção bacteriana, e o profissional de saúde do SUS deve prosseguir com a investigação para confirmar a etiologia.
O Fluxo de Diagnóstico na Atenção Primária do SUS
O diagnóstico diferencial é a chave para o tratamento correto e seguro. O SUS utiliza protocolos clínicos baseados em evidências para evitar o uso desnecessário de antibióticos (que pode levar à resistência bacteriana) e, ao mesmo tempo, garantir que os casos de Estreptococo sejam tratados prontamente.
1. Avaliação Clínica e Escore de Centor Modificado
Ao chegar à UBS, o paciente será submetido a uma avaliação clínica completa. O médico ou enfermeiro irá inspecionar a garganta, palpar os gânglios do pescoço e questionar sobre a presença de tosse, febre e outros sintomas.
Muitos protocolos do SUS utilizam o Escore de Centor Modificado como ferramenta de triagem. Este escore atribui pontos a critérios clínicos específicos, como:
Ausência de tosse: 1 ponto
Inchaço e exsudato nas amígdalas: 1 ponto
Linfonodos cervicais anteriores aumentados e dolorosos: 1 ponto
Febre (temperatura > 38°C): 1 ponto
Idade (3 a 14 anos): 1 ponto
Idade (15 a 44 anos): 0 pontos
Idade (> 45 anos): -1 ponto
A pontuação total ajuda a classificar o risco do paciente ter faringite estreptocócica. Pacientes com pontuações mais altas (3 ou 4 pontos) têm maior probabilidade de infecção bacteriana e podem ser candidatos ao tratamento imediato ou à realização de testes confirmatórios.
2. Teste Rápido e Cultura de Orofaringe
Em algumas unidades de saúde, o Teste Rápido para Detecção de Antígenos Estreptocócicos (TRDA) pode estar disponível. Este teste é rápido e fornece um resultado em minutos, confirmando a presença da bactéria.
Quando o TRDA não está disponível ou o resultado é negativo, mas a suspeita clínica é alta, o médico pode solicitar a Cultura de Orofaringe. Embora demore mais (cerca de 24 a 48 horas para o resultado), é o padrão-ouro para confirmar a presença do Streptococcus pyogenes. O SUS garante a realização desses exames quando indicados, seguindo o fluxo de laboratórios de referência.
O Tratamento Oferecido pelo SUS: Medicamentos e Cuidados
Com o diagnóstico em mãos, o profissional de saúde do SUS definirá a melhor estratégia de tratamento, que se divide em duas abordagens principais: sintomática e antibiótica.
Tratamento Sintomático (Para Faringite Viral)
Como a faringite viral não responde a antibióticos, o foco é aliviar a dor e a febre. O SUS disponibiliza na Farmácia Básica os medicamentos essenciais para este fim:
Analgésicos e Antitérmicos: O Paracetamol e a Dipirona são os mais utilizados para reduzir a febre e a dor de garganta.
Anti-inflamatórios Não Esteroides (AINEs): O Ibuprofeno pode ser prescrito para reduzir a inflamação e a dor.
Além da medicação, o profissional de saúde orientará sobre medidas de suporte, como repouso, hidratação adequada e o uso de pastilhas ou sprays para a garganta (quando disponíveis e indicados).
Tratamento Antibiótico (Para Faringite Bacteriana)
Quando a faringite estreptocócica é confirmada ou fortemente suspeita, o tratamento com antibióticos é obrigatório para erradicar a bactéria e, crucialmente, prevenir a Febre Reumática. O SUS padroniza o tratamento com medicamentos de alta eficácia e segurança:
Penicilina Benzatina: É o fármaco de primeira escolha e o mais eficaz para o Streptococcus pyogenes. É administrada em dose única, por via intramuscular, garantindo a adesão completa ao tratamento e a erradicação da bactéria. A aplicação é realizada na própria UBS ou em centros de saúde.
Amoxicilina: Para pacientes que não podem receber a injeção de Penicilina Benzatina, a Amoxicilina é a alternativa oral, devendo ser tomada por 10 dias. O SUS fornece este medicamento gratuitamente.
Macrolídeos (Ex: Eritromicina, Azitromicina): São reservados para pacientes com alergia comprovada à Penicilina. O médico avaliará a necessidade e a disponibilidade desses medicamentos, que também são fornecidos pela rede pública.
Atenção: É fundamental que o paciente complete o ciclo de 10 dias de Amoxicilina, mesmo que os sintomas desapareçam antes. A interrupção precoce pode levar à recorrência da infecção e aumentar o risco de Febre Reumática.
Prevenção e Cuidados Adicionais no Contexto do SUS
A prevenção da faringite, especialmente a viral, passa por medidas simples de higiene que são constantemente promovidas pelo SUS em suas campanhas de saúde pública.
Higiene das Mãos: Lavar as mãos frequentemente com água e sabão, ou usar álcool em gel, é a forma mais eficaz de prevenir a transmissão de vírus e bactérias respiratórias.
Etiqueta Respiratória: Cobrir a boca e o nariz ao tossir ou espirrar, preferencialmente com o antebraço ou um lenço descartável, e evitar contato próximo com pessoas doentes.
Evitar Compartilhamento: Não compartilhar talheres, copos ou alimentos com pessoas que estejam com dor de garganta.
O SUS também atua na vigilância epidemiológica, monitorando a incidência de doenças estreptocócicas e garantindo que os protocolos de tratamento e prevenção estejam atualizados e acessíveis a toda a população. A educação em saúde, realizada nas UBS, é um pilar para que o cidadão entenda a importância de procurar ajuda médica e seguir o tratamento corretamente.
Em resumo, a dor de garganta é um sintoma que merece atenção. Ao procurar o SUS, o paciente tem acesso a um diagnóstico cuidadoso, que diferencia a causa viral da bacteriana, e a um tratamento eficaz, seja ele sintomático ou com antibióticos essenciais como a Penicilina Benzatina, garantindo a recuperação e, o mais importante, a proteção contra complicações graves.
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