Demência: diagnóstico e tratamento no SUS.
Saiba como identificar os sinais de demência, obter diagnóstico precoce e acessar tratamentos e acompanhamento gratuitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
10/6/20257 min read


Demência: Diagnóstico e Acompanhamento pelo SUS
A demência é uma síndrome caracterizada pelo declínio progressivo das funções cognitivas, afetando a memória, o raciocínio, a orientação, a compreensão, o cálculo, a capacidade de aprendizagem, a linguagem e o julgamento. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 55 milhões de pessoas vivem com demência em todo o mundo, com quase 10 milhões de novos casos a cada ano.
No Brasil, estima-se que mais de 1,7 milhão de pessoas vivam com algum tipo de demência, sendo a doença de Alzheimer a forma mais comum, responsável por 60% a 70% dos casos. O impacto dessa condição é significativo não apenas para os pacientes, mas também para suas famílias e cuidadores.
A boa notícia é que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece diagnóstico, tratamento e acompanhamento gratuitos para pessoas com demência. Em 2024, o Brasil instituiu a Política Nacional para Alzheimer e outras Demências, ampliando o acesso a informações sobre os primeiros sinais e permitindo um diagnóstico mais precoce e um melhor tratamento.
Neste artigo, você vai descobrir como identificar os sinais de demência, o passo a passo para conseguir o diagnóstico pelo SUS, quais tratamentos estão disponíveis gratuitamente e como acessar a rede de apoio para pacientes e familiares.
O que é Demência e Quais São os Tipos
A demência não é uma doença específica, mas um conjunto de sintomas que afetam a cognição, interferindo na capacidade da pessoa de realizar suas atividades diárias de forma independente.
Principais tipos de demência
Doença de Alzheimer: A forma mais comum de demência, caracterizada pelo acúmulo de proteínas beta-amiloide e tau no cérebro, levando à morte neuronal e atrofia cerebral
Demência vascular: Causada por problemas na circulação sanguínea cerebral, como pequenos AVCs (acidentes vasculares cerebrais)
Demência com corpos de Lewy: Caracterizada pelo acúmulo de proteínas alfa-sinucleína no cérebro, causando alucinações visuais, flutuações cognitivas e sintomas parkinsonianos
Demência frontotemporal: Afeta principalmente os lobos frontal e temporal do cérebro, causando alterações de comportamento e personalidade
Demência mista: Combinação de mais de um tipo de demência, geralmente Alzheimer e vascular
Demência associada à doença de Parkinson: Desenvolve-se em estágios avançados da doença de Parkinson
Existem também causas potencialmente reversíveis de demência, como deficiências vitamínicas, efeitos colaterais de medicamentos, infecções, distúrbios metabólicos e tumores cerebrais, que podem ser tratadas se diagnosticadas precocemente.
Sinais e Sintomas da Demência: Como Identificar
Os sintomas da demência geralmente se desenvolvem gradualmente e pioram ao longo do tempo. É importante estar atento aos seguintes sinais:
Alterações cognitivas
Problemas de memória: Especialmente para eventos recentes
Dificuldade para encontrar palavras: Pausas frequentes durante a fala, substituição de palavras
Desorientação: Confusão sobre tempo e lugar, perder-se em ambientes conhecidos
Dificuldade para resolver problemas: Incapacidade de lidar com números ou seguir um plano
Raciocínio e julgamento prejudicados: Tomada de decisões inadequadas
Dificuldade com tarefas complexas: Como administrar finanças ou seguir receitas
Alterações comportamentais e psicológicas
Mudanças de personalidade: Pessoa torna-se mais irritável, desconfiada ou apática
Alterações de humor: Depressão, ansiedade, agitação
Apatia: Perda de interesse em atividades antes prazerosas
Isolamento social: Afastamento de amigos e familiares
Comportamentos inadequados: Desinibição, impulsividade
Alucinações e delírios: Ver coisas que não existem ou ter crenças falsas
Dificuldades nas atividades diárias
Problemas para realizar tarefas familiares: Como preparar refeições ou fazer compras
Dificuldade com autocuidado: Higiene pessoal, vestir-se adequadamente
Perda de objetos: Colocar itens em lugares incomuns
Repetição: Fazer as mesmas perguntas ou contar as mesmas histórias
É importante ressaltar que o envelhecimento normal também pode trazer algumas dificuldades de memória, mas quando esses problemas começam a interferir na vida diária, é fundamental buscar avaliação médica.
Diagnóstico da Demência pelo SUS
O diagnóstico precoce da demência é fundamental para garantir o tratamento adequado e melhorar a qualidade de vida do paciente. No SUS, o processo diagnóstico segue um fluxo organizado e multidisciplinar.
Onde buscar atendimento inicial
O primeiro passo para o diagnóstico de demência pelo SUS é procurar a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima da residência do paciente. Na UBS, o médico de família ou clínico geral realizará uma avaliação inicial e, se necessário, encaminhará para serviços especializados.
Processo de avaliação diagnóstica
O diagnóstico da demência é clínico e envolve várias etapas:
Anamnese detalhada: Entrevista com o paciente e um informante (familiar ou cuidador) sobre o início e a evolução dos sintomas
Avaliação cognitiva: Aplicação de testes de rastreio como o Mini Exame do Estado Mental (MEEM), Teste do Relógio, entre outros
Avaliação funcional: Verificação do impacto dos sintomas nas atividades diárias
Exame físico e neurológico: Para identificar sinais neurológicos e descartar outras condições
Exames complementares: Exames de sangue, neuroimagem e outros, conforme necessário
Exames disponíveis pelo SUS
O SUS oferece diversos exames que podem auxiliar no diagnóstico da demência:
Exames laboratoriais: Hemograma completo, função tireoidiana, vitamina B12, ácido fólico, função hepática e renal, glicemia, entre outros
Exames de neuroimagem:
Tomografia computadorizada (TC) de crânio
Ressonância magnética (RM) de crânio
Outros exames: Eletroencefalograma (EEG), punção lombar (em casos específicos)
É importante ressaltar que nem todos os exames são necessários para todos os pacientes. O médico solicitará os exames de acordo com a suspeita clínica e as características de cada caso.
Critérios para diagnóstico
De acordo com o protocolo do Ministério da Saúde, para o diagnóstico de demência é necessário:
Declínio cognitivo em relação ao nível anterior de funcionamento
Comprometimento de pelo menos dois domínios cognitivos (memória, linguagem, funções executivas, etc.)
Impacto nas atividades de vida diária
Ausência de delirium (confusão mental aguda) ou transtorno psiquiátrico maior que explique os sintomas
Fluxo de Atendimento no SUS
O cuidado às pessoas com demência no SUS segue um fluxo que envolve diferentes níveis de atenção à saúde:
Atenção Primária
A Unidade Básica de Saúde (UBS) é a porta de entrada para o sistema e responsável por:
Identificação de casos suspeitos
Avaliação inicial
Encaminhamento para especialistas quando necessário
Acompanhamento contínuo
Suporte às famílias e cuidadores
Ações de prevenção e promoção da saúde
Atenção Especializada
Quando necessário, o paciente é encaminhado para serviços especializados, como:
Ambulatórios de Neurologia ou Geriatria: Para confirmação diagnóstica e definição do plano terapêutico
Centros de Referência em Assistência à Saúde do Idoso (CREASI): Oferecem atendimento multidisciplinar
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS): Para manejo de sintomas neuropsiquiátricos graves
Fases do fluxo de cuidado
O Ministério da Saúde estabelece cinco fases no fluxo de cuidado para pessoas com demência:
Prevenir bem: Ações de prevenção de fatores de risco
Diagnosticar bem: Identificação precoce e diagnóstico correto
Cuidar bem: Tratamento adequado e suporte contínuo
Viver bem: Promoção de qualidade de vida
Morrer bem: Cuidados paliativos quando necessário
Tratamento da Demência pelo SUS
O tratamento da demência é multidisciplinar e visa controlar os sintomas, retardar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida do paciente e seus cuidadores.
Tratamento medicamentoso
O SUS disponibiliza gratuitamente medicamentos para o tratamento da demência:
Para sintomas cognitivos:
Inibidores da acetilcolinesterase:
Donepezila: Comprimidos de 5mg e 10mg
Rivastigmina: Cápsulas de 1,5mg, 3mg, 4,5mg e 6mg, e solução oral
Galantamina: Cápsulas de liberação prolongada de 8mg, 16mg e 24mg
Antagonista do receptor NMDA:
Memantina: Comprimidos de 10mg
Para sintomas comportamentais e psicológicos:
Antipsicóticos: Em casos selecionados e com monitoramento rigoroso
Antidepressivos: Para sintomas depressivos associados
Estabilizadores do humor: Para agitação e agressividade
Intervenções não medicamentosas
Além dos medicamentos, o SUS oferece diversas intervenções não medicamentosas:
Estimulação cognitiva: Atividades que estimulam a memória, atenção e outras funções cognitivas
Terapia ocupacional: Adaptações para manter a independência nas atividades diárias
Fisioterapia: Para manter a mobilidade e prevenir quedas
Fonoaudiologia: Para dificuldades de comunicação e deglutição
Musicoterapia: Utiliza a música para estimular memórias e reduzir agitação
Grupos de apoio: Para pacientes e familiares
Como obter os medicamentos pelo SUS
Para receber os medicamentos gratuitamente, é necessário:
Consulta com especialista: Neurologista, geriatra ou psiquiatra
Receita médica: Com o nome do medicamento, dosagem e posologia
Laudo para Solicitação de Medicamento (LME): Preenchido pelo médico
Documentos necessários:
Cartão do SUS
Documento de identidade
Comprovante de residência
Receita médica em duas vias
LME preenchido e assinado pelo médico
Relatório médico (em alguns casos)
Local de retirada: Farmácias do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (CEAF)
Os medicamentos são dispensados mensalmente, e a receita deve ser renovada a cada três meses.
Como Acessar o Diagnóstico e Tratamento pelo SUS: Passo a Passo
Se você suspeita que um familiar está desenvolvendo demência, siga estes passos para acessar o diagnóstico e tratamento pelo SUS:
1. Procure a Unidade Básica de Saúde (UBS)
Dirija-se à UBS mais próxima da residência do paciente, levando:
Cartão do SUS
Documento de identidade
Comprovante de residência
Lista de medicamentos em uso (se houver)
Exames anteriores (se disponíveis)
2. Consulta com médico da Atenção Primária
Na consulta:
Descreva detalhadamente os sintomas observados
Informe quando começaram e como evoluíram
Mencione o impacto nas atividades diárias
Relate histórico médico e familiar
3. Avaliação inicial e encaminhamento
O médico da UBS realizará uma avaliação inicial e, se necessário, encaminhará o paciente para um especialista (neurologista, geriatra ou psiquiatra) através do sistema de regulação do SUS.
4. Consulta especializada
Na consulta com o especialista:
Serão realizados testes cognitivos mais detalhados
Poderão ser solicitados exames complementares
O diagnóstico será confirmado ou descartado
Será elaborado um plano terapêutico individualizado
5. Exames complementares
Realize os exames solicitados nas unidades do SUS ou laboratórios conveniados, conforme orientação médica.
6. Retorno ao especialista
Com os resultados dos exames em mãos, retorne ao especialista para:
Confirmação do diagnóstico
Definição do tratamento
Prescrição de medicamentos
Encaminhamento para terapias complementares
7. Acesso aos medicamentos
Com a receita e o LME em mãos, dirija-se à farmácia do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica para cadastro e retirada (Content truncated due to size limit. Use line ranges to read in chunks)
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