Ansiedade: Terapias e Medicamentos Disponíveis no SUS

A ansiedade é uma resposta natural do corpo a situações de estresse ou perigo. No entanto, quando essa resposta se torna excessiva, persistente e começa a interferir significativamente na vida diária, ela se configura como um transtorno mental que exige atenção e tratamento. O Brasil, infelizmente, lidera o ranking mundial em número de pessoas com transtornos de ansiedade, tornando o acesso ao tratamento uma questão crucial de saúde pública. O Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da sua Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), oferece um caminho completo e gratuito para o diagnóstico, acompanhamento e tratamento da ansiedade, que inclui desde terapias até a distribuição de medicamentos essenciais.

Este guia detalhado visa orientar o cidadão sobre como acessar o tratamento para ansiedade no SUS, destacando as abordagens terapêuticas e os medicamentos disponíveis na rede pública.

O Ponto de Partida: A Atenção Primária à Saúde (APS)

O tratamento para a ansiedade no SUS começa, idealmente, na Atenção Primária à Saúde (APS), ou seja, nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). A equipe de saúde da família (médico, enfermeiro e agentes comunitários) é a porta de entrada e o ponto central para o manejo da maioria dos casos.

Detecção e Manejo Inicial

A APS tem a responsabilidade de detectar precocemente o sofrimento psíquico e iniciar o manejo adequado. O tratamento é sempre centrado no paciente, considerando sua individualidade, o ambiente sociocultural e a gravidade dos sintomas.

• Casos Leves: Para quadros leves de ansiedade, o foco é em intervenções não farmacológicas, como a psicoeducação, que consiste em explicar ao paciente o que é a ansiedade, como ela se manifesta e como o tratamento funciona. A orientação para a prática de exercícios físicos e a adoção de hábitos saudáveis também são pilares.

• Casos Moderados a Graves: Quando há um comprometimento funcional significativo (dificuldade em trabalhar, estudar ou manter relações sociais), o tratamento se torna mais robusto, combinando terapias estruturadas e, se necessário, o uso de psicofármacos.

As Terapias Oferecidas pelo SUS

O tratamento da ansiedade não se resume apenas a medicamentos. As psicoterapias são consideradas a primeira linha de tratamento para muitos transtornos de ansiedade e são acessíveis pelo SUS.

Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é a modalidade de psicoterapia mais recomendada e com maior evidência científica para o tratamento da ansiedade. Ela foca na identificação e modificação de padrões de pensamento e comportamento disfuncionais que mantêm o ciclo da ansiedade.

• Acesso na RAPS: O acesso à TCC e a outras psicoterapias é feito principalmente através dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e, em alguns municípios, por meio de psicólogos vinculados aos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) ou equipes multiprofissionais (eMulti) nas UBS.

Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS)

O SUS reconhece o valor das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) no manejo da ansiedade e do estresse. Essas práticas podem ser oferecidas nas UBS e nos CAPS como um complemento ao tratamento convencional.

• Exemplos de PICS: Yoga, Meditação, Acupuntura, Auriculoterapia e Fitoterapia são algumas das práticas que podem auxiliar na redução dos sintomas de ansiedade, promovendo o relaxamento e o bem-estar.

O Tratamento Farmacológico: Medicamentos Gratuitos

Para casos de ansiedade moderada a grave, o tratamento farmacológico se torna necessário. O SUS, por meio da Assistência Farmacêutica, garante a distribuição gratuita de medicamentos essenciais para o controle dos transtornos de ansiedade.

Medicamentos de Primeira Linha: Antidepressivos

Os medicamentos de primeira linha para o tratamento da ansiedade são, ironicamente, os antidepressivos. Eles agem regulando neurotransmissores como a serotonina, que estão desregulados nos transtornos de ansiedade.

• ISRS (Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina): São a classe mais utilizada e segura. O SUS disponibiliza gratuitamente medicamentos como a Fluoxetina e a Sertralina na Farmácia Básica das UBS. Outros, como o Escitalopram, podem ser encontrados em programas estaduais ou municipais específicos.

• IRSN (Inibidores da Recaptação de Serotonina e Noradrenalina): Medicamentos como a Venlafaxina também são eficazes e estão disponíveis na rede pública, dependendo da lista de medicamentos essenciais do município.

Medicamentos de Segunda Linha: Ansiolíticos (Benzodiazepínicos)

Os Benzodiazepínicos, popularmente conhecidos como ansiolíticos (como o Clonazepam e o Diazepam), são eficazes para o alívio rápido dos sintomas agudos da ansiedade. No entanto, o SUS preconiza o uso cauteloso e por tempo limitado.

• Risco de Dependência: Devido ao alto risco de dependência física e psicológica, esses medicamentos devem ser usados apenas para o controle de crises agudas e por um período curto, enquanto os antidepressivos (que demoram semanas para fazer efeito) começam a agir.

• Disponibilidade: Estão disponíveis gratuitamente na Farmácia Básica, mas sua prescrição é rigorosamente controlada pelo médico.

O Fluxo de Atendimento na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)

A RAPS é a rede de serviços do SUS dedicada ao cuidado em saúde mental. Entender o fluxo de atendimento é fundamental para garantir a continuidade do tratamento.

1. Atenção Primária (UBS)

Como mencionado, a UBS é o primeiro ponto de contato. O médico da família ou o profissional de saúde mental da equipe fará o diagnóstico e iniciará o tratamento. Se o caso for complexo ou não responder ao tratamento inicial, o paciente será encaminhado.

2. Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)

Os CAPS são os serviços estratégicos da RAPS, destinados a pessoas com transtornos mentais graves e persistentes. Eles oferecem um cuidado intensivo, semi-intensivo ou não intensivo, com uma equipe multidisciplinar (psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais).

• Função do CAPS: Oferecer acompanhamento psicossocial, oficinas terapêuticas e, em muitos casos, a psicoterapia de grupo ou individual. O CAPS atua como um substituto ao modelo manicomial, promovendo a reinserção social.

3. Ambulatórios de Saúde Mental

Em alguns municípios, existem ambulatórios especializados que oferecem consultas com psiquiatras e psicólogos para casos que não exigem a intensidade do CAPS, mas que precisam de acompanhamento especializado.

4. Urgência e Emergência

Em situações de crise aguda de ansiedade, ideação suicida ou surto psicótico, o paciente deve ser atendido em qualquer ponto da RAPS, incluindo:

• UPA (Unidade de Pronto Atendimento)

• Pronto-Socorro Hospitalar

• CAPS III (que funcionam 24 horas)

A Importância do Acompanhamento Longitudinal

O tratamento da ansiedade é um processo contínuo. A coordenação do cuidado, que é a responsabilidade da APS, garante que o paciente não se perca entre os diferentes serviços da RAPS.

• Seguimento: O acompanhamento periódico é essencial para monitorar a eficácia dos medicamentos, ajustar as doses e garantir a adesão à terapia.

• Duração do Tratamento: O tratamento farmacológico para ansiedade geralmente dura de 6 a 12 meses após a remissão dos sintomas, para evitar recaídas. A decisão de desmame deve ser sempre feita pelo médico.

O SUS, com sua estrutura de rede, busca oferecer um cuidado humanizado e integral, reconhecendo a saúde mental como parte essencial da saúde geral do indivíduo. A chave para o sucesso é a busca ativa por ajuda na UBS e a adesão ao plano terapêutico estabelecido pela equipe de saúde.

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Referências

Planejamento terapêutico - Transtornos de Ansiedade no adulto - Linhas de Cuidado/MSCadernos de Atenção Básica (n° 34): Saúde Mental - Ministério da SaúdeSaúde Mental - Ministério da SaúdePrograma Farmácia Popular do Brasil - Ministério da Saúde