Cardiopatia Congênita: Como Conseguir Cirurgia para Gratuitamente pelo SUS

Guia completo sobre cardiopatias congênitas, diagnóstico precoce, tratamento cirúrgico e como acessar os serviços especializados do SUS para crianças com problemas cardíacos.

6/15/20258 min read

Cardiopatias Congênitas: Tratamento Cirúrgico pelo SUS

As cardiopatias congênitas são malformações na estrutura ou na função do coração que surgem durante o desenvolvimento fetal. Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 30 mil crianças nascem com algum tipo de cardiopatia congênita por ano no Brasil, e aproximadamente 40% delas (cerca de 12 mil) necessitarão de cirurgia ainda no primeiro ano de vida.

Essa condição está entre as malformações que mais causam mortes na infância e é a terceira causa de óbito no período neonatal (primeiros 28 dias após o parto). Por isso, o diagnóstico precoce e o acesso ao tratamento adequado são fundamentais para garantir a sobrevivência e qualidade de vida dessas crianças.

Neste artigo, você vai descobrir como funciona o tratamento cirúrgico para cardiopatias congênitas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), quais são os centros de referência, os critérios para cirurgia e o passo a passo para acessar esse serviço gratuitamente. Também explicaremos seus direitos garantidos por lei e como preparar seu filho para o procedimento.

O que são Cardiopatias Congênitas?

As cardiopatias congênitas são um conjunto de malformações na estrutura ou na função do coração que surgem durante o desenvolvimento fetal. Essas alterações podem afetar as paredes do coração, as válvulas cardíacas ou os vasos sanguíneos próximos ao coração.

A cada mil bebês nascidos, aproximadamente 10 apresentam algum tipo de cardiopatia congênita. Essas condições podem ser classificadas em:

  • Cardiopatias leves: Podem evoluir para resolução espontânea, como ocorre em alguns casos de comunicação interventricular (CIV)

  • Cardiopatias moderadas: Necessitam de tratamento medicamentoso e acompanhamento regular

  • Cardiopatias graves: Requerem intervenção cirúrgica ou procedimentos específicos, como as cardiopatias cianóticas (que causam coloração azulada na pele)

Principais Tipos de Cardiopatias Congênitas

Existem diversos tipos de cardiopatias congênitas, entre os mais comuns estão:

  • Comunicação Interventricular (CIV): Abertura na parede que separa os ventrículos do coração

  • Comunicação Interatrial (CIA): Abertura na parede que separa os átrios do coração

  • Persistência do Canal Arterial (PCA): Quando um vaso que deve se fechar após o nascimento permanece aberto

  • Tetralogia de Fallot: Combinação de quatro defeitos cardíacos que resultam em sangue pouco oxigenado bombeado para o corpo

  • Transposição das Grandes Artérias: As duas principais artérias que saem do coração estão conectadas ao contrário

  • Coarctação da Aorta: Estreitamento da artéria aorta

Diagnóstico das Cardiopatias Congênitas

O diagnóstico das cardiopatias congênitas pode ocorrer em diferentes momentos:

Diagnóstico Pré-natal

Durante a gestação, é possível identificar algumas cardiopatias através do ultrassom morfológico e do ecocardiograma fetal, geralmente realizados entre a 18ª e 24ª semana de gestação. O SUS oferece esses exames para gestantes de alto risco.

Teste do Coraçãozinho

Após o nascimento, todos os bebês devem realizar o Teste do Coraçãozinho (oximetria de pulso), que é obrigatório nas maternidades brasileiras. Este teste simples e indolor mede os níveis de oxigênio no sangue e pode detectar cardiopatias graves.

Sinais e Sintomas

Alguns sinais que podem indicar cardiopatia congênita em bebês e crianças incluem:

  • Coloração azulada da pele, lábios e unhas (cianose)

  • Dificuldade para respirar ou respiração acelerada

  • Cansaço excessivo, especialmente durante a amamentação

  • Baixo ganho de peso

  • Sudorese excessiva

  • Inchaço nas pernas, abdômen ou ao redor dos olhos

  • Sopro cardíaco detectado pelo pediatra

Se você observar qualquer um desses sinais em seu filho, procure atendimento médico imediatamente.

Tratamento Cirúrgico pelo SUS

O tratamento das cardiopatias congênitas varia conforme o tipo e a gravidade da malformação. Em muitos casos, a cirurgia cardíaca é necessária para corrigir o defeito e permitir que o coração funcione adequadamente.

Tipos de Intervenções Cirúrgicas

O SUS oferece diferentes tipos de procedimentos para o tratamento das cardiopatias congênitas:

  • Cirurgia cardíaca convencional: Procedimento aberto que corrige diretamente a malformação

  • Cateterismo intervencionista: Procedimento menos invasivo, realizado através da inserção de cateteres pelos vasos sanguíneos

  • Cirurgias paliativas: Em casos complexos, podem ser necessárias várias cirurgias em etapas

  • Transplante cardíaco: Em casos extremos, quando não há possibilidade de correção do defeito

Programa Renasce: Ampliando o Acesso ao Tratamento

Em 2021, o Ministério da Saúde lançou o Programa Renasce (Rede Nacional de Serviços de Cardiologia Pediátrica), com o objetivo de ampliar o acesso ao diagnóstico e tratamento das cardiopatias congênitas no SUS.

O programa prevê:

  • Ampliação da rede de atendimento especializado

  • Qualificação dos profissionais de saúde

  • Aumento do número de cirurgias cardíacas pediátricas

  • Redução do tempo de espera para procedimentos

  • Melhoria no acompanhamento pós-operatório

Centros de Referência

O SUS conta com centros de referência em cardiologia pediátrica distribuídos pelo país. Alguns dos principais são:

  • Instituto do Coração (InCor) - São Paulo/SP

  • Instituto Nacional de Cardiologia (INC) - Rio de Janeiro/RJ

  • Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP) - Recife/PE

  • Hospital da Criança de Brasília José Alencar - Brasília/DF

  • Hospital Pequeno Príncipe - Curitiba/PR

  • Hospital da Criança Santo Antônio - Porto Alegre/RS

Além desses, existem diversos hospitais habilitados para cirurgia cardíaca pediátrica em todas as regiões do país.

Como Conseguir Cirurgia Cardíaca pelo SUS: Passo a Passo

Se seu filho foi diagnosticado com cardiopatia congênita e necessita de cirurgia, siga estes passos para acessar o tratamento pelo SUS:

1. Consulta na Unidade Básica de Saúde (UBS)

O primeiro passo é procurar a UBS mais próxima da sua residência. Leve a criança para uma consulta com o pediatra ou médico da família, que fará uma avaliação inicial e, se necessário, encaminhará para um cardiologista pediátrico.

2. Consulta com Cardiologista Pediátrico

O cardiologista pediátrico realizará exames específicos, como:

  • Ecocardiograma

  • Eletrocardiograma

  • Radiografia de tórax

  • Outros exames complementares, se necessário

Com base nos resultados, o especialista confirmará a necessidade de cirurgia e fará o encaminhamento para um centro de referência em cirurgia cardíaca pediátrica.

3. Documentos Necessários

Para o encaminhamento, você precisará de:

  • Cartão do SUS da criança

  • Documento de identidade da criança (certidão de nascimento ou RG)

  • Documento de identidade do responsável

  • Comprovante de residência

  • Relatórios médicos e resultados de exames

  • Formulário de referência e contrarreferência preenchido pelo médico

4. Regulação e Agendamento

O encaminhamento será inserido no sistema de regulação do SUS. Dependendo da urgência do caso, a criança poderá:

  • Ser encaminhada imediatamente para um centro de referência, em casos graves

  • Entrar na fila de espera para cirurgia eletiva, com prioridade conforme a gravidade

É importante manter seus dados de contato atualizados na UBS para que você possa ser localizado quando a cirurgia for agendada.

5. Avaliação Pré-operatória

Antes da cirurgia, a criança passará por uma avaliação pré-operatória completa, que pode incluir:

  • Novos exames de imagem

  • Exames laboratoriais

  • Avaliação com anestesista

  • Consultas com outros especialistas, se necessário

6. Internação e Cirurgia

Na data agendada, a criança será internada para a realização da cirurgia. O tempo de internação varia conforme o procedimento e pode incluir:

  • Período em UTI pediátrica ou neonatal

  • Recuperação em enfermaria

7. Acompanhamento Pós-operatório

Após a alta hospitalar, a criança continuará sendo acompanhada por:

  • Cardiologista pediátrico

  • Equipe multidisciplinar (fisioterapeuta, nutricionista, psicólogo, etc.)

  • Pediatra na UBS

Tempo de Espera e Prioridades

O tempo de espera para cirurgia cardíaca pediátrica pelo SUS varia conforme:

  • A gravidade do caso

  • A região do país

  • A disponibilidade de vagas nos centros especializados

Casos urgentes e emergenciais têm prioridade absoluta. Para cardiopatias graves em recém-nascidos, o atendimento deve ser imediato.

Para cirurgias eletivas, o tempo médio de espera pode variar de 3 meses a 1 ano, dependendo da região e da complexidade do caso.

Preparação para a Cirurgia

O que Levar para o Hospital

Quando for internada para a cirurgia, a criança precisará de:

  • Documentos pessoais e do responsável

  • Cartão do SUS

  • Exames e relatórios médicos

  • Roupas confortáveis

  • Itens de higiene pessoal

  • Brinquedos ou objetos de apego (para crianças maiores)

Direito a Acompanhante

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, toda criança internada tem direito a um acompanhante em tempo integral. O hospital deve oferecer condições para a permanência do acompanhante, como cadeira reclinável ou poltrona.

Recuperação e Cuidados Pós-operatórios

A recuperação após uma cirurgia cardíaca varia conforme o tipo de procedimento e a condição geral da criança. Em geral, envolve:

Fase Hospitalar

  • UTI: 2 a 7 dias, dependendo da complexidade da cirurgia

  • Enfermaria: 3 a 14 dias adicionais

Cuidados em Casa

Após a alta hospitalar, alguns cuidados são necessários:

  • Medicações: Seguir rigorosamente a prescrição médica

  • Cuidados com a incisão cirúrgica: Manter limpa e seca

  • Alimentação: Seguir as orientações nutricionais

  • Atividade física: Respeitar as limitações temporárias

  • Sinais de alerta: Ficar atento a febre, vermelhidão na incisão, dificuldade respiratória ou alterações no comportamento

Retorno às Consultas

É fundamental comparecer a todas as consultas de acompanhamento agendadas. O calendário típico inclui:

  • Primeira consulta: 7 a 14 dias após a alta

  • Consultas subsequentes: mensais ou trimestrais, conforme a evolução

  • Exames periódicos: ecocardiograma e outros, conforme necessidade

Possíveis Complicações e Quando Buscar Ajuda

Após a cirurgia, fique atento aos seguintes sinais que podem indicar complicações:

  • Febre acima de 38°C

  • Vermelhidão, inchaço ou secreção na incisão cirúrgica

  • Dificuldade para respirar ou respiração acelerada

  • Coloração azulada nos lábios ou pele

  • Batimentos cardíacos acelerados ou irregulares

  • Dor no peito

  • Perda de apetite ou recusa alimentar

  • Irritabilidade excessiva ou sonolência anormal

Se observar qualquer um desses sinais, procure atendimento médico imediatamente.

Direitos do Paciente com Cardiopatia Congênita

Crianças com cardiopatia congênita têm direitos garantidos por lei, incluindo:

Benefício de Prestação Continuada (BPC)

Famílias de baixa renda com crianças com cardiopatias graves podem solicitar o BPC, um benefício mensal de um salário mínimo. Para isso, é necessário:

  • Comprovar renda familiar per capita inferior a 1/4 do salário mínimo

  • Apresentar laudo médico detalhando a condição

  • Passar por avaliação médica e social do INSS

Tratamento Fora de Domicílio (TFD)

Se não houver tratamento adequado na cidade de residência, a família tem direito ao TFD, que pode incluir:

  • Transporte para o local de tratamento

  • Ajuda de custo para alimentação e hospedagem

  • Passagens para acompanhante

Educação Inclusiva

Crianças com cardiopatias têm direito a:

  • Matrícula em escola regular

  • Adaptações necessárias para suas limitações

  • Atendimento educacional especializado, quando necessário

Prioridade no Atendimento

Pacientes com cardiopatias graves têm direito a atendimento prioritário em serviços públicos e privados.

O que Fazer em Caso de Demora Excessiva

Se você enfrentar demora excessiva para conseguir a cirurgia ou tratamento pelo SUS, pode recorrer a:

  • Ouvidoria do SUS: Ligue para o número 136

  • Secretaria Municipal ou Estadual de Saúde: Procure o setor de regulação

  • Defensoria Pública: Busque assistência jurídica gratuita

  • Ministério Público: Faça uma denúncia formal

  • Associações de apoio a pacientes com cardiopatias: Busque orientação e suporte

Perguntas Frequentes

Todas as cardiopatias congênitas precisam de cirurgia?

Não. Algumas cardiopatias leves podem se resolver espontaneamente ou ser tratadas apenas com medicamentos. A necessidade de cirurgia depende do tipo e da gravidade da malformação.

Qual a taxa de sucesso das cirurgias cardíacas pediátricas?

As taxas de sucesso variam conforme o tipo de cardiopatia, mas em geral são bastante elevadas, entre 85% e 95% para a maioria dos procedimentos realizados em centros especializados.

Meu filho precisará de mais de uma cirurgia?

Em alguns casos, especialmente em cardiopatias complexas, podem ser necessárias múltiplas cirurgias ao longo da vida. O cardiologista pediátrico poderá informar sobre o plano de tratamento específico para cada caso.

Após a cirurgia, meu filho poderá levar uma vida normal?

A maioria das crianças que passa por cirurgia cardíaca consegue levar uma vida normal ou próxima do normal. Algumas podem ter certas limitações ou necessitar de cuidados especiais, mas com acompanhamento adequado, a qualidade de vida tende a ser muito boa.

O SUS cobre todos os custos do tratamento?

Sim, o SUS cobre integralmente os custos relacionados ao diagnóstico, cirurgia, internação, medicamentos durante a hospitalização e acompanhamento pós-operatório.

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Referências